Presidente da Fifa diz que "seria crime" revelar nomes de envolvidos em suborno na entidade

Roberto Pereira de Souza

Do UOl, em São Paulo

  • EFE

    Blatter recebe relatório sobre corrupção na Fifa e não comenta o assunto

    Blatter recebe relatório sobre corrupção na Fifa e não comenta o assunto

Em coletiva de 46 minutos, na Suíça, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse que recebeu o relatório sobre corrupção na entidade (que ele chamou de "governança transparente") mas negou que fosse tomar qualquer providência prática para punir os culpados. “Estou de mãos amarradas e não posso falar do processo que está na Justiça. Seria um crime de minha parte. Assinamos um documento em juízo”, disse o dirigente, para frustração dos jornalistas.

A coletiva foi transmitida pela internet e era muito esperada: o encontro coincidiu com a entrega do relatório indenpendente feito pelo consultor Mark Pieth sobre a corrupção e suborno de diretores da Fifa. Há dois dias, o consultor adiantou que o documento de 15 páginas "é duro" contra a entidade, que  " não não coibiu o desvio de conduta de seus agentes".

"A Fifa poderia ter evitado o problema, mas não fez nada", disse Pieth, em entrevista a Associated Press.

O processo a que Blatter ser referiu e que está na Justiça é o maior escândalo do futebol mundial, com suborno de agentes da Fifa no valor aproximado de R$ 150 milhões. Empresas de paraísos fiscais receberam suborno de Jean Marie Webber, diretor da International Sports Leisure (ISL), em troca de facilidades na venda de direitos de transmissão dos jogos das copas do mundo.

As operações ocorreram entre  1974 e 2000. Na lista de empresas suspeitas aparece a Sanud, Ovada, Beleza, Sicuretta e Garantie JH. Supostamente montadas por pessoas que falam Português, essas empresas teriam recebido cerca de US$ 60 milhões em suborno, segundo informações da BBC de Londres, que teve acesso aos documentos sigilosos. Ricardo Teixeira e João Havelange seriam dois dos principais suspeitos no  esquema.

A maior parte dos subornos teria ocorrido durante a gestão do brasileiro João Havelange na presidência da Fifa. Blatter era seu secretário geral de 1974 a 1998.

Diante dos jornalistas, Blatter se esquivou das perguntas sobre a corrupção na entidade.

“Teremos um comitê de ética novo, que será submetido ao Congresso Geral de Budapeste (Hungria), em maio. O relatório de governança apresentado pelo professor Marke Pieth foi aceito pelo Comitê Executivo e agora será submetido ao Congresso. Há um ano que proponho essas mudanças”.

Blatter foi cobrado sobre sua promessa de revelar os nomes dos envolvidos nos casos de corrupção da entidade que ele dirige desde 1974, como secretário geral e agora como presidente em segundo mandato. Ele foi reeleito em junho de 2011 com essa promessa de “limpeza ética” na entidade.

“Sim, prometi,  mas temos um contrato, um acordo com a Justiça Suíça, que nos impede de revelar detalhes dessa investigação”, defendeu-se o dirigente.

O novo comité de ética proposto pelo consultor Mark Pieth, que já foi investigador da ONU e é especialista em lavagem de dinheiro e financiamento de terrorismo, deve apurar todos os desvios de conduta dos agentes da Fifa. Pieth propôs a criação de um departamente de investigação separado de um que seria montado para julgar casos suspeitos.

Blatter assegurou ainda que uma mulher deverá fazer do Comitê Executivo brevemente e que os novos membros não precisarão ter dois anos de gestão à frente das federações nacionais. O Sudão do Sul, país criado recentemente, terá a 209a. cadeira do comitê.

Os outros detalhes mais ácidos desse relatório de 15 páginas não foram comentados durante a entrevista coletiva. Blatter se negou a falar sobre o assunto.

“Não voltaremos a casos passados, mas a proposta é investigar todas denúncias sólidas que forem apresentadas. Alguns casos estão na Justiça, cuidaremos do futuro”.

O relatório de Mark Pieth pede a criação de comitês separados de Ética, Auditoria e Conformidade (Compliance), além da criação de grupos para revisão dos estatutos e comissão independente de governabilidade.

 O jornalista Jean Francois Tanda, que exige judicialmente a revelação dos documentos de corrupção na Fifa, fez outra pergunta indigesta a Blatter.

“De onde saíram os quase US$ 45 milhões de dólares para pagamento de bônus a seus executivos?”, perguntou Tanda.

A resposta foi transferida a um gerente financeiro, que ,em segundos, deu a seguinte resposta: “

“De vez em quando, nós revelamos esses dados para efeito de imposto de renda dos beneficiários. Esse dinheiro é para pagamento de membros do comitê executivo e gerentes”.

Ninguém entendeu por que os executivos ganhavam tanto dinheiro em bônus. Mas foram impedidos de fazer mais de uma pergunta cada um.

Os dados sobre bônus a executivos estão no balanço financeiro da entidade, divulgado antes da coletiva. A Fifa anunciou que teve lucro de US$ 36 milhões em 2011.



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