Mordomia de Eto'o põe em xeque discurso de união de Camarões

Felipe Pereira

Do UOL, em Vitória (ES)

Samuel Eto'o
Samuel Eto'o

Briga de ego, disputa entre veteranos e novatos, Samuel Eto'o não acatando as ordens do técnico, politicagem de cartolas e desentendimento por dinheiro. O vestiário de Camarões experimentou todos estes problemas desde a Copa de 2010. As desavenças não ficaram no passado e até ameaça de greve às vésperas da estreia em Natal (RN) houve. Mas a equipe chega ao Brasil neste domingo (8) prometendo deixar as diferenças de lado em prol de um objetivo maior.

Só que mesmo antes de desembarcar no aeroporto os fatos apontam numa direção contrária aos discursos. Enquanto os jogadores ficarão em quartos normais, Eto'o vai se esbaldar em uma suíte com tamanho de apartamento que tem banheira de hidromassagem com cromoterapia, decoração neoclássica e um sistema em que a televisão acompanha o hóspede do quarto para sala. Esta mordomia é permitida somente ao técnico e ao capitão, duas funções que o atacante não ocupa.

A concessão não pegou bem diante dos companheiros, afirma a imprensa camaronesa que está em Vitória (ES), cidade em que a seleção treinará durante a Copa. Os atletas reclamam que num grupo todos devem ser tratados da mesma maneira. Mais um capítulo na conturbada carreira de Eto'o na seleção de Camarões.

O fiasco na Copa de 2010, quando o time caiu na primeira fase com três derrotas, tem o nome do atacante na origem. Ele se tornou capitão da equipe na Copa Africana de Nações disputada em janeiro daquele ano. A mudança dividiu o grupo de jogadores porque o ex-dono da braçadeira Rigobert Song não gostou.

O primeiro racha no vestiário foi seguido de uma briga entre os mais experientes com os novatos. Com ninguém se gostando o time parou de se ajudar em campo e as derrotas foram consequência. As brigas se sucederam nos anos seguintes e Camarões sequer conseguiu se classificar para a Copa Africana de Nações de 2013.

As declarações de Eto'o à imprensa de seu país naquele ano ajudam a explicar o ambiente do novo fracasso. Ele falou que estava ameaçado de morte por dirigentes da Federação Camaronesa de Futebol porque acusara a entidade de incompetência e corrupção. Na verdade ele nunca correu risco afirma a imprensa de Camarões que está em Vitória. O que havia naquele momento era intensa disputa entre cartolas por poder.

No jogo político os jogadores eram incentivados a dar declarações desabonadoras contra rivais. No final das contas, Eto'o foi usado para manchar a reputação de alguns dirigentes em benefício de outros. O último ingrediente desagregador do vestiário é dinheiro.

Os atletas ameaçaram até greve na última semana de maio. Reclamavam que depois da classificação para o Mundial novos patrocínios foram firmados e queriam redistribuição do dinheiro. A frente do movimento estava ele, Samuel Eto'o.

Mesmo contra fatos, população acredita no time

A narrativa da derrota se repete, cartolas disputando poder e Eto'o com regalias, e sugere outra eliminação precoce, mesmo assim a população de Camarões tem esperança. Ela existe por causa de Volker Finke, o alemão que dirige a seleção e foi o primeiro treinador que fez Eto'o ouvir o não.

A desavença entre ambos ocorreu porque o atacante não concordou com a escalação em uma partida das eliminatórias para a Copa de 2014. Eto'o chegou a anunciar que não jogaria mais por seu país, mas voltou atrás e vem ao Brasil.

Outro fator que sustenta o otimismo dos torcedores é a renovação do time titular. Muitos atletas estavam na África do Sul, mas sem espaço. A aposta é que eles tenham sangue nos olhos e vontade de colocar o nome na história do futebol de Camarões.

O último motivo para acreditar no time é que os jogadores estão muito pressionados pelos maus resultados. A promessa é de enterrar o passado e ir a campo com solidariedade entre os companheiros de equipe. O discurso não é novo e as regalias a Eto'o são uma mal indicativo.

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