Felipão retorna ao caldeirão do Chelsea, onde viveu passagem amarga

Fernando Duarte e Paulo Passos

Do UOL, em Londres

  • Ian Kington/AFP

    Deco e Luiz Felipe Scolari, que em 2008 eram técnico e jogador do Chelsea

    Deco e Luiz Felipe Scolari, que em 2008 eram técnico e jogador do Chelsea

Por mais calejado que seja no futebol e por mais que tente ter soado zen nas vezes em que falou sobre o assunto, Luiz Felipe Scolari não conseguirá evitar um conflito de emoções quando pisar no gramado de Stamford Bridge na tarde deste domingo para o último treino da seleção brasileira antes do amistoso com a Rússia, no mesmo local. Na última vez em que esteve na dependência principal do estádio do Chelsea, no sul de Londres, há quatro anos, Felipão viu terminar de maneira amarga seu grande sonho europeu.

Um empate de 0 a 0 contra o modesto Hull, equipe anã da Premier League, levou o dono do Chelsea, o bilionário russo Roman Abramovich, a  demitir o brasileiro após apenas sete meses no cargo. Na mesma partida, Felipão ouviu a torcida do clube londrino entoar um como com um único verso:  ''Você não sabe o que está fazendo''.

Primeiro brasileiro a treinar uma equipe inglesa, Scolari viu a empreitada ser abreviada por uma combinação entre resultados ruins e um motim liderado por estrelas do clube londrino como o alemão Michael Ballack, o marfinense Didier Drogba e o tcheco Peter Cech. O três se viram ameaçados por um projeto de renovação do elenco traçado pelo próprio Abramovich, mas também estranharam o estilo paternalista de Felipão. Sobretudo o lado mais condescendente do treinador.

Um episódio exemplifica bastante o conflito: durante a de pré-temporada, em que Felipão durante dois dias seguidos aplicou exercícios de posicionamento em situações de bola parada, Ballack reclamou  do que viu como uma repetição exagerada das rotinas. ''Vocês levaram 19 gols em bola parada nos últimos 12 meses'', foi a resposta seca do brasileiro para o meia alemão, um jogador conhecido pelo hábito de desafiar treinadores.

Mas seria simplista atribuir a queda de Scolari somente ao motim. Com o brasileiro no comando, o Chelsea venceu apenas 20 de 36 partidas, nenhuma delas um clássico – na verdade, o time londrino sofreu um 3 a 0 diante do rival Manchester United. O Chelsea conseguiu se classificar para a segunda da Liga dos Campeões e até teve uma série de 12 partidas invicto, mas quando Abramovich transformou Felipão no terceiro treinador demitido em menos de dois anos – um índice incomum para os padrões do futebol inglês – o Chelsea estava em quarto lugar na Premier League e a sete pontos da liderança. Houve ainda a eliminação na Copa da Liga Inglesa diante do Burnley.

Em todas as vezes que respondeu a perguntas sobre a experiência inglesa desde que voltou à seleção, inclusive durante a preparação para o amistoso do mês passado contra a Inglaterra, em Londres, Felipão insistiu que teve uma ótima experiência e que sentiu grato pela oportunidade. Mas o fato é que o insucesso no Chelsea fechou as portas da elite europeia para ele. De um treinador que fez a seleção portuguesa obter os melhores resultados de sua história e que foi escancaradamente cortejado para assumir a Inglaterra, Felipão acabou no Bunyodkor, do Uzbequistão antes de voltar ao Brasil e assumir o Palmeiras.

A experiência ao menos teve um impacto financeiro positivo: de acordo com os balanços financeiros do Chelsea, o festival de demissões no clube desde a chegada de Abramovich, em 2003, resultou em mais de US$ 100 milhões a uma lista de seis treinadores que receberam o bilhete azul, entres eles Scolari e o português José Mourinho. Mas, no geral, a experiência acabou acertando também na reputação da escola brasileira de treinadores, que já havia sofrido um abalo depois da passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo Real Madrid (2004-2005). 



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