Alemanha destoa do Brasil e não liga para recorde e disputa Klose x Ronaldo

José Ricardo Leite

Do UOL, em Fortaleza (CE)

  • AP e AFP/Javier Soriano

    Ronaldo e Klose, os maiores artilheiros em Copas do Mundo

    Ronaldo e Klose, os maiores artilheiros em Copas do Mundo

Durante o fiasco do Brasil na Copa do Mundo de 2006, uma das críticas foi a de que se muito se falava sobre recordes pessoais. Desde a preparação da equipe, na Suíça, um dos temas mais comentados era chance de Ronaldo se tornar o maior artilheiro da história das Copas. Ele fez isso ao marcar contra Gana, nas oitavas de final, e houve grande estardalhaço.

Contra o mesmo time africano, no sábado, Miroslav Klose se igualou ao Fenômeno ao marcar seu 15º gol em Mundiais. Mas o que se vê entre os alemães é um sentimento de certa indiferença em relação ao feito. A repercussão do tema na imprensa local e até entre os torcedores é muito diferente da que se vê no Brasil.

Klose, 36 anos, chegou ao Brasil como reserva e apenas um gol atrás do brasileiro. Mas ainda assim não houve nenhum tipo de questionamento por parte dos jornalistas se o técnico Joachim Low iria colocá-lo em alguma partida para tentar o recorde. O tema passou batido.

Tanto que é que a equipe tinha um a mais desde o primeiro tempo do jogo em que goleou Portugal por 4 a 0 e nem assim o treinador pensou na possibilidade. Optou por colocar outro atacante, Podolski, mas nada de Klose.

Antes do duelo contra Gana, o tema era bem menos comentado pelos alemães do que pelos brasileiros. "Nós gostamos de Klose, mas não acho que ele tenha que entrar só pra tentar recordes, de jeito nenhum. Nossa mentalidade é de valorizar o jogo coletivo, nós não ligamos muito pra isso. Ninguém consegue pensar que um jogador tenha que entrar pra isso", falou o torcedor alemão Bernd Beev ao ser questionado sobre o tema.


O veterano jogador só entrou na partida contra Gana porque o treinador realmente achava que precisava de um homem de área quando perdia por 2 a 1. E, depois da partida, quando questionado sobre a marca, gastou mais palavras para falar do coletivo do que sobre o feito de Klose.

"Estou feliz por ele ter conseguido essa marca e com apenas 20 minutos em campo e marcou, é sensacional para a sua carreira. Pra mim é importante ter um jogador como Klose no elenco. Ele é do tipo de jogador que está sempre pronto para entrar. E é isso que vale mais para mim e para o time", falou.

Quando Klose passou na zona mista para conversar com os jornalistas alemães, seu assédio nem parecia ao de um recordista em Copas se fosse a imprensa brasileira ali atrás de um atleta do país. Houve, claro, perguntas sobre o tema, mas sem procurar se alongar. O capitão Lahm teve tipo de abordagem similar mesmo sem nenhum recorde.

Os jornal alemão Bild, por exemplo, nem tinha como manchete em sua versão digital o recorde de Klose. Era um destaque secundário, do mesmo tamanho dado à participação ruim do defensor Mustafi durante a partida. A manchete era o resultado da partida.

"Os alemães gostam de recordes pessoais, mas não tanto assim (como brasileiros). Isso não desperta tanto a nossa atenção, os recordes não são algo que valorizamos muito", explicou o jornalista Daniel Kerst, enviado pelo Bild ao Brasil para a cobertura do Mundial.

"Falamos muito pouco sobre a questão de Klose porque não temos o costume de dar tanto destaque a essas situações individuais. É uma coisa do alemão isso", explicou Rafael Buschmann, do jornal Der Spiegel.

Depois do jogo, o próprio Klose nem se comportava como alguém que tivesse realizado um feito enorme. Na entrevista ainda dentro do gramado, deu declarações não empolgantes ao dizer que o recorde é "importante, mas que o time precisa continuar forte na disputa do Mundial".

Depois, passou pela zona mista com poucas palavras e não demonstrava nenhum ânimo extra por ter entrado para a história dos Mundiais. Parecia apressado para ir embora e que estar ali era uma ação protocolar. Minutos antes de passar para atender a imprensa, o diretor da seleção alemão, Oliver Bierhoff, cravou que seu compatriota superará Ronaldo ainda no torneio. Mas o próprio jogador não ligou.

"Vamos ver, vamos ver, mas não sei. O time tem que jogar melhor. Vamos ver se vou jogar mais", falou, para depois ser questionado sobre seu sentimento e como comemoraria feito. "Ele (Ronaldo) é um grande jogador e é um prazer igualá-lo. Não vou fazer nada, nada (para comemorar)", prosseguiu o alemão.

Na mesma Fortaleza em que Klose fez o gol, Ronaldo pediu aos torcedores locais que "secassem" o alemão quando ele jogasse aqui. O fato ocorreu durante a abertura da Fan Fest, no dia 8 de junho. "Vou deixar um recado aqui em Fortaleza, já que a Alemanha jogará aqui. Que vocês deem uma secada no Klose, de leve", brincou.

Klose entrou durante o segundo tempo da partida contra Gana, quando a Alemanha perdia por 2 a 1, e marcou o tento que deu empate aos tricampeões mundiais. Foi seu 15º gols na história das Copas. Se marcar mais um, se isolará como o maior artilheiro do torneio desde 1930.

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