PF aposta em 'big brother' para pegar líder de barras argentino em Brasília
Aiuri Rebello
Do UOL, em Brasília
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Reprodução/Arquivo Pessoal
Bebote Álvarez se vestiu de suíço, enganou autoridades e ainda posou tirando fotos
A Polícia Federal diz que aguarda "ansiosamente" a chegada de Pablo "Bebote" Alvarez a Brasília, onde é esperado para acompanhar a partida entre a seleção argentina e a belga pelas quartas da Copa neste sábado (5) no estádio Mané Garrincha, às 13h. "Bebote" é líder da torcida organizada do clube argentino Indepiendente e das HUA (Hinchadas Unidas Argentinas, que une organizadas para torcer pela seleção), que é considerado um dos barras bravas -- como são conhecidos os torcedores de organizadas do pais vizinho famosos por casos de violência contra outros torcidas, dentro e fora de estádios -- mais perigosos da Argentina.
O barra estava oficialmente proibido de entrar no Brasil durante a Copa -- seu nome consta em uma lista com cerca de 2.000 nomes de barras bravas compartilhada pela PF argentina com a brasileira -- mas conseguiu burlar a fiscalização na fronteira do Rio Grande do Sul e está no país desde a primeira fase do Mundial. "Bebote" já foi a pelo menos dois jogos da Argentina -- a partida contra a Nigéria no Beira-Rio, em Porto Alegre, pela primeira fase do Mundial no dia 25, e a sofrida classificação por um a zero contra a Suíça nas oitavas, no dia 1, no Itaquerão, em São Paulo.
Mais que isso, ele tira sarro das polícias brasileira e argentina nas redes sociais. "Agradeço aos que me confiaram os ingressos para o jogo de hoje. Conseguimos essas entradas para celebrar: Bebote 2 x 0 Polícia Federal Argentina", comemorou ele por meio de uma rede social após a vitória contra a Suíça. Na mesma ocasião, postou uma foto "fantasiado de suíço", que foi como conseguiu entrar no Itaquerão sem ser notado.
"Estamos esperando ele ansiosamente com uma recepção especial aqui em Brasília", diz o delegado da PF Luiz Eduardo Navajas Pereira, coordenador da Interpol no Brasil e coordenador-adjunto do CCPI (Centro de Cooperação Policial Internacional) da Copa. Para tentar lograr êxito em localizá-lo, a PF contra com as 567 câmeras de vigilância instaladas no estádio e seu entorno imediato, além de outras cerca de 300 espalhadas espalhadas por pontos estratégicos do Plano Piloto, aeroporto e rodovias de acesso à capital federal. As imagens são centralizadas no CICCR (Centro Integrado de Controle e Comando Regional) da Copa -- que reúne representantes e informações de todos os órgãos públicos de segurança.
"Ele diz que está dois a zero para ele. Muito bem, queremos reverter esse placar", afirma o delegado, que confirma que o barra argentino está no Brasil e foi mesmo a duas partidas do Mundial. "A provocação é verdadeira, ele usou ingressos de outras pessoas. O Bebote tem uma rede de apoio muito ampla aqui no Brasil". Agentes da PF reforçam a vigilância nos aeroportos e a PRF (Polícia Rodoviária Federal) também reforçaram a vigilância nas estradas.
A PF identificou que além de "Bebote", outros 10 líderes barras bravas argentinos proibidos de entrar no Brasil durante a Copa estão em território nacional para o Mundial. Foi difundida uma lista entre as policiais dos estados-sede com os nomes e fotos dos argentinos, que entraram ilegalmente no Brasil. Alvaréz estaria viajando com mais dois barras desta lista.
Segundo o comissário Pablo Alvarez, coordenador da Interpol na Polícia Federal argentina, "Bebote" cruzou a fronteira em Colón, na Argentina, para Paysandu, no Uruguai. De lá, atravessou o pais de carro e entrou no Brasil pela fronteira de Santana do Livramento e Rivera -- não há controle fronteiriço, as duas cidades são geograficamente uma só.
De acordo com o coordenador da Interpol no Brasil, em Porto Alegre "Bebote" foi recebido por amigos e passou a viajar em um carro de placa brasileira. Já passou por São Paulo e está a caminho da capital federal. "Não sabemos em que carro ou quando ele vai chegar, mas é certo que ele vem", diz o delegado da PF brasileira.
A geografia de Brasília e principalmente nos arredores do estádio Mané Garrincha favorece o trabalho de "encontrar uma agulha no palheiro" da polícia, com áreas amplas, descampadas e bem monitoradas. No dia do jogo, 3.500 PMs farão a segurança no entorno do estádio e outros 1.500 na Fan Fest, em Taguatinga.
O líder barra brava não é procurado por nenhum crime aqui ou Argentina, apenas por entrada ilegal no Brasil. Desta forma, se for localizado será detido, liberado e terá um prazo de 72 horas para deixar o país espontaneamente. Caso não cumpra a ordem, aí será considerado foragido, poderá ser preso e deportado.