Compra de sede da CBF teve aval de dirigentes que foram premiados por Marin

Ricardo Perrone e Vinicius Konchinski

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro*

  • Júlio César Guimarães/UOL

    Presidente da CBF, José Maria Marin, discursa durante anúncio da convocação da seleção

    Presidente da CBF, José Maria Marin, discursa durante anúncio da convocação da seleção

A polêmica compra da nova sede da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) foi avaliada por uma comissão montada pela entidade. Cinco pessoas, entre funcionários da confederação e presidentes de federações estaduais, aprovaram o negócio, que segundo reportagem da Folha de S.Paulo foi superfaturado. O UOL Esporte apurou que, em maio, quando a compra era analisada, dois integrantes dessa comissão desfrutavam de aumentos concedidos recentemente.

Um deles é Carlos Eugênio Lopes, diretor jurídico da CBF e que presidiu a comissão montada para avaliação da compra da nova sede da entidade. Em maio, mês em que os dirigentes visitaram o prédio na Barra da Tijuca comprado por R$ 70 milhões, Lopes tinha recém-recebido um aumento autorizado pelo presidente José Maria Marin. O salário de Lopes passou de cerca R$ 70 mil para aproximadamente R$ 100 mil por mês, segundo apuração da reportagem.

O mesmo aconteceu com o diretor financeiro da CBF, Antonio Osório, outro integrante do grupo que analisou a compra do imóvel. Assim como Lopes, Osório ganhava perto de R$ 70 mil antes de entrar para a comissão. Em maio, já ganhava cerca de R$ 100 mil por mês. Em contato com a reportagem, os dois dirigentes alegaram que não ganham essa quantia e que os aumentos aconteceram em março, "antes de se discutir a compra", sem relação com ela.

André Luiz Pitta Pires, presidente da Federação Goiana de Futebol, é forte apoiador de Marin na CBF e também foi convocado para avaliar a compra da sede. Goiás foi escolhido como Estado da preparação da seleção brasileira para a Copa das Confederações deste ano.

José Vanildo Da Silva, presidente da federação do Rio Grande do Norte, e Delfim de Pádua Peixoto, da federação catarinense, completaram a comissão. Peixoto, pouco depois de aprovar a compra da nova sede da CBF, foi escolhido chefe da delegação da seleção brasileira na Olimpíada de Londres.

Procurado pelo UOL Esporte, Peixoto defendeu a escolha da CBF. "Duvido que a CBF conseguiria achar um imóvel mais adequado", afirmou ele, que depois reconheceu ter visitado um único prédio antes de dar seu aval ao negócio.

José Maria Marin, presidente da CBF
José Maria Marin, presidente da CBF

O edifício comprado pela CBF fica em região nobre da Barra. Documentos divulgados pela "Folha de S.Paulo" informam que, meses antes da CBF pagar R$ 70 milhões pelo imóvel, ele foi negociado por R$ 39 milhões por outras empresas.

Peixoto afirmou que a CBF pagou o que o foi pedido pelo imóvel. "Eu fui à visita. Ouvi do próprio corretor que o prédio custava R$ 70 milhões. Isso é o que foi pago", disse.

Outro lado

Os presidentes das federações do Rio Grande do Norte e de Goiás também foram procurados pelo UOL Esporte, mas não atenderam às ligações da reportagem.

Já Carlos Eugênio Lopes, com Antônio Osório ao seu lado, disse, por telefone que os aumentos foram dados "em março, muito antes da compra". O anúncio do negócio foi feito em junho e a concretização aconteceu em agosto.

"Analisamos o negócio e não houve nada de anormal ou ilegal. Por isso aprovamos. Não admito que enxovalhem meu nome dizendo que recebi aumento para aprovar uma compra superfaturada. Não houve superfaturamento e não existe ligação entre o reajuste salarial e a aquisição do imóvel. Os valores também não são esses, não ganhamos R$ 100 mil", disse Lopes.

No entanto, ele  não informou quais seriam as quantias corretas O diretor jurídico falou também em nome do diretor financeiro. Em nenhum momento a reportagem afirma que os dirigentes foram comprados com aumento para aprovar a negociação.

*Atualizado às 13h55 com a posição dos diretores da CBF para a reportagem

FEDERAÇÕES VÊEM PREÇO DE MERCADO EM PRÉDIO SUPERFATURADO

  • Os presidentes das federações reunidos em assembleia da CBF nesta terça-feira consideraram normal o valor superfaturado pago por Marin na futura sede da entidade, no Rio de Janeiro . O valor pago foi de R$ 70 milhões, por oito salas comerciais e 6.642,83 metros quadrados na Barra da Tijuca, sendo que a mesma empreiteira negociou com outros intermediários cinco salas por R$ 12 milhões. "Não há o que contestar nesse valor, a diretoria da confederação examinou três avaliações de empresas renomadas do mercado imobiliário e concluiu que 70 milhões representava o valor real de mercado", disse Hélio Cury, presidente da federação do Paraná. O assunto não estava na pauta da assembleia, mas foi levantado pelos participantes para que o presidente da CBF pudesse dar esclarecimentos. Todos os 27 presidentes de federações presentes na reunião concordaram com Marin e não contestaram o valor do prédio. Até mesmo o presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Francisco Novelletto, tradicional contestador de valores e balanços apresentados pela CBF, manteve o discurso "ensaiado" sobre o superfaturamento.

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