EUA esquecem promessa de integração e se rendem à paranoia da segurança
Luis Augusto Simon
Do UOL, em São Paulo
Em janeiro, a delegação dos Estados Unidos veio ao Brasil conhecer o CT do São Paulo e o treinador Jurgen Klinsmann foi claro ao dizer que aquele era o local ideal para sua seleção porque estava num local central, perto de shoppings. Permitiria o contato com torcedores brasileiros e apaixonados pelo esporte. Queria contato humano, impossível em um bunker.
Mas faltou combinar com o governo dos Estados Unidos, que exigiu, conforme confidenciaram assessores da deleção, alta segurança. E foram atendidos. Nesta terça-feira, havia 30 soldados da Polícia Militar e mais 12 soldados da Infantaria. Revezavam-se dentro e fora do Centro de Treinamentos, com apoio de um caminhão e de uma base comunitária móvel. Havia ainda helicópteros.
Os jornalistas tiveram suas mochilas revistadas. O procedimento é comum em todos os jogos, mas dificilmente ocorre em sessões de treinamento. Nada que pudesse se comparar com treinos do Irã, no Centro de Treinamento do Corinthians. Ali, dois soldados olhavam placidamente a chegada de repórteres. Nenhuma revista.
Antes do treino, Mike Kammarman, chefe de imprensa, passou informações e recomendações aos jornalistas. Disse que o traslado do aeroporto de Cumbica até o hotel havia levado uma hora e foi feito sem nenhum sobressalto. Os EUA jogarão em Natal, Manaus e Recife e, a cada jogo, voltarão a São Paulo.
A tal interação com o público, desejada por Klinsmann, ficará restrita a um treino aberto no dia 11, com a presença de 700 pessoas, que serão escolhidas pela embaixada americana.
O goleiro Howard, que atua na liga inglesa desde 2003 – Manchester United e atualmente Everton – disse que está acostumado com o esquema de segurança e que as viagens não atrapalharão o rendimento do time. "Como jogo na Europa, estou sempre viajando de um país para outro, estou acostumado e nada disso atrapalha o rendimento".
Além dele, o zagueiro Cameron e o atacante Wondolowski passaram por uma zona mista terrível, com os aproximadamente 60 jornalistas norte-americanos e poucos brasileiros tentando ouvir, por 15 minutos, alguma frase.
Não houve nenhuma revelação fantástica. "Nosso grupo é difícil e temos de ter muito foco em nós mesmos para superar as dificuldades", afirmou o atacante. "Penso jogo a jogo, não posso me preocupar com os adversários", disse o zagueiro.
Entre jornalistas e assessores, não é bem assim. São unânimes em colocar o jogo contra Gana, logo na estreia, como fundamental. "Se vencermos esse jogo, podemos terminar a primeira rodada na liderança. Então, com dois pontos mais, a vaga vem", disse Steven Goff, do "Washington Post".
"Falam que o grupo de Inglaterra, Uruguai e Itália é o da morte, mas o nosso também é duro. Com cinco pontos, a gente passa", afirma Jeff Carlile, da Espnfc.com.
Andrés Cordero, cubano, da rede Belinn, acha difícil conseguir os tais cinco pontos. "Conseguir cinco pontos significa terminar a primeira fase invictos. Isso é sonhar demais. Mas, com quatro pontos e saldo de gols dá para passar".
Mike Kammarman também aposta nos cinco pontos. "E para chegar a esse número, precisa ganhar o primeiro, caso contrário fica mais difícil. Alemanha está na frente e os outros três podem chegar na segunda fase".
Se os cinco pontos chegarem – e com eles, a vaga -, a segurança deve ser ainda maior na segunda fase.