Juros do Itaquerão superam R$ 90 mi e preocupam os cartolas corintianos
Pedro Lopes
Do UOL, em São Paulo
Enquanto os R$ 400 milhões do financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao Itaquerão seguem sem previsão de data para serem liberados, as obras do estádio continuam. Parte dos trabalhos foi financiada com empréstimos-ponte tomados pela Odebrecht com o Banco do Brasil e o Banco Santander, no valor de R$ 250 milhões, que vem acumulando juros.
A diretoria do Corinthians afirma que os juros dessas operações estão em cerca de R$ 70 milhões, mas o UOL Esporte apurou com pessoas ligadas ao Fundo Arena, gestor do empreendimento e do qual participam o clube e a construtora, que a quantia já ultrapassa a barreira dos R$ 90 milhões, e causa preocupação nos cartolas do clube.
A arena que terá a abertura da Copa do Mundo é a única que ainda não recebeu o financiamento do ProCopa – o prazo vencia em dezembro de 2012, mas foi prorrogado por um ano. O Blog do Rodrigo Mattos, entretanto, noticiou nesta terça-feira que existe a possibilidade de que o dinheiro seja liberado em 2014, após a conclusão das obras.
Há meses o discurso da cúpula corintiana sobre a liberação do financiamento do BNDES é o mesmo: faltam apenas formalidades para o acerto com a Caixa Econômica Federal, banco repassador da operação, e o dinheiro deve ser disponibilizado em breve. Internamente, porém, o clima é de impaciência. Já foram realizados vários adiamentos do prazo de pagamento destes empréstimos junto à construtora, em reuniões da Arena Itaquera S/A, que tem participação de Odebrecht e Corinthians. Em uma delas, em setembro, cartolas do clube revelaram que estão extremamente preocupados.
Para conter o crescimento da dívida dos juros, o Corinthians decidiu criar um fundo para antecipar as receitas de camarotes e cadeiras VIP do estádio. A operação foi aprovada pelo Conselho Deliberativo, mas a comercialização ainda não começou. A oposição do clube promete que analisará a medida nas próximas semanas, e caso discorde, ainda pode levantar algum empecilho.
Caso os juros permaneçam em aberto depois do final do ano, devem ultrapassar os R$ 100 milhões, o que equivale, aproximadamente, a um terço da receita anual do Corinthians. Isso aumentaria ainda mais o custo do estádio para o clube, já em torno dos R$ 600 milhões. No final das contas, o resultado pode ser uma dívida com a Odebrecht superior a R$ 200 milhões, isso considerando que o alvinegro consiga vender os naming rights pelos R$ 400 milhões pretendidos.
Se o Corinthians não tiver condições de arcar com o débito, a Odebrecht passará a ter direito sobre receitas geradas pelo estádio, o que inclui bilheteria. No pior cenário, a empresa acabaria virando uma espécie de gestora da arena, com direito aos lucros originalmente destinados ao clube. Essa hipótese já foi motivo de briga entre conselheiros corintianos, e é vista como desastrosa.