Ismael Vicente nem bem conhece o futebol brasileiro e já sofre com a falta de organização nos estádios do país. O bebê de apenas 1 ano e 4 meses, através de seu pai, foi obrigado a pagar R$ 80 para assistir ao amistoso da seleção brasileira em Recife, na próxima segunda-feira, às 22h, no estádio do Arruda.

Ao comprar seu ingresso e perguntar como seria o procedimento para a entrada de seu pequeno filho, o professor Abel Júnior, de 27 anos, foi surpreendido com a resposta da vendedora do guichê localizado no estádio da Ilha do Retiro.

"Não interessa a idade aqui. Se abrir o olho, já está pagando", disse a bilheteira, intrigando o cliente, em cena presenciada pela reportagem do UOL Esporte na última sexta-feira.

Sem reação, Abel sacou o cartão de crédito e fez o pagamento. "Infelizmente, não tenho opção. Ela disse que era uma norma geral e eu tive que cumprir. Achei muito estranho, mas o que poderia fazer? Viajei mais de 200km e não tenho com quem deixar meu filho. Achei que ele poderia entrar, como sempre acontece nos estádios que vou", argumentou o professor de 27 anos, que saiu de Santa Cruz do Capibaribe, na região central de Pernambuco, para passar o fim de semana em Recife e assistir ao jogo.

A norma geral citada pela vendedora, no entanto, não era executada em outros postos de venda da cidade. Nos estádios do Arruda e dos Aflitos, os responsáveis pela comercialização de ingressos informaram que crianças com menos de 2 anos não pagariam para entrar e que menores de 12 anos teriam direito ao bilhete de meia entrada.

Questionada pela reportagem, a bilheteira da Ilha do Retiro retrucou e disse que a cobrança havia sido ordenada pela Confederação Brasileira de Futebol.
"Eu não posso falar pelos outros se eles estão fazendo errado. Sei que aqui a ordem é essa. Tenho que cobrar de todos. Isso partiu da CBF", disse, sem querer se identificar.

Porém, apesar de organizar a partida, a confederação não tem responsabilidade sobre a comercialização. A empresa responsável pelo caso é a BWA, que controla a venda dos amistosos da seleção. Procurado para comentar o assunto e esclarecer o impasse nos locais de venda, o gerente regional Carlos Frederico não respondeu aos contatos feito por telefone e e-mail.

Prima leva sorte

Enquanto o pequeno Ismael foi "duramente" cobrado, sua prima teve um pouco mais de sorte. Celine Araújo, de apenas 5 anos, utilizou a meia entrada e pagou apenas R$ 40. Ainda assim, seu pai, Cláudio Rogério, teve que apresentar a carteira de estudante, o que não seria necessário em outros estádios.

"A Celine pagou meia, tudo bem, até porque tinha uma carteira de estudante. Eu nem consegui utilizar este artifício, já que meu filho ainda não frequenta a escola. Só posso lamentar. É muito triste. Espero que pelo menos a seleção me dê alegria, mesmo sem achar justo essa cobrança para ver o jogo", comentou Abel Júnior.

Sem culpa na polêmica envolvendo o pequeno Ismael, a seleção brasileira se prepara para retribuir o esforço da família do interior de Pernambuco e de tantas outras que irão ao Arruda. O time de Mano Menezes ainda realiza um treino neste domingo antes da partida da próxima segunda, às 22h.