Ídolo chileno já foi ofendido por Messi e tem 'medo' de microfone
Jeremias Wernek
Do UOL, em Belo Horizonte
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AFP PHOTO / CLAUDIO SANTANA
Sánchez não gosta de atender aos jornalistas e foi alçado a ídolo nacional depois de ir para o Barça
Dentre todos os chilenos, um é disparado o candidato a carrasco da seleção brasileira nas oitavas de final da Copa do Mundo. Alexis Sánchez, ídolo nacional e jogador mais valorizado da história do país andino. Aos 25 anos, ele já ouviu xingamentos de Messi durante um treino do Barcelona e também deglute os prós e contras da fama. Um pouco Neymar pelo talento e outro tanto pela exploração midiática, mas sem entrevistas. Pois ele tem medo de microfone.
Nascido no povoado de Tocopilla, onde o deserto de Atacama termina e o mar lambe a terra árida, Sánchez teve seu nome envolvido na polêmica com Messi na metade do ano passado. Foi quando o jornal espanhol El Confidencial publicou declarações do argentino ao chileno.
"Do jeito que você é ruim, não sei como custou tanto. Não chuta tanto assim, me passa a bola", teria disparado Messi durante um treino.
O destrato do melhor do mundo por quatro vezes não é confirmado por ninguém ligado a Sánchez. Faz parte da blindagem ao novo personagem de unificação do país. Uma postura que passa a mistificar toda e qualquer ação do atacante.
"Nunca houve comentários sobre isto. O que se sabe é que Alexis tem ótima relação com os brasileiros e os mais jovens do elenco do Barcelona. Os melhores amigos dele lá são Bartra (zagueiro espanhol), Daniel Alves e Pinto (goleiro). Pinto, aliás, é um grande amigo de Messi também", conta Danilo Díaz, coautor da biografia de Sánchez – 'Alexis, a trajetória de um craque'.
A ojeriza do atacante pelos microfones, e consequente falta de versão dele para o rumor, não ajuda a encerrar o tema. Mas facilita seu estilo de vida. De um jovem milionário que tenta fugir da mídia, mas ao mesmo tempo tem gostos extravagantes. A construção de sua casa na terra natal explica.
Depois de concluída a obra, Alexis Sánchez convidou o seu empresário, Fernando Felicevich, para um almoço de inauguração da residência. Ao chegar diante do lugar, o agente se espantou com um ponto. O lar recém-erguido pelo jogador era idêntico ao seu.
"Essa casa é igual a minha, Alexis", disse Felichevich. "Sim, é. Mandei construir igual. Adoro a sua casa", respondeu.
Além da pitada de inocência, Sánchez tem um lado competitivo e narcisista bem aguçado. Nos treinos, tanto na Toca da Raposa II como no Sesc Venda Nova, é o primeiro a tocar na bola. O último a deixar o campo, praticando finalizações em um gol vazio e correndo contra ninguém.
Do outro lado do perfil está um jeitão de bom moço. Mesmo sendo viciado em academia, em definição dos músculos do abdome e braços, Sánchez não esquece das raízes e todo ano promove uma festa de Natal na comunidade. Também não ingere bebida alcoólica e diz que se sente mais à vontade durante a temporada do que nas férias.
Revelado pelo Cobreloa e vendido a Udinese-ITA bem cedo, Sánchez foi emprestado para Colo-Colo e River Plate. Na Europa, não se aguentou e no primeiro jogo fez revelações a Shevchenko, atacante ucraniano à época no Milan.
"Fera, sempre levou gol de você no videogame", disparou.
Da Itália foi para a Espanha, em 2011, quando Barça desembolsou 26 milhões de euros (o equivalente a R$ 78,4 milhões) para concluir o negócio. E na Catalunha viu seu status na pátria mãe mudar, passando de mero jogador talentoso para exemplo de vitória e êxito do povo chileno. Um garoto nascido no interior, de origem pobre, no maior clube do mundo. Um conto de fadas da bola tipicamente sul-americano, mas com um andino na vaga habitualmente ocupada por argentinos ou brasileiros.
Com mais responsabilidade, Sánchez não deixou de repetir a frase que motivou o início da jornada. "Eu vou ser campeão do mundo". No sábado, sendo um Neymar chileno ou um Sánchez brasileiro, ele terá a chance de ser carrasco. E seguir sonhando.