Resultado ou espetáculo? Pressionado, Brasil indica que não liga para show
Gustavo Franceschini, Paulo Passos, Pedro Ivo Almeida e Ricardo Perrone
Do UOL, em Brasília
Um ano depois de conquistar a Copa das Confederações convencendo, o Brasil patina para mostrar bom futebol na Copa do Mundo. Nesta segunda, encara Camarões em Brasília, às 17h, precisando vencer para não correr riscos desnecessários já na primeira fase do torneio. Sob pressão, o time indica que não vai titubear se tiver de escolher entre dar espetáculo ou vencer a qualquer custo.
"A gente pensa em entrar em campo para vencer. Se vai dar espetáculo ou não é outra coisa. Tem de fazer o que o professor pede. O resto é consequência. Se vier goleada e o time jogar bem, ótimo", disse Thiago Silva no último domingo.
"A gente não pode ir muito como vai o torcedor, porque o torcedor quer que a seleção faça cinco, dez gols. É o ímpeto e a emoção que ele quer transmitir. Então, quando a gente não consegue, a leitura deles pode ser diferente da nossa. A gente que vive dessa profissão e analisa o objetivo e não a emoção", disse Daniel Alves no último sábado.
A questão abordada pela dupla é um velho dilema da seleção, forte especialmente após os fracassos em 1982 e 1986. Depois de duas derrotas marcantes de representantes do "futebol-arte", a sanha por resultados tomou conta e o Brasil venceu a Copa de 1994 depois de ter feito água quatro anos antes.
Carlos Alberto Parreira, coordenador-técnico da atual seleção, era o comandante de uma geração que se notabilizou pelo discurso da vitória a qualquer custo. "É a melhor, mas não ganhou", já disse algumas vezes o ex-volante Dunga, símbolo e capitão do time do tetra, sobre os antecessores com quem sempre foi comparado.
O Brasil do ano passado parecia ter encontrado um meio termo. As vitórias em casa contra Itália, Uruguai e Espanha na Copa das Confederações deram ao público a impressão de que Neymar e companhia podiam aliar competitividade a um futebol de qualidade. Por enquanto, a Copa tem dito o contrário, assim como Felipão.
"O resultado fica para a história, o jogo bonito passa", disse o treinador, antes mesmo da Copa começar.
A torcida parece discordar. "O mais importante é vencer, mas por ser no Brasil, com todos esses jogadores bem na Europa, dava para jogar bonito também", disse Eldar Andrade. "O time ganhou a Copa das Confederações jogando bem. Agora está mal por causa de Paulinho, Daniel Alves e Fred", disse Paulo César.
Os dois fizeram parte da pequena multidão que foi até a porta do hotel da seleção em Brasília para tentar um autógrafo ou uma foto com os jogadores. No caso deles, recordações para os filhos, já que ambos não sentem muita firmeza no time de Scolari, assim como a maior parte dos adultos que se abalaram até o local.
Pesa na avaliação do público a qualidade do espetáculo apresentado na Copa do Mundo até agora. Com goleadas e jogos de alto nível, a comparação com a vitória suspeita contra a Croácia e o empate insosso diante do México ficou difícil. "Você viu Alemanha e Gana ontem [sábado]? O Brasil não ganhava de nenhum dos dois, baita jogão", disse Jairo Andrade, outro pai arrastado por crianças até a porta da concentração do Brasil.
A média de gols da Copa do Mundo é de 2,9 gols por partida e até os brasileiros admitem que a tônica do torneio é o jogo ofensivo. "Essa é a Copa das Copas para quem gosta de gol, é admirador do futebol. Essa é a Copa. Isso para um zagueiro não é nada legal", disse Thiago Silva, um dia antes do empate sem gols contra o México.
Nesta segunda, é difícil imaginar um Brasil preocupado em agradar. Se fizer isso e perder, dependendo do resultado do jogo entre México e Croácia, o time pode passar o vexame histórico de ser eliminado na primeira fase de uma Copa do Mundo em casa. Com tudo isso, recomenda-se que o torcedor que vai ao Mané Garrincha não crie tantas expectativas.
Evolução do Jogo Bonito do Brasil