De olho no cofre

Maracanã já pronto terá mais um mês de obras para "ajustes" não divulgados

Vinicius Konchinski*

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • DHAVID NORMANDO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

    Privatização do Maracanã e custo da obra têm gerado protestos no Rio de Janeiro

    Privatização do Maracanã e custo da obra têm gerado protestos no Rio de Janeiro

A Secretaria de Obras do Estado do Rio de Janeiro decidiu prorrogar até meados de agosto o contrato para a reforma do Maracanã para a Copa do Mundo. O estádio, que já recebeu jogos da Copa das Confederações e oficialmente estava pronto para o Mundial de 2014, passará por "ajustes" por mais 33 dias a partir da semana que vem. As intervenções não afetarão a programação de jogos, segundo a concessionária da arena.

Na próxima terça-feira, o Consórcio Maracanã Rio 2014 (formado pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez) voltará a trabalhar no estádio. O consórcio, inicialmente, se comprometeu com o governo do Estado Rio de Janeiro a entregar o Maracanã pronto em dezembro de 2012. Após sucessivos atrasos, o prazo havia sido estendido até 24 de maio deste ano.

No dia 21 de maio, porém, o contrato teve que ser suspenso por causa da Copa das Confederações. O governo estadual entregou à Fifa o controle do Maracanã. Todos os contratos relacionados ao estádio tiveram que ser interrompidos, inclusive o da reforma do estádio – à época, apesar da suspensão, os trabalhos de reforma continuaram, muito embora o governo do Rio, em resposta por escrito ao UOL Esporte, tenha afirmado: "O Maracanã está pronto".

Essa suspensão acaba na próxima terça-feira. Assim, o Consórcio Maracanã já precisaria voltar ao estádio para cumprir os três dias remanescentes do acordo. Contudo, já foi definido que os trabalhos não vão parar por aí. Uma nova prorrogação, essa de 30 dias, já foi acertada. Portanto, a reforma ainda durará mais 33 dias.

"O contrato está suspenso até o próximo dia 16, quando será prorrogado por 33 dias, para que sejam feitos ajustes, sem acréscimo de custos", informou a Secretaria de Obras no início da semana. A secretaria, assim, repete a retórica de que faz uso desde quando a reforma bilionária tinha seu preço calculado na casa dos R$ 600 milhões.

Questionado pelo UOL Esporte, o governo fluminense não revelou quais são os ajustes do Maracanã. Só informou que eles são indicados pela Fifa, e recomendou à reportagem que fosse perguntar à própria quais seriam esses tais ajustes.

Já entidade que comanda o futebol mundial, por sua vez, disse que qualquer solicitação relacionada aos estádios da Copa é feita pelo COL (Comitê Organizador Local), e não por ela. A reportagem, então, entrou em contato com o COL, que declarou em nota que nenhum ajuste no Maracanã foi solicitado ao governo.

Fato é que o contrato de reforma do Maracanã já prevê que o Consórcio Maracanã Rio 2014 preste serviços de reparos ou ajustes na obra mesmo após o encerramento do contrato. Para isso, basta que o governo do Rio de Janeiro demonstre que os ajustes necessários foram motivados por erros ou falhas da construtora. Neste caso, quem arcaria com o custo seria o consórcio. A Secretaria de Obras já informou, porém, que este não é o caso.

O UOL Esporte procurou o Consórcio Maracanã Rio 2014 das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez para saber mais detalhes da volta do grupo ao estádio. As empreiteiras, porém, seguiram o exemplo dos mandatários do governo fluminense, e não deram informação alguma.

Reforma

A reforma do Maracanã para a Copa começou em 2010. Quando anunciada, em setembro daquele ano, a obra tinha um custo de R$ 600 milhões.

O tempo passou e o custo subiu. O governo chegou à conclusão de que a demolição da cobertura do estádio era necessária. Com isso, o custo da reforma chegou a R$ 859 milhões. Em maio deste ano, o governo publicou um aditivo ao contrato da reforma do estádio. A obra passou a custar R$ 1,049 bilhão.

Juntando outras adequações adicionais e outros contratos já assinados, as obras no estádio já custam R$ 1,12 bilhão, de longe a reforma de estádio mais cara da história do Brasil. Isso considerando que, desta vez, a previsão do governo se mostrará correta, e os 33 dias a mais de trabalho no Maracanã ou não terão custo nenhum.

Conforme o custo da obra ia subindo, sua entrega também ia sendo adiada. Quando o governo decidiu reconstruir a cobertura do estádio, a data de entrega da reforma passou de dezembro de 2012 para fevereiro 2013. Depois, no início deste ano, o governo anunciou que a reforma só acabaria 27 de abril.

Quando a data de entrega se aproximava, um aditivo ao contrato da reforma foi assinado estendendo o trabalho até 24 de maio. Agora, sabe-se que a reforma ainda vai durar mais 33 dias contados a partir de terça-feira.

*Atualizada às 11h20

A CULPA É DOS IMPREVISTOS

  • Folhapress

    O "imponderável" foi o culpado pelo aumento de 87% no custo da reforma do Maracanã para a Copa do Mundo segundo o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral.

    Após seu governo assinar o décimo aditivo do contrato da obra no estádio e comprometer-se a pagar R$ 1,12 bilhão pelas adequações que inicialmente custariam R$ 600 milhões, Cabral afirmou que uma "série de variáveis não esperadas" ocasionou a alteração no orçamento.

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