Projeto mineiro quer fazer barulho de torcida virar energia sustentável em estádios da Copa

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

  • Thiago Bernardes/UOL

    Decibéis emitidos pela torcida podem criar energia, segundo estudo de grupo de engenheiros

    Decibéis emitidos pela torcida podem criar energia, segundo estudo de grupo de engenheiros

Depois da Copa da vuvuzela em 2010, um grupo de estudantes de Minas Gerais pretende dar um outro significado para o conceito de barulho em um Mundial da Fifa. Três jovens engenheiros desenvolveram um projeto que propõe transformar os ruídos emitidos pela torcida em energia sustentável.

A ideia de Carla de Campos, Filipe Modesto e Fabrício Dutra é implantar a inovação em algum estádio da Copa de 2014 no país. Os estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais trabalharam em medições em estádios mineiros e agora buscam dinheiro para viabilizar um protótipo do projeto.

TRANSFORMANDO SOM EM ENERGIA

A captação dos ruídos é realizada por meio de aparelhos distribuídos em pontos estratégicos próximos à fonte ruidosa (torcida). Esse aparelho, denominado Gerador Elétrico, tem a forma de um cone e possui em seu interior uma bobina composta por várias espirais, todas sujeitas a um campo magnético produzido por um imã.

Ao captar as ondas sonoras produzidas pela torcida, a bobina se movimenta linearmente. O imã, por sua vez, ao se aproximar desta, produz uma corrente elétrica e, ao se afastar, cria uma corrente de sentido contrário - tudo isso ocorre por se tratar de um circuito de bobina fechada e a presença dos polos (norte e sul) do imã.

A corrente elétrica será produzida enquanto o imã se mantiver em movimento e deslocar o mesmo com maior velocidade. A partir do momento em que houver uma imobilização do imã, a corrente é interrompida.

Inicialmente o trio de estudantes concebeu o projeto para um concurso promovido pela Siemens no começo do ano, exclusivamente para ideias de energia voltadas à Copa de 2014. Os mineiros ficaram entre os dez finalistas, apresentaram o conceito em São Paulo, mas acabaram não sendo contemplados com a ajuda destinada às três ideias eleitas.

Agora os criadores buscam parceiros para viabilizar o primeiro protótipo do projeto e dizem que precisam de um valor na casa de US$ 80 mil [levando em consideração padrões de instalação do estádio do Mineirão].

"Com a Copa é aqui no Brasil, o país tem muito o que mostrar. Mostrar o pioneirismo de uma ideia sustentável", afirma Carla de Campos, recentemente formada em Engenharia Ambiental [seus colegas de projeto estudam Engenharia Elétrica e Engenharia de Produção].

Orientados pelo professor Carlos Barreira Martinez, os estudantes trabalharam em medições no estádio de Sete Lagoas e na recente reabertura do Independência em Belo Horizonte. Pelos cálculos colhidos, dizem que poderiam recolher uma carga em torno de 14 kW, capaz de responder por parte da energia de um estádio como o Mineirão, com abastecimento de luz em corredores, banheiros e áreas comuns, por exemplo [energia suficiente para alimentar até 20.000 lâmpadas de LED].  

No trabalho de medição de decibéis em estádios de Minas Gerais, os estudantes reconheceram uma possível dificuldade para o projeto em arenas abertas, que possibilitam que o som se dissipe.

"Prejudica um pouco. Quanto mais fechado melhor. O projeto do novo Mineirão, por exemplo, já contempla cobertura quase parcial. Os estádios de Natal e Fortaleza também são praticamente todo cobertos. Quase todos os novos estádios têm essa característica, de aumentar a capacidade de captar ruídos, sem dissipar o som", diz a engenheira ambiental.

PROJETO SUGERE BATALHA DE SOM ENTRE TORCIDAS RIVAIS

Numa projeção ideal de implementação, os criadores sugerem uma espécie de disputa de torcidas para incentivar a captação do "barulho sustentável".

"Pensamos em fazer isso através de painéis de LED, uma torcida contra a outra. Talvez colocar o painel acima do placar de pontuação. Seria um gráfico de barras, para ver quem está gritando mais", descreve Carla de Campos. 

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