Brasil do sorteio parece peça de propaganda da Embratur
Mauricio Stycer
Do UOL, em São Paulo
A imagem que o Brasil mostrou ao mundo durante o sorteio das chaves da Copa do Mundo de 2014 não difere muito dos clipes de propaganda que a Embratur usa para atrair turistas estrangeiros ao país.
Do texto oficial, lido por Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert, ao discurso de improviso da presidente Dilma Rousseff, das atrações musicais às imagens exibidas no telão, a cerimônia se construiu a base de clichês. Um atrás do outro.
"Somos um povo alegre e acolhedor. Uma terra de oportunidades", disse a presidente. "Somos um povo gentil e hospitaleiro", disse Fernanda. "Somos um só", anunciou a Rede Globo, ao dar a partida na transmissão.
O nacionalismo exagerado não foi evitado na seleção musical, destinada a dar um panorama "típico". Teve a batida "Brasil Pandeiro", de Assis Valente, na voz de Alcione e Emicida (uma mistura ousada, pelo menos), "1 a 0", de Pixinguinha, com Vanessa da Mata e Alexandre Pires, e "We Are Carnaval", com Margareth Menezes e Olodum.
Ainda que milimetricamente roteirizada, a cerimônia não conseguiu evitar as gafes. A maior talvez tenha sido o "minuto de silêncio" em homenagem a Nelson Mandela, que durou 15 segundos.
A entrada em cena da mascote em tamanho natural, acompanhado de Marta e Bebeto, também foi um momento constrangedor. "Oi, Fuleco", disse Fernanda Lima, antes de Rodrigo Hilbert pedir: "Fuleco, dá uma dançadinha aí".
Pelé repetiu pela centésima vez a história do dia em que viu seu pai colado ao rádio chorando a derrota na Copa de 50. Depois fez o prognóstico: "Acho que o Brasil disputa a final".
A transmissão da Globo ocorreu sem maiores problemas, salvo o incontrolável Galvão Bueno, que em três ocasiões falou ao mesmo tempo que os narradores oficiais, atrapalhando a compreensão do espectador.
Ao custo de R$ 26 milhões, a cerimônia de sorteio teve o mérito de prestar homenagens a grandes craques do passado. A presença de Alcides Ghiggia, autor do gol que deu a Copa de 50 ao Uruguai, foi talvez o momento mais emocionante.