Evento tradicional de São Paulo, Parada Gay entra em conflito com Mundial de 2014 por causa de datas

Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

  • Joel Silva/Folhapress

    10.jun.2012 - A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo reuniu cerca de 270 mil pessoas no ano passado

    10.jun.2012 - A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo reuniu cerca de 270 mil pessoas no ano passado

A Prefeitura de São Paulo terá de resolver um conflito de datas entre a Copa do Mundo e a Parada Gay de 2014. Um dos principais eventos turísticos paulistanos, o evento contra homofobia tradicionalmente ocorre em junho, no feriado de Corpus Christi, justamente no período em que estão previstos jogos do Mundial na cidade. A gestão de Gilberto Kassab tentou mudar o mês da mobilização, mas isso não é aceito pelos organizadores da marcha. Agora, a questão está em aberto.

Há duas discussões em curso por conta das datas sobrepostas: a sobrecarga da capacidade hoteleira e o uso de efetivos de funcionários públicos para organização, como policiais, guardas de trânsito e lixeiros.

A Parada Gay reuniu 270 mil pessoas em 2012, segundo medição do Datafolha. Os organizadores estimam o número em mais de 2 milhões. O fato é que o evento gera ocupação de 100% dos hotéis econômicos e supereconômicos da região da Av. Paulista, já que cerca de 30% dos adeptos são turistas nacionais ou estrangeiros.

Segundo estimativa da prefeitura paulistana, a abertura da Copa e os outros jogos devem levar em torno de 460 mil visitantes a São Paulo, também entre brasileiros e pessoas de pessoas de outra nacionalidade. Já existem 111 hotéis relacionados na lista da Fifa (Federação Internacional de Futebol), ou seja, que têm contratos com a Match, empresa que cuida da hospedagem do Mundial. Assim, seus leitos já estão comprometidos, por contrato, com a empresa.

São Paulo tem em torno de 100 mil leitos, enquanto a Fifa recomenda, para seus contratos, 20.600. Mas a maioria dos turistas viaja para o Mundial sem os pacotes oficiais da Match.

Por isso, o então Comitê de Copa de São Paulo, no primeiro semestre de 2012, procurou a Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo para dizer que queria o evento em maio, e não em junho. "Não foi um pedido, era como uma imposição", afirmou o assessor de comunicação do grupo, Leandro Rodrigues.

A associação não aceitou a mudança, alegando que junho é um mês simbólico para o público gay porque foi quando ocorreu em 1969, em Nova York, a primeira revolta de homossexuais contra a repressão policial. O movimento se iniciou como uma reação a uma batida no bar Stonewall Inn, na cidade. Depois disso, a Parada passou a ser realizada neste mês e espalhou-se pelo mundo.

Restrição da Fifa

Em São Paulo, ela tem sido realizada no domingo do feriado de Corpus Christi. Em 2014, cairia no dia 22 de junho. Mas há um jogo do grupo B no Itaquerão justamente no dia 23. O contrato entre prefeitura e a Fifa diz: "nenhum evento cultural importante (como concertos musicais) que reúna um grande número de pessoas que não sejam os concertos ou eventos culturais aprovados pela Fifa, organizados em conexão com a competição, deverá ser organizado ou deverá ocorrer dentro de um período que começa um dia antes de um jogo na cidade e termina um dia após um dia de jogo".

Ou seja, a Parada não seria permitida no dia tradicional do feriado. A Associação da Parada Gay ainda não fez exigências em relação ao dia de Corpus Christi, mas quer o evento mantido para junho. "Recebemos a garantia da Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual de que poderíamos fazer em junho", afirmou Rodrigues.

Dentro da prefeitura, não há essa certeza: o assunto ainda está em discussão. Tanto que a SPCopa, órgão do município para o Mundial, deu uma resposta neutra sobre o assunto, apenas ressaltando que ainda haverá uma decisão sobre o tema.

"A SPCOPA tem a missão de preparar em São Paulo uma Copa do Mundo marcada pela inclusão, pela diversidade e pelo respeito às comunidades. Nesse sentido, todas as ações da Administração Municipal para o torneio serão pautadas pelo diálogo e pela transparência, em particular com os organizadores da Parada do Orgulho LGBT, que mantêm uma parceria bem-sucedida, de longo prazo, com a Prefeitura de São Paulo", disse a assessoria da SPCopa.

O UOL Esporte apurou que, na gestão Kassab, houve uma sugestão dentro da Prefeitura de alterar o lugar da parada Gay para mantê-la em junho. A praça Campo de Bagatelle foi um dos lugares pensados por essa administração. Mas os organizadores do evento também descartam essa alteração, dizendo que os manifestantes irão para a Av. Paulista de qualquer maneira.

Além do domingo do feriado, há outros quatro dias nos quais a Parada Gay poderia ser realizada, sendo dois antes da abertura da Copa: 1º de junho e 8 de junho, sendo este a apenas quatro dias da abertura do Mundial. Esse período já recebe bastante turistas.

"Se for antes de um jogo grande, como o do Brasil, ou de times como México e Argentina, seria bastante complicado. Acho até que a capacidade hoteleira comporta. Mas a logística da cidade, principalmente os hotéis da Paulista, seriam bastante afetados", explicou Bruno Omori, presidente da Associação Brasileira de Hotéis-SP. "Dá para fazer se for em um intervalo maior entre os jogos."

Há ainda os domingos de 15 e 29 de junho, que seriam entre jogos do Mundial, sendo a segunda data dois dias antes de uma quarta-de-final.

Durante a Copa de 1994, Nova York recebeu os Jogos Gays ao mesmo tempo em que havia jogos da competição. A estimativa da época é que cerca de 1,2 milhão estiveram na cidade, público que seria similar ao que iria a São Paulo com os dois eventos realizados ao mesmo tempo.

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