O amor vence tudo, menos a final da Copa do Mundo
Felipe Pereira
Do UOL, em São Paulo
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Zé Carlos Barretta/Folhapress
Uma das igrejas mais concorridas de SP, a Nossa Senhora do Brasil tem horário disponível na final da Copa
O medo de encontrar a igreja vazia fará o número de casamentos despencar no final de semana da decisão da Copa do Mundo, em julho. Nem mesmo as promoções de bufês, fotógrafos e empresas de decoração, que podem deixar a festa até R$ 40 mil mais barata, convencem os noivos a escolher a data de 12 de julho.
Nas cinco igrejas que mais realizam cerimônias em São Paulo, segundo lista elaborada pela Cúria, somente três casais trocarão alianças no dia em que o Mundial será decidido no Maracanã. No ano passado foram 19 casamentos nessa data.
E o fenômeno não se restringe à Igreja Católica. Um dos sacerdotes que mais celebram casamentos no Brasil, o reverendo Aldo Quintão também sentiu a diferença na Igreja Anglicana, onde a procura caiu pela metade no final de semana da decisão da Copa. O fato fez que ele lembrasse a final da Copa de 1998, quando até a Rede Globo foi fazer matéria do casal que escolheu justo o dia da decisão do Mundial para subir ao altar. Primeiro os convidados correram até o caminhão da emissora para assistir ao jogo Brasil x França. Com a derrota, quase todos foram embora. "Fiz o casamento para uma igreja vazia, que tinha apenas os noivos e umas 10 pessoas".
O temor de que a cena se repita atingiu até a Igreja Nossa Senhora do Brasil, situada nos Jardins e sonho de consumo de nove entre dez noivas de São Paulo. O local é acostumado a receber casamentos grandiosos como o do piloto Felipe Massa ou o do dono da Friboi, Joesley Batista, com a apresentadora da TV Bandeirantes Ticiana Villas Boas. A secretária da paróquia informou que no final de semana da decisão da Copa haverá dois casamentos. No mesmo período do ano passado foram oito.
A prova da influência do Mundial é que na sexta e sábado seguintes ao evento nove casamentos já estão marcados. A administração da igreja informa que o número verificado em 12 de julho é bastante atípico e o normal é uma disputa entre as noivas por datas. Há cerimônias marcadas para 2015.
Na Paróquia São Carlos Borromeu, no Belenzinho, nem a redução no preço alterou a situação. Usando os serviços de foto e vídeo credenciados, o salão saí por R$ 1,8 mil, em vez dos R$ 3,2 mil que é o valor de tabela. "Mesmo com todas estas facilidades somente um casal marcou o casamento para o final de semana da decisão da Copa", afirma a secretária Ana Paula Martins Magalhães.
Com menos gente disposta a casar, todo o setor foi afetado e os profissionais precisaram dar generosos descontos para não ficarem parados por um mês. Júlio Silveira, dono da Gllória Eventos, diz que todos os prestadores de serviços tiveram de reduzir a margem de lucro. Assim, segundo ele, um casamento para 250 convidados caiu de R$ 150 mil para R$ 110 mil – redução de 26,6%. "Aumentamos a parceria com decorador, donos de espaço e fotógrafos. Todos cederam para darmos vantagem a noiva e continuar trabalhando".
Os empresários do ramo afirmam que a diminuição nos casamentos ocorreu pelo medo de ninguém aparecer, de que passeatas atrapalhem as cerimônias e de não haver hotéis durante a Copa. O problema é bastante pertinente principalmente em São Paulo, pois a cidade tem muitos moradores de outras regiões do país.
Mesmo com tantas concessões, Silveira viu os negócios diminuírem em 31,8% - foram 15 contratos fechados para o período da final da Copa, contra os 22 nesta mesma época do ano passado. "Se não fossem as promoções a queda seria o dobro da registrada", afirma.
Na Metropole Buffet e Eventos, os descontos são de 25% e os noivos ainda contam com mais um agrado. Para cada nove convidados, o seguinte não paga. A gerente comercial Shirley Rodrigues diz que se não fosse a oferta não conseguiria clientes para os três salões que a empresa tem.
O fotógrafo Ale Borges adotou uma tática diferente. A previsão de um mês fraco se confirmou com apenas um contrato para trabalhar em casamento. Como apareceu trabalho para uma cerimônia em Milão no final de junho, ele resolveu unir o útil ao agradável. Montou uma programação para passar duas semanas na Itália e voltar quando o mercado estiver reaquecendo. "Planejei viajar na Copa porque sabia que haveria menos trabalho".