Obras atrasadas influenciaram no alagamento do Maracanã
Rodrigo Mattos e Vinícius Konchinski
Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro
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Genilson Araújo/Agência O Globo
Maracanã amanhece alagado na quarta-feira (6) após forte chuva que atingiu o Rio de Janeiro
O alagamento do Maracanã poderia ter sido ao menos minimizado se a Prefeitura do Rio de Janeiro não estivesse atrasada na realização de obras para contenção de enchentes na região do estádio. A imagem da arena alagada repetiu-se nesta semana, o que causou preocupação na Fifa que deveria inspecionar a arena. Anteriormente, uma visita anterior do COI (Comitê Olímpico Internacional) também não pôde ser realizada por causa do excesso de água no local.
Desde 2010, há um projeto em curso para reduzir o impacto das chuvas na região da Praça da Bandeira e do Maracanã, locais históricos de incidência de enchentes na cidade por ser um mangue em região baixa da cidade. A previsão é de que tudo esteja pronto no primeiro semestre de 2014, embora o prefeito Eduardo Paes já tenha falado em "meados" do ano. Certo é que pelo menos uma parte do projeto deveria ser concluído no final de 2012. Isso não aconteceu.
O secretário de obras do Rio de Janeiro, Alexandre Pinto, negou demora na conclusão desses projetos. Mas a própria secretaria e Eduardo Paes reconheceram que há atraso na entrega do reservatório da Praça da Bandeira, que já ajudaria a minimizar as enchentes. Suas obras estão 70% executadas e, quando estiver concluído, poderá receber 18 milhões de litros de água.
Por sorte, para os organizadores do Mundial, a principal competição do futebol e a Copa das Confederações ocorrerão no inverno carioca, quando há pouca incidência de chuva na cidade. Mas há sempre possibilidade de temporais surpreendentes, e os que ocorrem no verão atrapalham as obras e causam danos ao estádio, cujas reformas também estão atrasadas.
Foram as duas competições o principal motivo para a prefeitura, finalmente, decidir em 2010 realizar a construção de cinco piscinões, a canalização do Rio Trapicheiros e a transposição do Rio Joana, ambos na região do Maracanã. O objetivo era redirecionar as águas dos rios que vêm do maciço da Tijuca, e alagam a região da Praça da Bandeira, zona norte do Rio de Janeiro. Já os reservatórios têm como função absorver o excesso de água.
Em dezembro de 2010, o governo federal liberou R$ 293 milhões para o projeto. A conclusão das licitações dos dois projetos só ocorreu no final do ano seguinte. O início das obras foi anunciado com pompa em janeiro de 2012.
"Na verdade, a gente sempre trabalhou as obras para 2014. Tínhamos uma intenção de entregar alguns reservatórios em 2013. No caso do reservatório da Praça da bandeira, ainda trabalhamos com a possibilidade de entregar no primeiro semestre de 2013", afirmou Pinto.
O primeiro reservatório, que já aliviaria um pouco o problema, deveria ter sido concluído no final de 2012. Agora, seu prazo é abril. Motivo: durante a execução do projeto, percebeu-se que o piscinão ficaria em uma região de mangue e, por isso, teria de ser reforçado. Outros dois reservatórios também tiveram seus locais modificados.
"A previsão inicial de entrega era dezembro, mas com o detalhamento do projeto executivo precisou que outro método construtivo fosse aprovado, que demandou um tempo maior de execução, mas garante recorrência à obras. Detalhamento do projeto precisou que outro método construtivo fosse aprovado", afirmou a secretaria de obras.
REUNIÃO NO RIO APRESENTA CRONOGRAMAS DO MARACANÃ À FIFA
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Em encontro com a Fifa, Comitê Organizador Local (COL) e o Governo Federal, nesta sexta-feira o secretário da Casa Civil, Régis Fitchner, que representou o governador Sérgio Cabral, reiterou que o Maracanã estará pronto até o dia 27 de abril.
A reunião ocorreu no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro.
"Sabemos que não temos um cronograma fácil, mas o Maracanã estará pronto para receber eventos-teste no dia 27 de abril. No total, organizaremos dois eventos fechados e um grande evento para o público como parte da preparação para a Copa das Confederações da FIFA", explicou Régis Fichtner, ao site da Fifa.
São 6 mil pessoas trabalhando na construção do Maracanã.
Outra questão que incrementa o alagamento é o fato de o gramado do Maracanã já ter sido rebaixado em reformas anteriores. Hoje, fica a apenas 0,5 metro do lençol freático. Até pelas limitações de espaço no subsolo, seu sistema de drenagem é por escoamento, e não a vácuo como tinha pedido a Fifa.
"O período da Copa não é um período de verão, quando temos as maiores pancadas de chuva. Nenhuma das obras também um compromisso para a Copa", salientou Pinto.
Entre as outras partes da obra, o reservatório da Vanhargem e de Niterói, que vão receber o excesso de água do Rio Maracanã, nas região do entorno do estádio, começaram a ser executados no dia quatro deste mês. Outros dois piscinões ainda não tiveram o início de suas obras, que a prefeitura promete para este semestre.
Em relação aos rios, a canalização do Trapicheiro tem 90% do total realizado, enquanto os desvios do Rio Joana só tem 5% de seu túnel executado.
Além dos atrasos das obras, outro problema é que especialistas não têm certeza de que a questão das enchentes será solucionada com todos os investimentos públicos feitos com reservatórios e desvio dos rios. Engenheiros e especialistas ambientais apontam que os rios se transformaram em esgoto cheios de lixo e, por isso, devem gerar grande número de detritos nos piscinões.
Essa questão será respondida no futuro. O certo é que, pelo menos até 2014, o Maracanã ainda estará sujeito a outros alagamentos.