Seleção segue mudanças e se entrega aos novos ricos da Europa
Do UOL, em São Paulo
Desde que a Europa abriu de vez as suas portas, em meados dos anos 1990, quem acompanha a seleção acostumou-se a ver os jogadores brilhando em forças tradicionais da Europa. Barcelona, Real Madrid, Inter de Milão, Milan e Bayern de Munique, alguns dos times que dominaram a elite do futebol mundial nesse período, cederam brasileiros em tempos de Copa. Em 2014, é a vez dos novos ricos povoarem a lista de Luiz Felipe Scolari.
Dos 23 nomes chamados pelo treinador, nada menos que nove estão distribuídos por clubes sem grande tradição que, nos últimos anos, ganharam espaço e mercado depois de terem sido adquiridos por mecenas de diferentes origens. O mais notável deles, Roman Abramovich, tem quatro jogadores de Felipão em seu Chelsea, cedendo mais jogadores ao Brasil que disputará a Copa de 2014 que qualquer outro clube do planeta.
David Luiz, Ramires, Oscar e Willian representam o clube londrino na lista de Felipão. De Manchester vem Fernandinho, peça de destaque do City, propriedade do xeque Khaldoon Khalifa Al Mubarak, dos Emirados Árabes Unidos. O PSG, do qatari Nasser Ghanim Al-Khelaïfi, tem os defensores Thiago Silva e Maxwell. Bernard, do ucraniano Shakhtar Donetsk, e Hulk, do russo Zenit, completam o grupo.
A disposição das peças é bem diferente daquela que se viu nas Copas anteriores. Historicamente, os "estrangeiros" convocados saem de clubes de tradição do Velho Continente. Em 1990, o Benfica, então vice-campeão europeu, dominou a convocação com três jogadores.
Quatro anos depois, o perfil mudou levemente, com o La Coruña, da Espanha, cedendo Bebeto e Mauro Silva. Ainda assim, Barcelona, Roma e Bayern de Munique marcaram presença na lista de Carlos Alberto Parreira. Daí em diante, a Itália passou a dominar os elencos brasileiros em Copas, sempre com times tradicionais.
De 1998 a 2010, Milan, Inter de Milão, Juventus e Roma, juntos, cederam 22 jogadores para a seleção em Mundiais, fazendo da Itália o maior país "fornecedor" do Brasil na competição.
Por que mudou?
A perda de poderio dos italianos não é só esportiva. Há pelo menos quatro anos os clubes com mecenas movimentam um volume considerável de dinheiro no mercado da bola. Quatro das dez maiores transferências da temporada atual, por exemplo, envolveram algum dos novos ricos: Cavani foi para o PSG, Falcão e James Rodriguez para o Monaco e Fernandinho para o Manchester City.
E esses clubes também começam a conquistar feitos consideráveis em campo, embora a Liga dos Campeões, maior torneio do calendário atual, ainda seja exclusividade do Chelsea. O Manchester City está a uma rodada do segundo título inglês em três anos e o PSG venceu o Francês pela segunda vez seguida, com o Monaco como vice.
No Leste Europeu também há pujança financeira. Hulk, por exemplo, ganha 6,5 milhões de euros (R$ 20,5 milhões) por temporada, um dos maiores salários do planeta. O Shakhtar por sua vez, descobre e reúne talentos do país. Além de Bernard, também teve em seu elenco, durante anos, a dupla Fernandinho e Willian, hoje em destaque na Inglaterra.
O crescimento desses clubes foi tão grande que a Uefa implantou a regra do fair play financeiro, que limita os gastos dos clubes em uma temporada. Por infringirem esse regulamento, Manchester City e PSG, por exemplo, podem ser punidos na próxima temporada.
Barcelona, Real e Bayern
O problema é que os brasileiros não estão mais lá. No topo da cadeia, o trio em geral é a última parada de um jogador, sempre após a transferência mais cara da carreira. Nos últimos anos, só Neymar motivou um esforço do tipo de um deles, ao fechar com o Barcelona na temporada passada - Daniel Alves, Marcelo e Dante chegaram aos seus respectivos clubes sem status de estrelas.
Antes dele, Kaká havia trocado o Milan pelo Real, já com os italianos em crise, mas não deu certo em Madri. Outros astros da geração do meia, como Ronaldinho Gaúcho e Adriano, também tiveram problemas em suas carreiras e não se mantiveram no topo.
A ausência de toda uma geração foi, durante anos, um problema para o futebol brasileiro. Agora, os jogadores da seleção aos poucos voltam ao papel de protagonistas do cenário europeu, mas justamente por meio dos novos ricos.
Por que o Chelsea demorou?
O clube londrino, na verdade, nunca foi muito afeito a brasileiros. Desde o início da nova fase, o jogador de mais destaque no time foi o zagueiro Alex, hoje no PSG, mas sempre como coadjuvante. O próprio Luiz Felipe Scolari, em 2008, fracassou em sua incursão europeia.
Uma das explicações para essa mudança foi a entrada de Kia Joorabchian no cenário. O iraniano, que se notabilizou pela parceria entre MSI e Corinthians, é o empresário de David Luiz, Ramires, Willian e Oscar.
Todos, sob sua inflência, tiveram portas abertas no clube quando o Chelsea decidiu renovar-se. O resultado é que agora, uma década depois de ascender novamente com a injeção de dinheiro russo, o clube londrino é a cara da seleção brasileira.