Bastidores de amistoso têm política enrustida e Felipão cornetado

Ricardo Perrone

Do UOL, em Porto Alegre

  • Almeida Rocha/Folhapress

    Del Nero, Marin e Andrés: assunto preferido dos cartolas brasileiros

    Del Nero, Marin e Andrés: assunto preferido dos cartolas brasileiros

O último amistoso da seleção brasileira antes da Copa das Confederações foi de ferveção política, ainda que a maioria dos personagens prefira dizer que não estava em Porto Alegre para tratar de articulações.

Até os participantes de um encontro com representantes de 13 federações estaduais tentaram disfarçar o tom político do encontro. "De onde a imprensa tira que marcamos uma reunião? Ninguém aqui falou de política, o pessoal está com as esposas, o intuito não é esse", dizia Francisco Novelletto, presidente da Federação Gaúcha, opositor na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e que convidou os colegas para passear na serra gaúcha.

Mas o discurso oficial não corresponde ao que aconteceu durante o passeio.  Com opositores, situacionistas e indecisos reunidos, predominaram as conversas reservadas. Divididos em pequenos grupos, ou até em pares, os dirigentes debatiam sobre Marco Polo Del Nero e Andrés Sanchez, prováveis candidatos à presidência da CBF no primeiro semestre do ano que vem. Em vão, também tentavam inventar um terceiro nome.

Niguém sabe explicar como, mas se espalhou entre os convidados o comentário de que Del Nero está "muito quieto" e de que sua situação política pode sofrer uma reviravolta em breve.

O clima de mistério e conchavo numa tradicional churrascaria de Porto Alegre aumentou graças a Virgílio Elísio, diretor de competições e único funcionário da CBF presente. Os cartolas fizeram fila para cochicharem com ele, que respondia quase sempre: "vou ver isso pra você".

Curiosamente, 12 horas depois de discutirem os mistérios de Del Nero, os dirigentes se encontravam com o próprio em almoço oferecido pelo governador Tarso Genro no Palácio Piratini. No entanto, ninguém mais demonstrava preocupação com o comportamento do presidente da Federação Paulista e vice da CBF.

E o poderoso cartola paulista chegou, silencioso, como coadjuvante de Marin. Parecia apenas um membro da trupe presidencial que conta com um ex-secretário de Ricardo Teixeira, conhecido como "carrega pasta", um ex-fotógrafo do presidente Lula, Ricardo Stuckert, e dirigentes da federação.

Marin e seu estafe chegaram atrasados, na metade do almoço, e perderam o discurso do governador. Mas deu tempo para o cartola fazer uma das coisas que mais gosta: discursar.

Logo foi embora em carro com sirene e bem protegido por seguranças em direção à Arena Grêmio. Lá, graças a agilidade de seu fotógrafo, posou ao lado de Ronaldo, que o criticou recentemente. Em outro encontro casual, deixou constrangida a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário.

Ela foi cumprimentar o governador e deu de cara com o cartola, que era ligado ao regime militar, acusado de violar direitos humanos no período da ditadura. "Vamos falar da minha camisa", dizia ela ao ser  questionada sobre Marin, chamando atenção para uma campanha de acessibilidade, já depois da partida.

Pouco depois, quem deixou o camarote da CBF foi o deputado federal Marco Maia (PT-RS). "Até que enfim ganhamos uma", comemorava ele, diferentemente de um dos dirigentes de federação que saiu vociferando contra Felipão: "Não aguento essa retranca, isso me mata", disse ele.

O corneteiro destoava ainda mais de Marin, um dos últimos a sair. "Gostei, ganhamos. Agora temos que manter os pés nos chão, não podemos entrar no clima de euforia", afirmava o presidente da CBF.  Sua empolgação aumentou ao falar da torcida gaúcha como se estivesse num palanque: "Foi um espetáculo, fomos muito bem recebidos pelo povo do Rio Grande do Sul", afirmou antes de entrar no elevador e ir embora com a certeza de que arrasou no discurso para os anfitriões.

 

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