Guru de megaeventos diz que é possível Brasil recuperar imagem da Copa 2014

Fernando Duarte

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • REUTERS/Paulo Whitaker

    Manifestantes anti-Copa em Fortaleza: Lee ainda vê caminho para reparar imagem do evento

    Manifestantes anti-Copa em Fortaleza: Lee ainda vê caminho para reparar imagem do evento

O inglês Mike Lee, cujo trabalho de gerenciamento de imagem foi um dos trunfos para que o Rio de Janeiro conquistasse o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, admite que a "marca Brasil" sofreu danos em função da violência dos protestos em diversas cidades do país.

Mas Lee, de 55 anos, que também cuidou das estratégias de comunicação da Londres 2012 e da candidatura do Qatar à Copa do Mundo de 2022, rechaça a hipótese de que os distúrbios vistos na Copa das Confederações são irreversíveis. Em entrevista ao UOL Esporte, Lee, cuja agência gerencia as relações-públicas de Belo Horizonte como cidade-sede, cita a capital inglesa, palco de violentos protestos em 2011, como exemplo de recuperação reputacional. E acusa a mídia europeia de preconceito.

UOL Esporte: Qual a sua avaliação dos danos reputacionais dos protestos?
Mike Lee:
Temos que admitir que há um problema. As imagens de protestos e violência correram o mundo e a mídia internacional ressaltou as cenas mais dramáticas. Mas não acho que a percepção negativa vai demorar muito. Não se trata de algo que deixa a marca Brasil numa situação horrível. As pessoas entendem os motivos dos protestos e a discussão sobre os problemas é madura. A visão do Brasil ainda é positiva em termos gerais.

UOL Esporte: Analistas acreditam que as cenas nas ruas farão com que muitos turistas deixem de vir ao país para a Copa do Mundo. Como contra-atacar?
Mike Lee:
É muito cedo para se afirmar qualquer coisa sobre o impacto dos protestos no número de visitantes para a Copa do Mundo. Não quer dizer que não haja trabalho a fazer. É preciso que o Brasil, sobretudo as cidades-sede, tracem estratégias de comunicação domésticas e internacionais. É hora de ser ativo. É importante mostrar o que o país tem a oferecer, em especial o fato de quem realmente gosta de futebol sonha em ver uma Copa do Mundo no Brasil. Vai da trabalho, mas não é impossível. É importante ressaltar as mensagens de legado esportivo e social.

UOL Esporte: Mas não é complicado falar em legado quando menos de um quinto das obras de infraestrutura, tirando estádios, não estão prontas?
Mike Lee:
Todo mega-evento tem período de comentários negativos, protestos e desafios. É normal que surjam debates acalorados sobre legados e atrasos nas obras. Todo mundo lembra da grande experiência que foram as Olimpíadas de Londres, mas um ano antes a cidade teve violentos distúrbios em que houve prédios incendiados e polícia nas ruas. As pessoas disseram que foi um desastre para a cidade, mas um ano depois os Jogos foram sucesso. As pessoas precisam por as coisas em perspectiva.

UOL Esporte: Os protestos pegaram muita gente de surpresa. Você também?
Mike Lee:
A intensidade me surpreendeu, assim como a escala e a violência. Há grandes problemas para resolver no país, mas mas não se pode perder de vista o que o Brasil alcançou até agora. Brasileiros às vezes são pessimistas demais sobre seu próprio país. É preciso lembrar também que a mídia europeia às vezes é muito esnobe. Parece que esqueceu de que nos últimos tempos tivemos manifestações violentas em Grécia, Turquia, Espanha. Grandes eventos esportivos tem que ser globais, girar o mundo. Não podem ser um clubinho europeu, até porque o clubinho europeu já não tem a mesma força de antes.

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