Quase 90% das obras da Copa 2014 em Cuiabá estão atrasadas, diz tribunal
Aiuri Rebello
Do UOL, em São Paulo
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Aiuri Rebello/UOL
A Arena Pantanal em obras: ritmo de construção terá que ser triplicado para prazo ser cumprido
Faltando cerca de 15 meses para o início da Copa do Mundo de 2014, 87,5% das obras para a competição em Cuiabá, uma das 12 cidades-sede, estão atrasadas. Apenas três das 24 obras em execução para o Mundial da Fifa estão dentro do cronograma previsto. Destas, duas estão prontas. Ao todo, 21 delas apresentam atrasos que variam de 30 a 270 dias. Somente 16,77% dos trabalhos nos canteiros de obras na capital do Mato Grosso estão concluídos. Duas obras ainda não foram nem licitadas.
É o que aponta relatório do Tribunal de Contas do Mato Grosso, divulgado na última segunda-feira (18), sobre o andamento de todas as obras para a Copa de 2014 na capital do Estado. Na conclusão do documento, assinado por três auditores públicos externos, está escrito que o governo do Mato Grosso vai ter dificuldade de entregar tudo que prometeu até junho do ano que vem, quando começa a Copa do Mundo, e cobra informações sobre quais medidas estão sendo tomadas para agilizar o ritmo dos preparativos e entregar as obras a tempo.
No pacote de intervenções, estão a construção da Arena Pantanal e obras de mobilidade urbana, como o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e obras viárias. O valor total dos 24 contratos é de R$ 2,245 bilhões. Apenas para 2013, o orçamento do Estado do Mato Grosso previsto as para obras da Copa é de R$ 1,26 bilhão. O levantamento foi feito com dados sobre as obras até janeiro deste ano.
Casos graves
Um dos casos mais graves é o da Arena Pantanal. O relatório do Tribunal de Contas afirma que, ao contrário do que divulga o governo, a obra não está 62% pronta, e sim 47,07%. Para ser entregue dentro do prazo previsto, até outubro deste ano (o prazo inicial era em dezembro de 2012), o ritmo dos trabalhos deve triplicar. O Tribunal de Contas também manifesta preocupação com o processo de saída da Construtora Santa Bárbara do Consórcio responsável pela obras.
A saída da empreteira do projeto e a necessidade de triplicar o ritmo dos trabalhos foram reveladas pelo UOL Esporte no dia 11 deste mês. Inicialmente, a construção do estádio estava orçada em R$ 342 milhões. Hoje, depois de uma série de termos aditivos, está em R$ 519 milhões.
Outro caso que preocupa os conselheiros do Tribunal de Contas de Mato Grosso é a construção da trincheira (espécie de cruzamento em desnível entre duas vias de grande porte) Santa Rosa. A obra, orçada em R$ 23 milhões, deveria ter sido entregue no início de março, mas está cerca de 20% concluída.
Após o não cumprimento do prazo, o governo de Mato Grosso cancelou o contratado com a empreiteira responsável, conforme revelou nesta segunda-feira (18) o UOL Esporte. Agora, o governo estadual fala em um contrato de emergência, sem licitação, para a obra ficar pronta a tempo.
O relatório do Tribunal de Contas aponta também que Mato Grosso ainda "não obteve os benefícios da isenção tributária do programa federal Recopa, referente às obras dos estádios para a Copa do Mundo. Esse atraso está trazendo prejuízo aos cofres públicos, já que os benefícios não retroagem".
'Situação preocupante'
"É preciso dar mais celeridade nas obras", afirmou o conselheiro Antonio Joaquim, relator das contas dos projetos previstos para a Copa do ano que vem em Mato Grosso. "A situação é preocupante, precisa melhorar o ritmo", diz ele.
De acordo com Joaquim, a legalidade e a lisura dos contratos firmados para o Mundial ainda não foram analisadas pelo Tribunal de Contas de Mato Grosso.
O relatório conclui ainda que a lentidão nas obras viárias causa transtorno para a população da cidade, já que o trânsito provocado pelas interdições e desvios é caótico. "A lentidão na execução das obras de mobilidade urbana está prolongando os transtornos ao trânsito de Cuiabá e Várzea Grande. A agravar esse quadro soma-se o abandono de obras de desbloqueio (como as obras nas avenidas Mário Palma, Senegal e Mangueiras) planejadas para mitigar os transtornos dessas obras de mobilidade", diz o documento.
Procurada pela reportagem, a Secopa-MT (Secretaria Extraordinária para a Copa) não respondeu.
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