De 1950 a 2014, Espanha tem 'hat-trick' de humilhações no Maracanã

Fernando Duarte

Do UOL, no Rio de Janeiro

O Maracanã voltou a ser o palco de uma humilhação para a seleção da Espanha. Sessenta e quatro anos depois de ser goleada pelo Brasil por 6 a 1 no quadrangular final da primeira Copa do Mundo no país, e quase um ano depois da demolição por 3 a 0 na final da Copa das Confederações, a Fúria teve nesta quarta-feira uma vexatória eliminação na primeira fase da Copa do Mundo de 2014 com a derrota de 2 a 0 para o Chile.

Este resultado não vai doer no orgulho espanhol apenas por representar um dos piores resultados da história espanhola nas Copas, embora a Fúria tenha outras quatro eliminações prematuras em Mundiais, a mais recente delas na fase de grupos de 1998 na França. Representa um tiro de misericórdia na formidável hegemonia espanhola nas últimas grandes competições. E decreta a morte do tika-taka, um sistema  de jogo que já chegou moribundo a este Mundial.
 
Os sinais de que a ênfase na posse de bola e trocas eternas de passes tinha perdido o trem da história foram muitos. Além da derrota categórica para a correria e marcação sobre pressão do time de Luiz Felipe Scolari na Copa das Confederações, houve o passeio do Bayern de Munique sobre o Barcelona na Liga dos Campeões de 2013. O mesmo Barcelona que inspirou a mudança tática na seleção espanhola e a conquista de duas Eurocopas e da Copa do Mundo de 2010. Mas também o Barcelona que em 2014 fracassou em todas as competições que disputou.
 
Talvez o maior problema para o treinador da Fúria, Vicente del Bosque, tenha sido a passagem do tempo. Uma geração envelhecida e "marcada" pelos estudos dos adversários, sobretudo o duo de meio-campistas Xavi Hernandez e Andrés Iniesta se juntou a uma fase negra para os centroavantes espanhóis e que forçou os espanhóis a naturalizar o brasileiro Diego Costa, que depois de esnobado por Felipão no ano passado decidiu apostar numa "virada de casaca" impulsionada por uma temporada espetacular no Atlético de Madrid. Um lesão muscular sofrida na reta final da temporada de clubes tirou do centroavante a explosão tão vital para seu jogo.
 
Mas apesar da má sorte,  Del Bosque também pecou: hesitou em renovar o elenco e a decisão de deixar em casa jogadores que tiveram temporadas mais inspiradas, como o meia Isco, campeão europeu com o Real Madrid, vieram assombrar o treinador no Brasil. Na partida desta terça-feira, a apatia do treinador e falta de ideias para lidar com um Chile sentindo o cheiro de sangue chamaram mais atenção que a bizarra barração de Xavi, cuja ausência basicamente tornou seu companheiro de Barcelona e seleção Iniesta apenas um jogador comum no meio de campo.
 
Na estreia no Mundial, a Espanha foi posta de joelhos por uma Holanda que pode até ter levado um pouco de sorte na vitória de 5 a 1, já que a Fúria perdeu grandes chances depois de abrir o placar. Aquela partida, porém, foi mais emblemática por outra razão: foram os holandeses, que nos anos 70, com a chegada de Johan Cruyff e o treinador Rinus Michels ao Barcelona, moldaram o tika-taka. Na Fonte Nova, os mesmos holandeses tiveram a coragem de mudar o esquema tático de gerações para enfrentar a Espanha com cinco zagueiros e um contra-ataque venenosos. A coragem que faltou à Espanha depois de 2010.
 
E a covardia foi punida à altura.

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