Espalhados por toda parte nos arredores do Castelão, ambulantes, voluntários, torcedores e membros da imprensa integravam o já tradicional ambiente de um estádio de futebol horas antes de a bola rolar. Outro grupo, porém, dominou a cena e chamou a atenção em um cenário preocupante nesta quinta-feira: crianças que tinham sua mão de obra explorada por conta da movimentação para a partida entre Espanha e Itália.

Orientados por quatro adultos, um grupo de 15 menores transportava torcedores, em sua maioria estrangeiros, através de um triciclo na área destinada apenas para pedestres no entorno do estádio da capital cearense.

"O patrão mandou e temos que fazer. Levamos os torcedores até a porta do estádio por R$ 5. É claro que eu não queria estar aqui, mas eles mandaram. São pessoas que moram perto lá de casa e dizem que vão me ajudar", disse D.O., de 14 anos, entre uma viagem e outra. A reportagem vai tratar os personagens com as iniciais do nome e sobrenome para preservar os menores.

O garoto ainda explicou como funciona o esquema. "Se eu fizer mais de 15 viagens, ganho R$ 50 no final do dia. Se não completar a meta, fico sem nada. É arriscado, mas tenho que tentar. Não sei o que eles podem fazer se eu não levar as pessoas para o estádio", disse o assustado menino.

Enquanto conversava com a reportagem do UOL Esporte, D.O. era alertado por outros colegas. "Vamos logo, não dá para ficar de conversa aí", gritou A.B., da mesma idade, que também trabalhava nos triciclos. Outro menor, P.R.L., de 12 anos, fazia companhia aos colegas no serviço.

Ameaças
Avistados pela reportagem no início da área de bloqueio para carros estabelecido por Polícia e organização da Copa das Confederações, os tais "patrões" se esconderam atrás de um bar e ainda ameaçaram. "Está tirando foto do que, repórter? Saia daqui, não se meta com a gente", esbravejou um adulto de aproximadamente 40 anos, antes de um comparsa tentar dar um tapa na máquina fotográfica da equipe.

Procurada para comentar o assunto, a Polícia cearense admitiu certo espanto com a situação e passou a buscar os suspeito de comandarem a exploração. De dentro de um caminhão do Centro de Controle Móvel, os militares buscavam, através de câmeras, localizar as crianças e os adultos.

Após pouco mais de uma hora de busca, a Polícia localizou os responsáveis pela exploração e fez apenas uma leve advertência.

"Identificamos os adultos e demos uma orientação antes de qualquer prisão. Conversamos, pedimos que recolhessem as bicicletas e liberassem os menores. Eles assim fizeram imediatamente. Ainda avisamos que iríamos prendê-los em caso de repetição. Estamos de prontidão agora no ponto deles para impedir qualquer nova exploração", explicou o Capitão Andrade.

Nenhum membro dos Conselhos Tutelar e de Criança e adolescente foi localizado nos arredores do estádio para falar sobre o assunto.

*Atualizada às 18h10