Paolo Rossi grava comercial, cai em pegadinha e descobre foto de 1982

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

  • Arquivo/Folha Imagem

    Carrasco da Copa do Mundo de 1982 esteve no Brasil para gravação de comercial

    Carrasco da Copa do Mundo de 1982 esteve no Brasil para gravação de comercial

O revés do Brasil na Copa do Mundo de 1982, disputada na Espanha, motivou uma das capas mais icônicas da história do jornalismo esportivo no país. Um dia depois da derrota para a Itália no estádio Sarriá, o "Jornal da Tarde" estampou na primeira página um garoto de dez anos, vestido com a camisa da seleção, com expressão que misturava tristeza, choro e orgulho. Abaixo da imagem, apenas o texto: "Barcelona, 5 de julho de 1982". Mas Paolo Rossi, que era atacante e marcou os três gols italianos naquele jogo, desconhecia essa história. Tanto é que ele caiu em uma espécie de pegadinha ao gravar um comercial neste ano.

Rossi foi convidado pela agência de publicidade AlmapBBDO para fazer uma campanha para a operadora de cartões Visa – a peça também teve participação do francês Zinedine Zidane, outro carrasco da seleção brasileira em Copas do Mundo.

A gravação também contou com José Carlos Villela Júnior, 41, advogado carioca radicado em Florianópolis. Ele foi incitado pela produção a interagir com Rossi durante todo o período da gravação. No almoço, por exemplo, o italiano e o Villela Júnior foram colocados frente a frente na mesa.

"Conversamos em um portunhol com um pouco de italiano. Eu consigo entender. Falamos sobre futebol, mas sem dar a entender quem eu sou. Ele ficou contente, deu risada e agradeceu. Ele é muito simpático e conhece futebol brasileiro. O Paolo Rossi é amigo de alguns jogadores que atuaram naquela época", relatou Vilella Júnior.

Depois de dois dias de gravação, a produção foi ao quarto de Paolo Rossi em um hotel de São Paulo. Inicialmente, o italiano achou que aquele momento era para imagens complementares do comercial. Ele foi questionado sobre a Copa do Mundo de 1982 e deu algumas respostas sobre futebol para a câmera.

Só depois é que a produção perguntou a Paolo Rossi se ele conhecia a imagem do "Jornal da Tarde". O italiano admitiu que nunca tinha visto a capa, e então os responsáveis pelo comercial o questionaram sobre o menino. Era Vilella Júnior, que entrou no quarto nesse momento.

"Ele fez uma expressão de impacto quando viu a foto. Ficou meio admirado. E quando me chamaram, ele não entendeu nada. Ficou surpreso", relatou o advogado, que já está acostumado a ser constantemente associado à imagem: "No ano passado, a capa fez 30 anos, e eu fui muito procurado. Quando o Brasil joga contra a Itália ou a Copa do Mundo se aproxima, o assunto geralmente é muito comentado".

José Carlos Vilella, pai do menino da foto, também era advogado. Ele trabalhou no Fluminense e foi convidado por João Havelange, presidente da Fifa, para viajar com a família e acompanhar in loco a Copa do Mundo de 1982.

A foto foi tirada por Reginaldo Manente, que ganhou um Prêmio Esso, máxima láurea do jornalismo brasileiro, pela imagem do Sarriá. Vilella Júnior, assim como Paolo Rossi, levou tempo até saber que a foto existia.

José Carlos Villela na capa do "Jornal da Tarde" em 82

"Eu só fui tomar conhecimento depois da Copa do Mundo de 1986. Um amigo do meu pai estava assistindo a um programa de TV em São Paulo, com o pessoal falando da derrota do Brasil, e apareceu a foto. Ele me reconheceu porque estava conosco no grupo que acompanhou a Copa, ligou para o meu pai e contou", contou o advogado.

A partir daí, a foto foi um elemento presente em toda a vida de Vilella Júnior. Em 1990, por exemplo, o protagonista da foto esteve entre os entrevistados no programa da apresentadora Hebe Camargo.

Quatro anos depois, o pai de Vilella Júnior abriu a casa da família para uma série de jornalistas. A pauta era acompanhar a decisão da Copa do Mundo dos Estados Unidos, entre Brasil e Itália, com o menino que havia chorado em 1982.

"Meu pai adorava essa fama, essa história de estar na mídia. Ele convidou jornais, revistas, e pouco tempo antes de começar o jogo eu tive um frio na barriga. Desapareci. Dei um bolo, um cano em todo mundo, e fui me esconder na casa de um amigo. Além de querer ver o jogo sossegado, fiquei com aquele receio: imagina se o Brasil perde de novo?", contou Vilella Júnior. Depois da decisão, jornalistas chegaram a procurar por ele. O garoto, então com 22 anos, voltou e conversou com eles: "Meu pai me olhava e queria me matar. Ficou uns três meses sem me dar mesada e sem falar comigo. Quase me deserdou".

Vilella, o pai, morreu em 2000. O filho, em busca de qualidade de vida para a família, mudou-se para Florianópolis. Ele trabalha desde 2008 em um escritório particular de advocacia na Lagoa da Conceição.

A foto, porém, sempre volta a "assombrar" a vida do advogado. Foi assim no ano passado, quando a capa do "Jornal da Tarde" completou 30 anos. Foi assim neste ano, com a gravação do comercial para a Visa.

"Eu nunca cheguei a ser abordado na rua, mas quem me conhece e conhece a história sempre brinca comigo. Agora, com a propaganda, nem se fala. Ligaram para minha mãe. Muita gente quis falar sobre o episódio", afirmou Vilella Júnior.

 

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