O governo federal diz estar empenhado para que o maior número de brasileiros, independentemente de sua classe social, tenha a chance de assistir a jogos da Copa do Mundo de 2014. Apesar disso, abandonou um projeto que visava justamente a ajudar pessoas que não têm computador nem acesso à internet a solicitar uma entrada para as partidas dos torneios da Fifa realizados no país.

O projeto é o Escola na Copa, criado no final do ano passado com o objetivo de "democratizar" o acesso ao sistema de venda de ingressos gerido pela Fifa. Como esse sistema dá preferência para quem solicita sua entrada via internet, o governo federal resolveu colocar à disposição dos interessados em ver os jogos das competições computadores de cerca de 400 escolas públicas, em quase cem municípios do país.

Por meio do Escola na Copa, qualquer pessoa pôde usar, sem pagar nada por isso, as máquinas das escolas para entrar no site da Fifa e pedir seu ingresso da Copa das Confederações, por exemplo. Quem não sabia usar um computador ainda contou ainda com o auxílio de voluntários para registrar seu interesse pelos bilhetes da competição.

Para a Copa do Mundo de 2014, entretanto, o projeto foi abandonado. O UOL Esporte consultou seis escolas, de seis cidades, que integraram o programa no ano passado. Todas informaram não ter recebido qualquer orientação para recolocar seus computadores à disposição dos torcedores.

"Não recebemos nenhum aviso", afirmou Carla Ferreira, diretora da Escola Municipal Lagoa Encantada, que fica na periferia de Recife. "Não vamos disponibilizar os computadores porque nem temos condições de fazer isso. Não há estrutura."

O Ministério do Esporte informou, em nota, que desistiu do Escola na Copa porque "a iniciativa não se mostrou necessária devido à baixa procura". Em entrevista ao UOL Esporte em junho, o próprio ministro Aldo Rebelo já havia observado que a demanda por ingressos da Copa das Confederações pela população mais pobre –a qual também tem mais dificuldade para acessar a internet — tinha sido pequena.

"E alguém esperava que o pessoal do Bolsa-Família ia comprar ingresso?", respondeu Rebelo, quando questionado sobre a efetividade das tentativas de popularizar o acesso às partidas dos torneios da Fifa no Brasil. O Escola na Copa, teoricamente, tinha sido criado para ajudar aos beneficiários do programa de transferência de renda federal a conseguir comprar um ingresso para os eventos.

Na Copa das Confederações, cerca de 700 mil ingressos foram vendidos. Desse total, 1.457 (0,2%) foram para beneficiários do Bolsa Família.

Oficialmente, o governo continua a declarar que está preocupado com o acesso da população de baixa renda aos estádios. Na nota enviada ao UOL, o Ministério informou que pediu e conquistou o desconto de 50% no valor dos ingressos da categoria 4 (a mais barata) para estudantes, idosos e beneficiários do Bolsa Família. Informou também que recebeu da Fifa 50 mil entradas que serão distribuídos a indígenas e famílias de baixa renda.

"A presença de brasileiros e brasileiras de todas as faixas de renda na Copa do Mundo da 2014 sempre foi uma preocupação do governo federal", complementou o órgão.