Queda do Brasil no ranking segue padrão de últimos países-sede da Copa
Gustavo Franceschini e Luiz Paulo Montes
Do UOL, em Porto Alegre
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Wander Roberto/VIPCOMM
Desempenho da seleção brasileira e 'falta' das Eliminatórias derrubam time no ranking
Sedes das duas últimas Copas do Mundo, Alemanha e África do Sul têm algo em comum com a seleção brasileira, que se prepara para receber o torneio em 2014: a posição 'bizarra' no ranking da Fifa nos anos que antecedem seus Mundiais.
Em 2002, quatro anos antes de sediar a competição, a Alemanha ocupava a 5ª colocação e figurava entre seleções tops do mundo. Dois anos depois, em seu primeiro grande torneio em meio à preparação, já era a oitava. O pior cenário viria às vésperas da Copa. Em fevereiro de 2006, chegou ao 22º lugar, o pior de sua história até hoje desde que o ranking foi criado, em 1993.
O Brasil caminha a passos largos para a mesma situação. Do 3º posto em 2010, quando caiu nas quartas de final da Copa da África, passou para o 4º na Copa América de 2011, ao cair na mesma fase em uma disputa de pênaltis contra o Paraguai. No ranking divulgado nesta quinta-feira, o time de Felipão figura no 22º lugar, o pior de sua história.
A África do Sul também viveu cenário semelhante, mas começou um pouco melhor. Em 2006, quatro anos antes de sediar o Mundial, já tinha posição modesta - 72º, e conseguiu subir duas colocações após o primeiro grande teste para a Copa - a Copa Africana de Nações. Hoje a equipe ocupa o 60º lugar, mas poucos meses após o torneio chegaram a figurar entre os 50 melhores do mundo, em uma progressão semelhante à dos alemães, que no mês seguinte à Copa já ocupavam o 9º lugar e começaram 2007 já em 5º.
Entre a seleção brasileira e a alemã o cenário tem outros pontos em comum. A começar por uma troca de comando no 'meio do percurso'. A dois anos de sediar o Mundial, o time europeu deu vexame na Eurocopa, caiu na primeira fase e se viu obrigado a mudar o técnico - saiu Rudi Völler, no dia seguinte à eliminação, e entrou Juergen Klismann, responsável por conduzir o país à terceira posição em casa, em 2006.
Já o Brasil viveu momentos ainda piores. Trocou de comando em 2010 - saiu Dunga e entrou Mano, que deixou o cargo em 2011 ao ser demitido na troca da presidência da CBF. Era Mano, aliás, o técnico na campanha vexatória na Copa América, quando o time foi eliminado para o Paraguai nos pênaltis com um aproveitamento de 0% (quatro erros em quatro cobranças).
Comparada à Alemanha, a situação de Felipão e seus comandados ainda pode ser inferior, já que os europeus atingiram o pior ranking de sua história a três meses de sediarem a Copa. Com o Brasil, o 22º posto aparece a um ano do início da competição. Neste cenário, a Copa das Confederações terá papel importante. Contra adversários de mais peso e em torneio preparatório, uma boa campanha faria com que o ranking melhorasse. Um revés precoce, no entanto, despencaria ainda mais a seleção.
"Eles (europeus) ficam surpresos pela decadência, mas o respeito continua", afirmou Dante, zagueiro da seleção. "Eu acho que com a queda no ranking todos se perguntam o porquê da decadência da seleção brasileira no momento. Mas isso é só o momento. O respeito continua lá. Eles sabem quem é todo mundo, o Neymar, o Júlio César e outros jogadores", completou.
A queda livre da seleção no ranking é causada pela ausência de resultados positivos em grandes jogos, mas também pelo fato de não estar disputando as Eliminatórias sul-americanas - não participa de confrontos com peso 2,5 na fórmula criada pela Fifa. Na maioria das vezes, os duelos amistosos têm coeficiente 1. E até mesmo a confederação da qual o adversário faz parte influencia. Um jogo contra europeu ou sul-americano é multiplicado por um, enquanto da Oceania, por exemplo, é 0,85.
O Brasil não consegue vencer um adversário considerado da elite mundial desde novembro de 2009, quando superou a Inglaterra por 1 a 0 em amistoso disputado em Doha. Desde então, empate com Portugal, Holanda, Colômbia, Itália e os próprios ingleses, e derrotas para times como França, Argentina, Holanda, Alemanha e Inglaterra, esta última na reestreia de Felipão na seleção, em fevereiro deste ano.