"Não aceito favoritismo da Espanha", diz Amarildo, herói de jogo de 62

Bruno Freitas

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • Getty Images

    Brasileiro Amarildo é abraçado após a dramática vitória sobre a Espanha na Copa de 1962

    Brasileiro Amarildo é abraçado após a dramática vitória sobre a Espanha na Copa de 1962

A partida mais importante da história do confronto entre Brasil e Espanha possivelmente tenha sido aquela de 6 de junho de 1962. Os então campeões mundiais conseguiram virar com dois gols no final para evitar a desclassificação precoce na primeira fase, em um jogo dramático em Viña del Mar, no Chile. O destaque daquele confronto foi o atacante Amarildo, que entrou em campo com a responsabilidade de substituir Pelé e saiu como um herói brasileiro de Copas.

Amarildo fez os dois gols na vitória de virada sobre a Espanha por 2 a 1 e espera que o pé quente volte a funcionar neste domingo, quando estará no Maracanã como torcedor para acompanhar a final da Copa das Confederações. Mas, assim como em 1962, contra Puskas e companhia, o atacante que ficou popularmente conhecido como Possesso diz que não concorda com a expectativa de favoritismo dos europeus, os atuais reis do futebol.

Na Copa de 62, o Brasil precisava do resultado contra a Espanha para avançar para as quartas de final, mas viu Adelardo colocar os rivais em vantagem aos 35min do primeiro tempo. Na etapa final, a arbitragem do chileno Sergio Bustamante deixou de assinalar um pênalti cometido por Nilton Santos, em jogada célebre em que a lenda do Botafogo iludiu o estádio com um passinho adiante após derrubar Collar. Nos vinte minutos finais, Amarildo escreveu seu nome como um herói do país em Mundiais.

O atacante do Botafogo marcou duas vezes, aos 27min e 41min, para dar a classificação ao Brasil em primeiro do grupo (um de pé esquerdo após cruzamento de Zagallo e outro de cabeça). Na sequência da Copa, Amarildo seguiu fundamental para a seleção, um digno companheiro para o ápice da genialidade de Garrincha.

Seleção treina às vésperas da final contra a Espanha
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O campeão mundial de 1962 falou com a reportagem do UOL Esporte no último sábado, no Rio de Janeiro, deixando uma visão otimista para o capítulo deste domingo de Brasil x Espanha. Confira a entrevista:

UOL Esporte: A Espanha vem sendo tratada como favorita para esta final, mesmo jogando no Brasil. O senhor concorda com essa visão?

Amarildo: Para os olhos do torcedor, a Espanha é a favorita. Mas eu não aceito esse favoritismo da Espanha. Porque, antes de mais nada, estamos no nosso país. O time brasileiro melhorou muito nos últimos dois jogos, conseguiu mostrar um futebol mais brasileiro. É um jogo que pode acontecer de tudo, os dois têm condições de ganhar. Todo mundo hoje conhece a força da Espanha, da posse de bola, da condição técnica, quase perfeição. Mas temos que confrontar essa maneira de eles jogarem. Os meias são especialistas em desorientar o time adversário.

UOL Esporte: Naquele jogo de 62, a Espanha tinha uma geração forte, herança dos anos dourados do Real Madrid. Eles também eram tratados como favoritos na época?

Amarildo: Tinha o Puskas, o Gento, o Di Stéfano não jogou. Era uma Espanha forte. Mas ainda bem que tinha o Possesso para dar conta do recado. Tive a missão de substituir o Pelé e felizmente tudo deu certo. Comigo no time, o Garrincha teve mais espaço, mais liberdade. A ausência do Pelé não foi sentida. Fiz aqueles dois gols, é uma grande recordação na minha vida. Eu poderia até encerrar minha carreira se não fosse bem naquele jogo, poderia ser um desastre. Mas tudo deu certo.

UOL Esporte: Dá para imaginar alguém representando neste domingo o papel que o senhor teve em 62? Teremos um novo Possesso?

Amarildo: Modéstia à parte, sou o único Possesso. Se ainda tivesse um Almir Pernambuquinho (jogador de Vasco, Santos e Flamengo nos anos 50 e 60), um cara mais endiabrado. O Neymar é muito novo para tanta responsabilidade. O time ainda tem o Paulinho e o Fred, que podem decidir.

UOL Esporte: O senhor arrisca algum placar para a partida?

Amarildo: Diria 2 a 1, como em 62. Um sinal de boa sorte. Estarei lá no Maracanã torcendo.

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