Goleada em 1950 consagrou a marcha de Carnaval "Touradas em Madri"; ouça
Mauricio Stycer
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Divulgação
Lance de Brasil x Uruguai, final de 50: dias antes, o Maracanã vibrou com a marchinha
Jogos de futebol costumam ser lembrados por golaços, conquistas heroicas, lances emocionantes ou momentos trágicos. A vitória do Brasil sobre a Espanha por 6 a 1 na Copa de 1950 talvez seja a única partida da história lembrada por causa de uma marcha de Carnaval, intitulada "Touradas em Madri".
Deu-se no dia 13 de julho, uma quinta-feira. Era a segunda partida da seleção brasileira no quadrangular final. Na primeira, vitória sobre a Suécia por 7 a 1. Contra os espanhóis, o Brasil começou arrasador e fez 3 a 0 no primeiro tempo. Os testemunhos sobre quando começou a cantoria variam. O jornalista e pesquisador João Máximo diz que foi depois do quarto gol, no início do segundo tempo.
"Eu fui às touradas de Madri e conheci uma espanhola natural da Catalunha. Queria que eu tocasse castanholas e pegasse um touro à unha. Caramba, caracoles, sou do samba, não me amoles pro Brasil eu vou partir. Isso é conversa mole pra boi dormir", diz a letra da marcha de João de Barro, o Braguinha, e Alberto Ribeiro.
Dados oficiais registram que o Maracanã recebeu o público de 152.772 pagantes, o maior da história do futebol até então (seria superado três dias depois, na final contra o Uruguai). "Era o jogo que os brasileiros mais temiam", diz João Máximo em depoimento à ESPN Brasil. O alívio com a vitória fácil levou a multidão a cantar – uma cena que virou lenda.
Braguinha (1907-2006) compôs a marcha em 1938 e chegou a ganhar um concurso de Carnaval com ela, mas foi posteriormente desclassificado porque a canção foi considerada um "paso doble".
Por que a música foi evocada por uma multidão no Maracanã 12 anos depois? Máximo tem uma hipótese. Ele se lembra que, ao chegar ao estádio para a partida, recebeu um folheto com uma versão cômica de "Touradas de Madri". Não sabe quem fez, mas se recorda que a ideia era uma provocação aos espanhóis.
A letra alterada da marcha não emplacou, mas sim a música original. "Foi a maior atuação da seleção brasileira no Maracanã", diz o pesquisador.
Em um depoimento, Braguinha contou uma história curiosa: "No Maracanã inteiro cantando 'Touradas de Madri', só uma pessoa não conseguia cantar: eu. Quando o povo se levantou no estádio em festa, a única coisa que eu consegui fazer foi chorar".
A surpresa com a cena o marcou para sempre: " Nunca esperei que Touradas de Madri, a marchinha que fiz com meu amigo Alberto Ribeiro pudesse um dia ser cantada por 200 mil pessoas de uma só vez. Por isso não cantei. Apenas chorei. Foram lágrimas doces, suaves."
*Esta versão de "Touradas em Madri" foi cedida pelo pesquisador Roberto Lapiccirella, responsável pelo site Ao Chiado Brasileiro.
Brasil 6 x 1 Espanha
Ficha Técnica
Dia: 13 de julho de 1950
Local: Maracanã (Rio de Janeiro)
Público: 152.772 pessoas
Gols: Parra (contra) 15min, Jair 21min, Chico 31 min do 1º tempo, Chico 10min, Ademir 12min, Zizinho 22 min, Igoa 26min.
Brasil: Barbosa, Ademir, Augusto, Bauer, Bigode, Chico, Danilo Alvim, Friaça, Jair, Juvenal, Zizinho.
Espanha: Ramallets, Puchades, Basora, Alonso, Gainza, Josep Gonzalvo, Marià Gonzalvo, Panizo, Parra, Igoa, Zarra.