Representante da geração perdida, Yepes está pronto para encarar o Brasil
Luis Augusto Símon
Do UOL, em São Paulo
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AFP
Yepes vibra com vitória contra o Uruguai: capitão colombiano tem o Brasil pela frente
Um capitão de perfil discreto, que joga e não grita. Um homem em busca de sua obsessão. Mario Alberto Yepes é o único sobrevivente da geração perdida da Colômbia que nunca conseguiu ir a um Mundial.
A vítima resgatada de um período ruim do futebol colombiano, marcado por 16 anos de ausência em Copas do Mundo. Somente agora, com 102 partidas pela seleção – Valderrama, com 111, é o único que o supera – ele pode, após três fracassos em eliminatórias, enfim viver seu primeiro Mundial. Provavelmente o último. Tem 38 anos.
Quando, nas eliminatórias, a Colômbia empatou por 3 a 3 com o Chile e garantiu a vaga, lembrou-se de velhos companheiros. "Tenho certeza que Ramiro Córdoba, Migual Calero, Juan Pablo Angel, Freddy Grisales, Gerardo Bedoya e Fabián Vargas estão felizes que eu possa representá-los". No jogo seguinte, fez dois gols contra o Paraguai. São seis pela seleção.
Em 98, Yepes fez uma ótima Libertadores pelo Deportivo Cali, mas não foi chamado para o Mundial, que seria o último ato de Rincón e cia. No ano seguinte, foi convocado por Javier Alvarez, então treinador da seleção. A estreia foi com uma vitória por 2 a 1 contra o Equador, na Copa América.
Desde então, com poucas palavras e um futebol técnico, foi ganhando espaço. Sempre dono de uma fala amena, vê na discrição a melhor qualidade de um zagueiro. "A importância da parte defensiva é que temos de dar tranquilidade à equipe. Se passamos confiança, fica mais fácil para a rapaziada da metade do campo para a frente fazer seu trabalho", disse Yepes após os 2 a 0 contra o Uruguai.
"Mario Yepes não é o tipo de capitão que garante seu lugar no time com gritos e discursos. Ele tem sua liderança baseada apenas na técnica e na experiência. Vive um dos melhores momentos de sua carreira", diz Ana Maria Navarrete, da TV Caracol.
Yepes foi afastado da seleção em 2007, após um fracasso na Copa América, mas logo voltou a ser chamado. E, depois de novo fracasso, tratou as eliminatórias de 2014 como uma obsessão.
Era sua última chance. Teve um grande parceiro em Jose Pekerman, que o bancou, mesmo quando não estava bem no Milan ou Atalanta, seus últimos clubes. Deu a ele a braçadeira de capitão diante de críticas. E foi recompensado por boas atuações. Apenas isso, nenhuma vingança. "Quando entro em campo é para jogar futebol em bom nível e não para calar a boca de ninguém", disse Yepes após a vitória sobre Costa do Marfim por 2 a 1.
Yepes começou a jogar como atacante em uma escolinha de futebol famosa na Colômbia: Sarmiento Lora. Em 99, depois de estrear na seleção, foi para o River Plate, onde jogou por três anos. "Foi sempre um jogador de alto nível. Um tipo calado e cumpridor. Teve ótima passagem pelo River e é um pouco injusto que seja lembrado por um vão de pernas que levou de Riquelme, que estava de costas", lembra Horacio Pagano, jornalista argentino.
Depois do River, defendeu Nantes e PSG na França, antes de ir para a Itália, onde jogou pelo Chievo Verona, antes de chegar ao Milan. Aos 34 anos, começou a perder espaço. Não se firmou e o sonho do Mundial começou a esmaecer.
Mas chegou Pekerman e lhe deu a maior oportunidade de todas. Ele agradeceu. E retribuiu com frases como a seguinte: "A verdade é que esta é uma equipe madura, demonstrou nas eliminatórias e no Mundial. Agora, vamos para nosso teste mais duro, contra o Brasil, mas confiamos no plano de trabalho dos diretores técnicos".
Agora, tem pela frente o Brasil jogando como anfitrião numa Copa do Mundo. Seja qual for o resultado, será a reabilitação final, pelos pés e liderança de Yepes, da geração perdida do futebol colombiano.