PM avança sobre protesto e entorno do Maracanã vira campo de batalha

Bernardo Gentile e Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro*

Muitos dos 71 mil torcedores que estiveram no Maracanã neste domingo podem nem ter se dado conta. No entanto, enquanto eles assistiam à vitória de 2 a 1 da Itália sobre o México sentados confortavelmente, uma batalha entre policiais e manifestantes ocorria do lado de fora do estádio.

Tudo porque um protesto visivelmente pacífico realizado a poucos metros dali foi duramente reprimido por policiais. Cerca de mil pessoas integraram uma manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus e do custo de vida. Foram dispersados e após duas horas de "combate" e do uso de muitas bombas de gás, tiros de bala borracha e gás de pimenta.

Tudo começou por volta das 15h, uma hora antes da estreia do Maracanã na Copa das Confederações. Neste horário, os manifestantes se concentravam ao lado da estação de metrô São Cristovão, uma das três que dão acesso ao estádio.

Por volta das 15h30, eles resolveram caminhar para frente do Maracanã. A polícia rapidamente agiu para impedi-los. Fez uma barreira e avisou que só passaria dali quem tinha ingresso.

O clima esquentou rapidamente. Os manifestantes insistiram, tentaram negociar, mas a polícia não cedeu. A Tropa de Choque foi chamada e, num momento em que o protesto ocupava a Avenida Radial Oeste, a polícia avançou.

Tiros de bala de borracha e bombas de gás foram usados. Os manifestantes se dispersaram, e a polícia os perseguiu.

Parte de quem protestava correu para a estação do metrô. Homens da polícia foram atrás e chegaram a lançar bombas na passarela que dá acesso à estação.

A maior parte dos manifestantes, no entanto, cruzou a passarela sobre a linha férrea e desceu em direção ao parque Quinta da Boa Vista, que fica bem perto ao Maracanã. A perseguição prosseguiu e muita gente que aproveitava a tarde de domingo no parque, sem nem mesmo saber o que estava aconteceu, sofreu com ação policial.

Policiais soltaram muitas bombas no entorno da Quinta da Boa Vista. Chegaram a entrar no parque em busca dos manifestantes. Bombas foram lançadas até de helicópteros que monitoravam a ação dos manifestantes do alto.

Muitos idosos, comerciantes e crianças que estavam no parque tentaram fugir dos efeitos do gás lacrimogênio. Quase todos corriam em direção à estação do metrô. Contudo, por causa de toda a confusão, ela estava fechada.

A correria perto do metrô logo virou um tumulto. Para tentar controlar a situação, novamente a PM usou gás de pimenta. Pessoas passaram mal. Um senhor precisou ser socorrido pelos manifestantes.

A estação do metrô permaneceu fechada por mais de uma hora. Foi aberta novamente somente minutos antes do final da partida do Maracanã, por volta das 18h. À essa hora, cerca de cem manifestantes que haviam corrido da polícia já estavam de volta ao entorno do estádio. Novamente a tropa de choque se posicionou. O clima voltou a fica tenso, mas não houve confronto.

Quando os torcedores começaram a se encaminhar para o metrô, homens da Força Nacional cercavam os manifestantes para que eles não impedissem a passagem. Alguns protestantes estavam feridos pelos tiros da PM. Mesmo assim, ainda voltaram a gritar palavras de ordem. Foram embora alguns minutos após o final do jogo.

*Atualizada às 20h30

PM ALEGA QUE 'SALVOU' JOGO NO MARACANÃ E NEGA EXCESSO EM PROTESTO

  • Vinicius Konchinski/UOL

    A Polícia Militar do Rio de Janeiro se pronunciou logo após o fim do protesto no entorno do Maracanã. Em entrevista coletiva, o porta-voz da corporação Frederico Caldas alegou depredações, disse que a ação evitou o cancelamento da partida entre Itália e México e negou excessos contra os manifestantes.

    "Questão de excesso e limite é difícil de analisar friamente. Estavam em jogo questões sérias como a vida da cidade como um todo. Quero dividir com vocês esse dilema. Vamos nos preparar cada vez mais para evitar provocações. Foi recomendado máximo de cuidado. É chato comparar com SP [ação da polícia nos protestos de quinta-feira], mas está bem evidente o cuidado que tomamos no Rio. Houve depredação, bloqueio de vias. Se não tivesse isso, não haveria bombas e gás lacrimogêneo. Estamos calibrando nossa atuação. Não faltou preparo, equipamento, planejamento ou integração", disse.

    "As pessoas querem chegar em casa. Sou cidadão e eles não me representam. 6 milhões podem ficar reféns de 2 mil? Não estamos lá para coibir ou proibir a manifestação. Temos clareza do que ocorre e há uma perplexidade no país inteiro. Não é tão simples assim. Quem vai responder se alguém morrer na ambulância impossibilitada de andar por causa de rua obstruída? Se o Choque não tivesse agido, o evento poderia não ter ocorrido", completou.

MINISTRO CRITICA MARACANÃ, PREÇOS DA COPA E SAÍDA DE NEYMAR

  • Veja o que os torcedores estão comentando sobre a Copa das Confederações na página especial do torcedor no UOL Esporte

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