Embora não seja tão mainstream quanto Itaewon - bairro de Seul em que franquias de lojas ocidentais e réplicas de pubs ingleses atraem uma multidão de turistas e expatriados -, Hongdae é marcado pela badalação majoritariamente de coreanos. Um reduto hipster simbolizado pelo o salão Evanstyle, ponto obrigatório de peregrinação para os dedicados seguidores da moda capilar. Lá, em meio a goles num copo de café gelado, Bo, uma das principais estilistas do local, emite a opinião de especialista.

"Muito curto dos lados, um pouco de peso demais em cima. Não combina muito com o rosto desse menino", diz ela, apontando para a foto de Neymar na tela do tablet a sua frente.

O fato de Bo não fazer a menor ideia de quem era o dono daquele rosto mundialmente conhecido tornou a cena ainda mais curiosa. E ela manteve a postura, mesmo sendo informada pela reportagem do UOL Esporte de quem se tratava aquela foto. "Famoso ou não, eu trocaria o corte dele", completa a estilista, que chama aos gritos um colega servindo drinques para clientes nos sofás de espera. Joon serve de modelo para explicar o que ela não conseguiu com o inglês quebradiço. "Olhe para ele. Corte arrojado, mas com certo charme".

Na tarde de sexta-feira, a reação foi parecida nas vezes em que o UOL. Embora não exiba a mesma ousadia japonesa em termos de imagem e ainda viva numa sociedade altamente conservadora (há censura governamental na internet, por exemplo), a juventude coreana vem colocando um pouco as mangas – e as orelhas – de fora nos últimos anos.

"Digamos que simplesmente adotar um corte moicano oxigenado não seja a única maneira de ser menos conservador", brinca Hyun Gu, gerente do Evanstyle, cuja franja penteada para o lado decididamente remete mais a David Beckham na fase veterana do que Neymar.

Só que o brasileiro também encontra adeptos. Lee Hyong, engenheiro de som de um festival de música indie que no fim de semana será realizado numa das praças de Hongdae, não somente identifica o brasileiro nas fotos como aponta para seus cabelos arrepiados. "Temos estilos parecidos e não deixamos que os nostálgicos encham muito a paciência. Neymar tem atitude", afirma.

Mas nas ruas de Hongdae o retrô não só fala mais alto. Grita. Cortes "cuia" inspirados nos Beatles e franjas repartidas como num episódio do seriado Mad Men, que se passa entre nos anos 1960 nos EUA, ainda dominam a cena. Mesmo o catálogo de estilos do Evanstyle, que já aparece em sites franceses e americanos, conta com muito mais soluções clássicas que iconoclastas.

"Se pudesse falar com Neymar, pediria que ele deixasse crescer o cabelo para que tivesse mais opções de trabalhar o penteado. Esse estilo muito curto faz com que ele perca um pouco do charme", opina Hyori, gerente de uma loja de roupas usadas de Hongdae.