Baianas do acarajé "padrão Fifa" sofrem com falta de estrutura
Mauricio Stycer
Do UOL, em Salvador
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Mauricio Stycer/UOL
Mary Jane Santos e Rita Santos (dir.), presidente da Associação das Baianas de Acarajé, reclamam da Copa
Tema de uma mais apimentadas polêmicas nos últimos meses, as vendedoras de acarajé, presença constante nos estádios de futebol na Bahia, conseguiram da Federação Internacional de Futebol autorização para vender os seus quitutes durante os jogos da Copa das Confederações na Fonte Nova. Mas nem tudo saiu ao gosto.
O tradicional bolinho frito teve que se adaptar ao "padrão Fifa". Em primeiro lugar, nada de acarajé dentro do estádio, como é praxe na Bahia. Seis baianas foram selecionadas para vender apenas do lado de fora, diante de uma das entradas, limitando os negócios. "O alto-falante do estádio precisa avisar que a gente está aqui. Na hora da saída do jogo, todo mundo pode passar aqui", diz Rita Santos, presidente da Associação das Baianas de Acarajés.
Segundo problema: nada de bujões de gás ou carvão. Por razões de segurança, as baianas tiveram que se adaptar à eletricidade. Na estreia, quinta-feira (20), dia de Nigéria e Uruguai, as vendedoras usaram um forno elétrico e se atrapalharam. O fornecimento de energia também falhou. "Não vendemos quase nada", conta Mary Jane Santos.
Para o jogo entre Brasil e Itália, as baianas compraram frigideiras elétricas. Mas o fornecimento de energia continuava problemático. "O gerador não está dando conta. Toda hora cai a energia", reclamou uma baiana. "E nós temos curso com os Bombeiros, sabemos usar o gás com segurança."
Quem está acostumado a este tipo de comércio popular também estranha ver todas as baianas usando equipamentos e tabuleiros idênticos. Rita Santos garante que a padronização não foi exigência da Fifa, mas uma decisão sua, para garantir oportunidades iguais para todas. "As pessoas compram com os olhos", filosofa a presidente da associação, que representa, segundo ela, 2.800 baianas.
O sonho delas é voltar a vender acarajé dentro do estádio. Em tempos normais, elas fritam o bolinho do lado de fora e o levam, em bandejas, para a arquibancada. "Vendo aqui desde que me entendo por gente", conta Norma Ferreira, que trabalhou na Fonte Nova por 60 anos, até a interdição do estádio, em 2007. "Criei 12 filhos e cinco netos fazendo acarajé aqui", diz Desde então tem trabalhado no Barradão, mas seu sonho é voltar vender dentro do principal estádio de Salvador.
Com cardápios em português, inglês e espanhol, as baianas estão vendendo acarajé com camarão (R$ 8) e sem (R$¨6), bolinho de estudante (R$ 5),passarinha frita (R$ 5) e cocada (R$ 5).