Pais de Neymarzetes se distraem com cervejinha, mesa-redonda e bate-bola

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Brasília

O volume e o tom de voz indica que os gritos são de crianças e adolescentes. Desde as 10h, dezenas de jovens colam os rostos na grade para, em desespero, gritar a cada silhueta que passa no distante lobby de hotel. Atrás de Neymarzetes, Davizetes e Oscarzetes, estão os pais, tios e avós que cumprem o dever com retidão, distraindo-se com muita conversa, mesas-redondas improvisada e, às vezes, uma cervejinha.

"Essa seleção está meia-boca, eu vim pelos meus filhos". "Eu também, por mim não vinha não". "Eu vim pela minha mulher, que queria um autógrafo do Júlio César". "Eu vim trazer meus sobrinhos, mas confesso que eu queria ver também". "Ah, então coloca aí que é só o Márcio".

Esse é o tom do papo entre Auro Silva, Jairo Andrade, Paulo Cesar e Márcio Fiori, quatro acompanhantes que se conheceram neste domingo de sol em Brasília. A seleção brasileira, que jogará nesta segunda contra Camarões, está hospedada no Brasília Palace, hotel que fica na área norte da capital e consegue isolar a delegação de qualquer interferência externa.

Desde as 9h a torcida está colada na grade que dá visão para um dos lados do hotel, justamente aquele em que a seleção está instalada. Depois de horas de vigília, o único atleta que teve contato direto com a pequena multidão foi Júlio César, que foi até a grade e passou cerca de uma hora autografando camisas e tirando fotos. Os demais, no máximo, acenavam de longe, pelo vidro do hotel, quando ouviam seus nomes.

A espera não desanima as crianças, mas satura os pais. A solução é passar o tempo. Auro, Jairo, Paulo César e Márcio batem papo sobre a seleção, sempre com a corneta ligada. "O Brasil está sem um esquema definido". "O time está sem vontade". "Esse Fred devia trabalhar na Globo, se jogando na área daquele jeito".

A mesa-redonda improvisada não poupa ninguém e é regada a cervejinha, vendida a R$ 4 ou R$ 3 no carrinho ambulante que acompanha toda a movimentação. "O pessoal pede bastante água, porque está sol", diz a vendedora envergonhada, que tira fotos mas pede para que seu nome não saia na reportagem.

Alguns não têm tanta paciência. "Eles não estão nem aí para vocês", reclama um pai, nitidamente incomodado com a gritaria que as filhas e as amigas fazem ao lado. 

Quem tem filhos menores tem mais trabalho. Jonatas Araújo acompanha o filho Mateus, fã de Neymar e Hulk. E Jefferson, é importante dizer. "Ele é botafoguense como eu. Eu não viria aqui não, só viria pelo Jefferson, que é o melhor goleiro do Brasil", diz o pai, um tanto quanto impositivo, ostentando o símbolo do clube de General Severiano tatuado na panturrilha esquerda.

O interesse de Matheus pela seleção é grande, mas não supera a vontade de jogar bola. Quando ganhou uma de artistas que passavam pelo local tentando se promover, o garoto esqueceu que sua missão no dia era tietar. Passou o resto do tempo chutando o novo brinquedo de um lado para o outro do gramado, por vezes escalando o pai para o bate-bola.

Tem quem não concorde com essa troca. Maria Beatriz, Maria Julia, Maria Vitoria, Iara e Adriano, todos representantes dos Novaes, não desgrudam os olhos da grade. Só desviam a atenção quando percebem que alguém está entrevistando os adultos da família. "É da Globo?", perguntam.

A negativa não frustra a turma, que posa com a trupe toda para a foto. "A gente vem mais pelas crianças, mas torce também, grita junto", conta Ivani, matriarca da família que foi ao hotel acompanhada de mais três familiares que lhe fizeram companhia na espera, que não tem hora para acabar. 

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