Corintiano, operário morto fazia planos de ver a Copa no Itaquerão

Lucas Tieppo

Do UOL, em São Paulo

As obras do Itaquerão
As obras do Itaquerão

Há dois meses trabalhando nas obras do Itaquerão, o operário Fábio Hamilton da Cruz fazia planos de assistir a um jogo da Copa do Mundo no estádio. Corintiano fanático, sonhava em ter um filho, mesmo sendo solteiro, e pretendia comprar um carro com o dinheiro que ganharia na obra.

 

Aos 23 anos, ele morreu no último sábado depois de cair das arquibancadas móveis da arena que receberá o jogo de abertura do Mundial. O acidente aconteceu dois dias depois de surgir a possibilidade dele realizar o sonho de assistir a Copa in loco no Itaquerão. Na quinta-feira, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) anunciou que serão doados 50 mil ingressos a trabalhadores que ajudaram a construir os estádios das 12 cidades-sede.

 

"Era o Fábio quem puxava o bonde. Ele era o mais animado da turma", disse David da Silva, colega de trabalho do operário.

 

O segundo dia de perícia neste domingo apontou que o trabalhador caiu de uma altura de oito metros, afirmou o delegado Luiz Antonio da Cruz. A queda causou múltiplas fraturas, perfuração do pulmão e traumatismo craniano. Ele era contratado da WDS Construções, companhia que prestava serviços para a Fast Engenharia.

 

Fábio, David e William Barbosa – os dois últimos estavam ao lado do operário na hora do acidente e confirmam que o amigo não usava o equipamento de segurança no momento – acordavam antes das 5h e iam juntos para o canteiro de obras, em Itaquera. Os três moravam em Diadema, região metropolitana de São Paulo.

 

"Eu não sei como farei para voltar ao canteiro. Acho que não vou conseguir. O Fábio era quem liderava a turma. Na hora da bagunça ele puxava a música e na hora do trabalho era ele quem nos incentivava. Às vezes começava a trabalhar antes do horário", disse William.

 

Fábio havia sido contratado como ajudante de obras, mas desempenhava a função de montador, segundo os ex-companheiros. Ele completaria três meses no canteiro em abril. Ainda estava em período de experiência.

 

Carlos Martins, pai de Fábio, falou com a imprensa durante o velório no último domingo, no Cemitério Municipal de Diadema, e lamentava ter de voltar ao local pela segunda vez em sete meses.

 

Em agosto de 2013, Felipe, irmão de Fábio, havia sido velado no mesmo local. "Filhos, daqui a pouco o pai vai encontrar vocês, não vale mais a pena ficar neste mundo injusto", desabafava Carlos.

 

Familiares e ex-companheiros de trabalho questionam as condições oferecidas pela WDS Construções. Eles ainda relataram uma pressão exagerada para conclusão do serviço no estádio, que está com mais de três meses de atraso. O UOL não conseguiu falar com representantes da empresa. A Fest, que contratou a WDS, disse por meio da sua assessoria de imprensa que não se pronunciaria.

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