Torcedor paga R$ 3 mil por ingressos falsos e amigo acaba na Fan Fest do DF
Aiuri Rebello
Do UOL, em Brasília
Após a publicação desta reportagem, o empresário Felipe Carlutto Silveira entrou em contato com o UOL Esporte e ratificou algumas informações: a mulher que estava com ele era sua cunhada e não esposa; os ingressos falsificados comprados do cambista por um amigo e repassados para ele custaram R$ 1.500 cada, e não R$ 1.200. As circunstâncias da compra dos ingressos foram mais detalhadas pelo empresário.
Instantes antes da goleada da seleção brasileira sobre a de Camarões por quatro a um no estádio Mané Garrincha, em Brasília, na segunda-feira (23), a polícia prendeu 11 cambistas com 400 entradas para o jogo -- 50 delas falsas -- no entorno da arena. Perto dali, do outro lado do estádio, o empresário Felipe Carlutto Silveira, de 30 anos, dizia que se preparava para correr até a Rodoviária do Plano Piloto, onde tentaria pegar um metrô até Taguatinga, cidade-satélite a cerca de 25 quilômetros de Brasília onde acontece a Fan Fest do DF, e chegar lá antes do início da partida.
Ele havia aparecido mais cedo no Mané Garrincha e lá encontrou um grupo de amigos do Rio Grande do Sul. Silveira conta que possuía ingressos, mas alguns amigos da turma não, e estavam na esperança de arrumar entradas por lá. E eles conseguiram com um cambista -- só que eram falsas. O empresário diz que um dos amigos, que já havia entrado na hora que a reportagem do UOL Esporte viu uma aglomeração perto de um dos portões de acesso ao estádio e foi ver o que estava acontecendo, pagou R$ 1.500 em cada ingresso.
"Eu tinha dois ingressos, mas tinha uns amigos do Rio Grande do Sul que estavam sem e caíram nessa", disse Silveira mais tarde, em contato com o UOL Esporte. "Quando vimos a situação, demos para eles os nossos e ficamos de fora", explicou o empresário, que estava no clima de torcer muito, até com os cabelos pintados de amarelo.
Questionado se iria registrar um boletim de ocorrência na delegacia sobre o que havia acontecido, respondeu: "Tenho que ver com o pessoal o que eles querem fazer". Silveira conta que tem ingresso para vários jogos da Copa e havia ido a todos as partidas da seleção e as que aconteceram no Beira-Rio, em Porto Alegre, e por isso resolveu abrir mão de entrar e deixou seus ingressos para os amigos que não tinham tido essa oportunidade e haviam sido enganados.
As entradas falsas foram detectadas na checagem dos detectores de metais. Apesar da vergonha e do prejuízo, Silveira parecia estar levando a situação no bom humor, e não desistiu de torcer. "O jeito vai ser correr para a Fan Fest, afogar as mágoas lá e torcer bastante", disse antes de disparar em direção à estação de metro, distante cerca de três quilômetros do estádio. Chegando a Taguatinga, mais uma caminhada de cerca de dois quilômetros leva à Fan Fest. Ele tinha meia hora antes do início da partida, às 17h.
Mais tarde, no dia seguinte, afirmou à reportagem que desistiu da Fan Fest.
Quadrilha internacional?
Com os cambistas presos no entorno do Mané Garrincha, além das entradas, foram encontrados cerca de R$ 26 mil e outros 3.700 dólares em dinheiro -- cerca de R$ 34 mil ao todo. De acordo com a Polícia Civil do DF, entre os cambistas havia um polonês, um inglês, dois holandeses e sete brasileiros.
Segundo o delegado Jefferson Lisboa, do Departamento de Polícia Especializada do DF, responsável pelo registro do caso, existe a suspeita de que todos ou parte eles atuava juntos em uma mesma quadrilha, mas ainda há poucos detalhes de como funciona o esquema. A polícia diz que continua investigando a atuação do grupo.
Os cambistas foram presos em flagrante por cambismo e estelionato, serão indiciados e podem pegar até cinco anos de prisão. Eles também possuíam cerca de 50 cartões bancários. Segundo a polícia, os estrangeiros ficam presos e respondem pelo crime no Brasil.
No dia 19, antes do jogo entre Colômbia e Costa do Marfim (vitória da Colômbia por dois a um), a PM havia prendido quatro cambistas -- três colombianos e um brasileiro -- com algumas dezenas de ingressos para a partida e cerca de R$ 1 mil -- eles não atuavam juntos. Na ocasião, a reportagem do UOL Esporte presenciou pelo menos quatro cambistas vendendo ingressos livremente no entorno da arena.