Torcedor usa verde e amarelo há 20 anos e faz nova promessa para Copa

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

O Brasil sofre uma transformação em época de Copa do Mundo. Torcedores se vestem dos pés à cabeça de verde e amarelo, decoram a casa e a mesa do trabalho com as cores da seleção e até perucas e adereços espalhafatosos deixam de ser esquisitos para se tornarem figurinhas carimbadas nas ruas. Mas um torcedor em especial decidiu ir muito além disso.

O advogado Nelson Paviotti segue à risca esse ritual diariamente há 20 anos para cumprir a promessa que fez para o Brasil ser campeão na Copa do Mundo de 1994. Como a graça foi atingida, ele tem a obrigatoriedade de só usar roupas com as cores da bandeira brasileira. 

Mas o verde e amarelo já ocupou todos os lugares. No guarda-roupa não entram outros tons, e o look mais 'exótico' que Nelson se permite é o branco. A fachada da casa não foge à regra e já virou referência para taxistas e motoristas na cidade.

Na casa, da mesa de jantar à cama, do guarda-roupa aos objetos de decoração além, é claro, dos centenas de souvernis espalhados por todos os cantos. Até no escritório, os gaveteiros são amarelos. E quem achar que tudo isso é um exagero, melhor não perguntar do que ele se alimenta.

"Eu só como comida nas cores do Brasil. Substituí o feijão pela ervilha, como arroz branco, batata, macarrão. Não como carne vermelha, só peixe ou frango. E chocolate só pode ser branco".

Muitos acham que ele é louco. Outros dão risada e se divertem com a figura autêntica e nada discreta. Seu Nelson já frequentou programas de TV e virou celebridade em Campinas, onde mora. E adora.

"Pelo resto da vida vou usar verde e amarelo. Não é difícil, eu me acostumei, tudo o que compro e os presentes de ganho já são nessas cores. Todo mundo já me conhece pelo meu patriotismo, fiquei famoso".
 
Nelson não vive só da fama. É advogado e atende seus clientes na Justiça do Trabalho e no Fórum Cível devidamente uniformizado com ternos – todos eles verde e amarelo. Os dois Fuscas, com nome de famosos, também fazem jus ao gosto do dono: tanto o Romário 72, quanto a Fafá de Belém 84.

Os carros, por sinal, merecem destaque, já que ganham nova parafernália a cada Copa. Em 2002, ele não chegou a fazer promessa porque o título de 94 ainda era recente, mas escreveu o nome de alguns atletas que conquistaram o penta no possante. Agora, ele já tem novos planos para a Copa de 2014 no Brasil. 

"Vou fazer promessa, mas ainda não sei qual é. Eu não fico sabendo com antecedência. Tem que ser algo que vem na hora, do coração", disse ele. Mas um segredo Paviotti já pode contar. Vai transformar um dos carros e lançar o "Fusca Neymar". "Vou colocar muitas fotos no carro e escrever os nomes dos jogadores. Só não fiz ainda por causa dos protestos contra a Copa".

Paviotti não se considera louco, é apenas um bom pagador de promessas. A obsessão pelas cores veio à cabeça durante a Copa do Mundo de 1994, no jogo entre Brasil e Rússia, em um momento desesperado de um torcedor que não via sua seleção campeã mundial havia 24 anos. Foi aí que decretou: 'se o Brasil for campeão, vestirei as cores da bandeira para o resto da vida'.

Todo mundo ainda se lembra do pênalti perdido por Roberto Baggio e dos gritos de Galvão Bueno anunciando para o mundo inteiro 'É tetra'. No dia 17 de julho deste ano, essa história que todo mundo conhece completa 20 anos.

Ao longo dessas duas décadas, o fanatismo do torcedor já rendeu algumas situações engraçadas em diversos locais, de casamentos a velórios.  "Em todo lugar que eu vou eu chamo a atenção, as pessoas gritam 'Brasil', 'Patriota'. Eu casamento eu chamo mais atenção que a noiva, muitos nem me convidam mais porque eu apareço muito e acabo ofuscando a noiva. Em velório também é interessante. Está todo chorando e eu chego de verde e amarelo. Eu levo paz, amor, carinho e acaba todo mundo ficando alegre com a minha presença. Até a viúva, com o falecido no caixão, já disse isso para mim".

Para não descumprir a promessa, o advogado já viveu também situações embaraçosas. Certa vez, saiu para comprar cuecas, mas a loja só tinha calcinhas nas cores 'permitidas'. Ele não pensou duas vezes e optou pela peça feminina mesmo. "É uma calcinha amarela. Ninguém ia ver mesmo. Eu comprei e usei".

O amor exagerado pelas cores da bandeira também já serviu para fazer o bem. Ele costuma se fantasiar de Papai Noel e coelhinho da Páscoa nas datas comemorativas para alegrar as crianças. E, mesmo sem querer, chegou a acabar com uma disputa entre polícia e bandidos quando passou em frente à confusão com seu Fusca colorido.

Tantas histórias e cores fizeram Paviotti ficar famoso. Ele já deu duas entrevistas para o Fantástico, estampou várias capas de jornais e páginas de revistas e participou do programa da Hebe e do Superpop, na RedeTV. Chegou a se candidatar para vereador por duas vezes, em 1983 e 2006, e para deputado federal em 1986. Não levou.

Agora, com a Copa no Brasil, tem atraído a atenção de veículos de imprensa estrangeiros como a BBC, de Londres. Está ainda mais empolgado com a Copa no Brasil e segue firme com o espírito patriótico.

"O futebol não é mais como antes, é mais comercial, tem salários milionários e muitas trocas de clubes. Mas sou um apaixonado por futebol, peguei desde a era Pelé e Garrincha. Hoje, acredito que na seleção ainda existe o amor pelo futebol. E com Neymar, vamos ganhar a Copa", afirmou.

O torcedor espalha para todos os ventos que ama seu país e não se arrepende de vestir a camisa, literalmente, mas se decepciona com alguns problemas do país. "O Brasil é maravilhoso, o Carnaval, o Cristo Redentor, Copacabana, o Rio de Janeiro, as mulheres são maravilhosas. O problema é o que a gente vê no jornal todos os dias, a corrupção não acaba, é uma atrás da outra em todos os setores. A gente não perde o amor pelo país, mas é triste ver tanta corrupção", analisa.

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