Brasileiros "viram casaca" e torcem como hermanos na estreia da Argentina

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

Quem esperava que a torcida brasileira iria "secar" os rivais argentinos mais do que a quaisquer outros do início ao fim da Copa do Mundo deve ter se surpreendido neste domingo, quando a Argentina venceu a Bósnia por 2 a 1 em sua estreia no torneio, no Maracanã. De norte a sul do país, a seleção bicampeã mundial recebeu o apoio de milhares de brasileiros, que torceram, sofreram e fizeram a festa junto com os argentinos. 

Em São Paulo, o bairro da Vila Madalena, na zona oeste da capital, recebeu em suas ruas e bares milhares de brasileiros e gringos dispostos a assistir à partida em meio a muita música, alegria e cerveja.

Em meio à festa predominantemente verde e amarela, porém, o bar Artilheiros, na rua Mourato Coelho, destoava dos demais. Visto de fora, parecia uma embaixada argentina em plena capital paulista. Lá, quase 100 pessoas vestindo as cores do país vizinho torciam para o time de Messi e Mascherano à maneira tradicional dos "hermanos", cantando o tempo todo e sem economizar nas provocações aos brasileiros.

Se a aquela cena já parecia incomum olhando de fora, tornava-se absolutamente insólita vista de perto, quando se percebia que aquela centena de fanáticos argentinos eram, na verdade... brasileiros.

Mas então... então... são descendentes de argentinos? Ou ao menos moram na Argentina? Ou possuem qualquer relação com a Argentina? "Não, nada disso! A gente só gosta da Argentina! Temos uma identificação muito grande com as cores, com o estilo de jogo, com o jeito de torcer. É paixão!", explica o gerente de projetos Tiago da Rocha, 28 anos, torcedor da Argentina desde 1994 e fundador da filial paulistana da La 12, torcida organizada do Boca Juniors, time mais popular de Buenos Aires.

Tiago conta que ele e seus amigos "vira-casacas" marcaram pelas redes sociais de assistirem todos juntos à estreia da Argentina na Copa. "E vamos fazer a mesma coisa em todos os jogos, até a final", promete, otimista, o quase-hermano.

Já o motorista Júlio Cesar de Lima Silva, brasileiro e torcedor do Vélez Sarsfield, mostra ainda mais otimismo: "Vamos até a final, e vai haver outro ´Maracanazzo', só que, dessa vez, com a Argentina!"  


Torcida pelo Brasil

E não foi só na capital paulista que brasileiros se renderam aos encantos platinos. Em Belo Horizonte, cidade em que a seleção argentina está concentrada, formou-se uma grande torcida alvi-celeste. Com os bares lotados, alguns fãs, de diversos países, vibraram com o primeiro gol do jogo, ainda que uma minoria presente fizesse questão de provocar com gritos em favor da Bósnia.

Outra capital que contou com forte torcida pela Argentina foi Salvador. Lá, centenas de argentinos estiveram no Farol da Barra. Os torcedores brasileiros até tentaram se segurar torcendo contra a Argentina, mas se renderam após o golaço de Messi. Mas, no fim do jogo, quando se vislumbrou a possibilidade de empate após o gol da Bósnia, a rivalidade histórica voltou a falar mais alto, e um coro de pedindo por "mais um, mais um", recolocou argentinos e brasileiros em lados distintos da arquibancada. 

Já em Fortaleza, uma união entre brasileiros, mexicanos e argentinos foi feita contra o restante dos torcedores de outros países. Cerca de 50 pessoas estiveram na Fan Fest para acompanhar o duelo com muita rivalidade, mas com clima amistoso e gosto de "Copa das Américas".

Em Cuiabá, que fez a festa com a torcida chilena na última sexta-feira, também havia brasileiros virando a casaca neste domingo. "Torço para a Argentina porque o Messi merece ser campeão. É um jogador que vai ficar para a história, e eu não gostaria que fosse sem um título. Assim como o Zico, que muitas vezes é desprestigiado por não ter conquistado a Copa, o Messi precisa desse título", disse Luis Fernando Oliveira Dias, capitão da Polícia Militar de Mato Grosso, mas de coração amolecido pelos hermanos.

O talentoso atacante do barcelona também conquistou torcedores em Manaus. A capital do Amazonas não teve o jogo como foco principal, mas os presentes nos bares interromperam a música quando Messi fez o segundo gol argentino. Alguns brasileiros até compraram camisas argentinas no camelô. "Compramos por causa do Messi e também para zuar", disse Elcimar Gomes, que torce para a Argentina pero no mucho.

Finalmente, no Rio Grande do Norte também surgiu um ponto de encontro para os argentinos. O local escolhido foi o restaurante Ponta Negra, que reuniu residentes de Natal e também turistas que passam pela cidade. Assistiram juntos à vitória argentina e vibraram com o gol de Messi, que viveu um dia de Simón Bolívar. Por um dia, fomos todos mais hermanos do que nunca. 

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos