Três estádios da Copa-2014 têm assentos que desrespeitam norma federal

Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

  • Portal da Copa (Erik Salles/Bapress)

    O plantio do gramado da Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), foi concluído no dia 21 de janeiro de 2013

    O plantio do gramado da Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), foi concluído no dia 21 de janeiro de 2013

Três estádios da Copa do Mundo 2014, Arena Pernambuco, Arena Fonte Nova e Arena da Baixada, terão assentos plásticos sem a certificação obrigatória do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) para esse tipo de item. Apesar do descumprimento da norma, não há fiscalização por parte do governo federal e é improvável que algum deles tenha que alterar as cadeiras.

Na prática, isso significa que a União criou uma norma para garantir a segurança das cadeiras nas arenas no Mundial, mas esta se tornará inócua. Assim, será impossível determinar se alguns assentos do Mundial atendem regras de resistência a impacto, chamas, corrosão e água, além de ter parâmetros de durabilidade. Isso é testado pelo instituto.

Foi em novembro de 2012 que o Inmetro instituiu sua portaria de número 622 que estabeleceu ser compulsória a certificação para assentos em estádios de futebol. Antes, essa norma era apenas opcional.

"A entrada em vigor da regulamentação é imediata, o que significa dizer que todos esses modelos de assentos (...) somente podem ser fabricados, importados e comercializados em conformidade com a regulamentação", afirmou a assessoria do Inmetro.

São sete as empresas que aparecem na página do Inmetro como credenciadas a produzir assentos. Entre elas, não está a Kangoo que é fornecedora da Arena da Baixada e da Arena Pernambuco. A empresa é do filho do presidente do Atlético-PR, Mário Celso Petraglia, clube responsável pelas obras no estádio em Curitiba.

Também sem certificação, a Marfinite instalou assentos na Arena Fonte Nova. A empresa tem como agência publicitária a 9ine, empresa do ex-jogador Ronaldo, membro da cúpula do COL (Comitê Organizador Local). Esse negócio foi revelado pelo UOL Esporte.

O Inmetro informou que o edital da concorrência "é o marco principal que define as regras contratuais entre licitantes e candidatos". Ou seja, se a concorrência fosse anterior a 26 de novembro, não caberia a exigência da certificação.

As contratações da Marfinite, em Salvador, e da Kangoo, em Curitiba, aconteceram em outubro de 2012. Na concorrência da Arena da Baixada, aliás, o Atlético-PR alegou que a Kangoo, apesar de ter uma proposta mais cara, tinha maior qualidade nos assentos do que os rivais. Um dos concorrentes era a Ufficio, que fez proposta de preço inferior ao da vencedora e tem certificação.

No caso da arena próxima a Recife, a data do anúncio do vencedor é o início de dezembro, mas a concorrência pode ter acontecido antes. Questionada sobre o estádio, a Odebrecht, responsável pela obra em Pernambuco e na Bahia, afirmou que os assentos da Kangoo estarão certificados antes da Copa das Confederações.

"Os modelos dos assentos contratados para a obra da Arena Pernambuco, através da Odebrecht Infraestrutura, à empresa Kango Brasil Ltda, seguem todos os requisitos de qualidade estabelecidos nas portarias do Inmetro n° 590 e 622", explicou a assessoria da Odebrecht.  "A certificação dos assentos junto ao Inmetro está na reta final do processo, dentro dos prazos e consoante ao estabelecido nas referidas portarias."

O UOL Esporte questionou a Marfinite e a Kangoo sobre a falta de certificação de seus produtos, mas não obteve resposta até esta sexta-feira.

De qualquer maneira, segundo o Inmetro, "cabe ao administrador da obra negociar com o fornecedor as condições para que forneça os assentos devidamente certificados". Em um documento a um dos administradores de estádios, obtido pela reportagem, o Inmetro foi mais incisivo ressaltando a necessidade de os produtores de assentos se certificarem.

A "Folha de S. Paulo" informou ainda que o Itaquerão também receberá cadeiras Marfinite. Nenhuma das empresas confirmou a informação. A Odebrecht, responsável pela contratação, apenas informou que, neste caso, que os assentos terão certificação.

"Os assentos contratados pela Arena Corinthians são exclusivos em design, e portanto, foram desenvolvidos especificamente para atender às necessidades do clube e exigências da FIFA.  O processo de certificação feitos em laboratórios credenciados pelo Inmetro para atendimento às normas ABNT iniciará ainda neste mês de março de 2013 e estará concluído antes do início da fabricação (previsto no planejamento para agosto de 2013)", informou a assessoria da empreiteira.

Os outros quatro estádios na Copa das Confederações, Estádio Nacional, Maracanã, Castelão e Mineirão, têm assentos de produtores com certificação do Inmetro.

A questão é que não há nenhuma fiscalização federal em cima dos assentos, apesar da existência de uma norma para regulá-los. A assessoria do Inmetro informou que o órgão "não possui competência para atuar nessa área - fiscalização de estádios esportivos". O organismo federal também não soube dizer quem faria essa verificação, informando que deveriam ser "ouvidas os órgãos e federações esportivas", além de administradores das arenas.

O COL ou a CBF não tem incumbência de fiscalizar normas federais. Com essa brecha jurídica, não sabe em que qualidade de assento parte do torcedor brasileiro vai sentar na Copa das Confederações e na Copa-2014. 

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