Dinheiro para compra e demolição do Museu do Índio custearia reforma, diz especialista

Isabela Vieira

Da Agência Brasil, no Rio de Janeiro

  • Celso Pupo/Fotoarena/Estadão Conteúdo

    Índios protestam contra demolição do Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã (12.jan.2013)

    Índios protestam contra demolição do Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã (12.jan.2013)

 O dinheiro investido na compra e na demolição do prédio do Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, que ultrapassa R$ 60 milhões, pagos pelo governo do Estado, dava para investir na recuperação do imóvel. Atualmente ocupado por cerca de 20 índios, o local será esvaziado e demolido assim que o governo estadual tiver um mandado judicial.

"O governo esta comprando esse imóvel do governo federal para poder demoli-lo. Depois, vai pagar pela demolição. Ou seja, juntando essas duas quantias, é dinheiro suficiente para recuperar o imóvel, [a demolição] não faz sentido", declarou o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ  (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Roberto Anderson Magalhães.

Segundo a Casa Civil do estado do Rio de Janeiro, foram pagos R$ 60 milhões pelo imóvel e estão previstos mais R$ 586 mil pela demolição, contratada pela Secretaria Estadual de Obras.

Na avaliação do professor, a desculpa do governo para justificar a demolição - de facilitar a mobilidade dos frequentadores do Estádio Jornalista Mario Filho, o Maracanã - encobre a intenção de construir um estacionamento no terreno.

"O argumento de que tem que demolir para dar vazão [aos torcedores] é furada", disse Magalhães. "Digamos que essa é a desculpa escondida, porque o governo alega que precisa de espaço no solo para dispersão do público a pé. Mas os cálculos, dizem que não [que o prédio não atrapalha]".

Prédio tem solução

De acordo com o especialista, que fez um estudo sobre o escoamento dos torcedores para a Defensoria Pública da União (DPU) no Rio de Janeiro, é "tranquilamente" possível dispersar o  público "com folga" do estádio. Ele lembra  que a arena, que já recebeu 190 mil pessoas na final da Copa do Mundo de 1950, terá capacidade reduzida para 76 mil torcedores após a reforma, em maio.

A demolição do prédio pode ser decida a qualquer momento pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que julga um recurso contrário à demolição apresentado pelo Ministério Público Federal. Na ação, o procurador alega que o imóvel tem valor inestimável e deveria ser protegido.

"O prédio tem solução, as paredes foram construídas com espessura grossa e nenhuma está abalada. As lajes se assentam sobre via metálicas, coisas bastante forte. Está tudo tranquilo, o que há é uma deterioração da cobertura e esquadrias", descreveu Magalhães, sobre o prédio, em ruínas.

Canetada

Perguntado sobre a decisão do  prefeito Eduardo Paes de autorizar a demolição do antigo Museu do Índio, contrariando parecer do Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio, o arquiteto da UFRJ, diz que o que chama de "canetada" tem interesse políticos e é um contrassenso. Segundo ele,  mesmo sob pressão, o conselho "tomou uma decisão corajosa" de manter o prédio em pé.

"É uma afronta porque o conselho tem representantes de diversos  órgãos e entidades sérias, como o Instituto dos Arquitetos [do Brasil] e pessoas nomeadas pelo prefeito. Quando ele convida essas pessoas [para o conselho do patrimônio], está confiando na capacidade deles, não são técnicos recém-reformados, são pessoas com larga história na área de patrimônio", criticou

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse hoje (15) que a decisão levou em conta o desenvolvimento no entorno do estádio e a melhoria no fluxo de pessoas. "Conselho é para aconselhar. No meu despacho, colocamos o dilema da preservação do prédio que tem algum valor histórico e o interesse da cidade. O chamado Museu do Índio é um espaço que nem preservado é", argumentou.

Construído há 147 anos, o prédio do antigo Museu do Índio abrigou a sede do Serviço de Proteção ao Índio, antecessor da atual Fundação Nacional do Índio (Funai). De 1953 a 1977, o museu, criado pelo antropólogo Darcy Ribeiro, funcionou no local até ser transferido para outro bairro.

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