Invasão americana. Português vira segunda língua em praça de Manaus

Felipe Pereira

Do UOL, em Manaus

Graças à Copa, o português foi a segunda língua mais falada na praça principal de Manaus na noite de sábado para domingo. Os policiais militares não conseguiam estimar quantos americanos estavam espalhados no calçadão que fica em frente ao Theatro Amazonas. Era tanta gente que as duas ruas que contornam o local foram fechadas.

Onde antes passavam carros havia barraquinhas de suco, churros, comida, cerveja e caipirinha, esta última com maior fila. A praça não era o único ponto de concentração dos torcedores. O American Outlaw, espécie de torcida organizada dos Estados Unidos, fechou uma casa de espetáculos de Manaus e promoveu uma festa para cerca de 2 mil participantes.

Mesmo o forró mais famoso da cidade contava com americanos que não entendiam nada da letra das músicas e que dançavam sem mexer o quadril. Olhando, não dava para acreditar que Michael Jackson e Fred Astaire nasceram no mesmo país.

A população de Manaus não perdeu a oportunidade e caiu junto na festa da torcida com mais representantes na cidade desde que a Copa começou. Ponto de encontro durante o Mundial, a praça principal contava com uma divisão definida pelo interesse de cada americano.

Os mais sossegados comiam na rua ao lado do teatro que tem uma série de restaurantes. Entre uma cerveja e outra falavam de futebol e das impressões sobre Manaus. Na outra extremidade do calçadão fica o Bar do Armando. Uma caixa de som tocava forró e os torcedores mais empolgados se misturavam aos brasileiros formando uma aglomeração em que era difícil se mexer.

No meio da praça as pessoas conversavam, paqueravam e gritavam USA. Os brasileiros gostavam do que viam e sacavam os celulares quando as rodinhas entoavam coros. Sina Pierce, 33 anos, falou que tinha orgulho da festa dos conterrâneos, mas ponderou que com tambores ficaria ainda mais bonito.

Jesse Formam, 22 anos, estava no grupo que pulava gritando o nome do país e afirmou que a festa estava maravilhosa. "Acho lindo pessoas de diferentes lugares dos Estados Unidos se encontrarem numa praça no Brasil".

Ele também estava feliz pelo sucesso com as mulheres. Em seguida, mostrou um amigo tentando se entender com uma garota que falava um inglês básico. Esta interação dobrava a quantidade de pessoas falando a língua estrangeira. Numa maneira polida, Jesse disse que estavam tendo sorte na cidade e mostrou uma foto abraçado a uma jovem. Mas os colegas interromperam e pediram para o rapaz contar quando começou a gostar de Copa.

"Há três semanas. Um amigo tinha ingressos sobrando, ofereceu e vim para o Brasil". Jesse se defendeu dizendo ter se preparado para ocasião. Viu jogos importantes da seleção e comprou o jogo FIFA 2014. As horas no videogame fizeram com que aprendesse quem são os jogadores de cada equipe.

Adversários dos Estados Unidos amanhã, os portugueses também estavam presentes na praça, mas em pequeno número. A maioria se juntou em frente ao bar do Armando e assim conseguiram chamar a atenção. A tarefa foi facilitada por dois trunfos: um par de tambores e um apito. Ao som das batidas o canto mais repetido era "Portugal em Manaus".

Manuel Ferreira, 33 anos, admitia que estavam num número muito inferior e dizia ser um contrassenso a situação. Lembrou que além do Brasil estar ligado a Portugal pela história, Manaus tem uma colônia grande de portugueses.

Mas a quantidade de americanos na praça poderia ser ainda maior. Noutra parte da cidade, cerca de 2 mil foram a uma festa promovida pelo American Outlaw. Na casa de eventos fechada pelos torcedores a cada 2 minutos e 45 segundos a música era interrompida e os participantes gritavam USA.

Os americanos também caíram no forró. Num dos forrós mais conhecido de Manaus, os caras com camisa com listras e estrelas não combinavam com as mulheres de shortinho ou vestido colada ao corpo. Também se diferenciavam dos homens trajados de sapatênis, jeans e camisa polo.

Mas longe de casa os torcedores nem ligavam por não seguir a moda do local. Dançando todo desengonçado, Otis Ditney, 24 anos, falou que estava ocupado se divertindo, enquanto a banda tocava uma música gaúcha em ritmo de forró.

Como os demais americanos, ele achava tudo lindo e que Cristiano Ronaldo não representava uma ameaça neste domingo. Portugal e Estados Unidos se enfrentam às 19h.

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