MPF apura indícios de que Teixeira teria exigido dinheiro público na construção do Itaquerão
Vinícius Segalla
Em São Paulo
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Rodrigo Paiva/UOL
Kassab e Alckmin no Itaquerão; Teixeira teria pedido dinheiro a governo e prefeitura de SP para o estádio
O Ministério Público Federal está investigando indícios que recolheu a respeito de uma suposta exigência de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, à prefeitura e ao governo de São Paulo por "dinheiro para construir o estádio do Corinthians". O clube está construindo, na zona leste da cidade, um estádio que será a sede da abertura da Copa do Mundo de 2014. A prefeitura concedeu um incentivo fiscal de R$ 420 milhões ao clube. Já o Estado se diz responsável por viabilizar a construção de 22 mil lugares em arquibancadas móveis para serem acoplados ao estádio durante o Mundial de futebol.
SECRETÁRIO É CHAMADO AO MPF
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O Ministério Público Federal convocou o secretário municipal de articulação para a Copa do Mundo de 2014, Gilmar Tadeu, para explicar a simulação de concorrência pelo incentivo fiscal de R$ 420 milhões concedido ao Corinthians e à empreiteira Odebrecht para a construção do estádio em Itaquera. LEIA MAIS
Quem está no comando do procedimento é a procuradora Valquíria Oliveira Queixada Nunes, da PRR 1 (Procuradoria Regional da Republíca da 1ª Região, órgão do MPF que equivale à segunda instância da Justiça Federal). No último dia 27 de fevereiro, o assunto foi pauta na reunião da 5ª Câmara de Revisão da procuradoria. Nas palavras da ata do encontro, o procedimento serve para:
"Apuração de irregularidades praticadas pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (então Ricardo Teixeira), em reação à realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Indícios de que exigiu indevidamente, do Governo e da Prefeitura de São Paulo, dinheiro para construir o estádio do Corinthians".
Os citados indícios vêm sendo investigados pelos procuradores desde, no mínimo, dezembro do ano passado, quando estavam a cargo de outra procuradora regional, Denise Vinci Tulio, que figura como relatora do caso em outra reunião da câmara de revisão, de dezembro do ano passado. Àquela época, porém, o procedimento era descrito como a investigação a respeito de indícios de irregularidades na escolha do estádio do Corinthians para sediar a Copa. De lá até o dia 27 de fevereiro deste ano, a alusão ao presidente da CBF foi adicionada. Além disso, Denise Vinci Tulio foi promovida, e o trabalho passou às mãos de Valquíria Nunes.
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O Ministério Público Federal não passa mais informações a respeito dos procedimentos, até porque a Valquíria Nunes está participando de um evento fora do MPF e so retorna na qunta-feira, de acordo com a assessoria de imprensa do órgão.
Esta é a primeira vez que o nome de Ricardo Teixeira aparece diretamente ligado ao processo de escolha do estádio corintiano. De 2007 até 2011, a arena paulistana para receber a Copa deixou de ser o Morumbi, o plano original, para ser o estádio que o Corinthians e a construtora Odebrecht estão erguendo no bairro de Itaquera.
Uma série de polêmicas envolveu a escolha. No dia 3 de setembro do ano passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sua versão resumida sobre os fatos: “Quero lembrar que quando eu estava na presidência (até o fim de 2010), junto do prefeito Kassab e do governo de São Paulo, fizemos de tudo para viabilizar o Morumbi. Se não deu certo, vocês têm que perguntar ao Juvenal (Juvêncio), ao Ricardo Teixeira e à Fifa”, comentou, citando os nomes do presidente do São Paulo Futebol Clube e da CBF, respectivamente.
O UOL Esporte procurou a prefeitura de São Paulo e o ex-presidente da CBF para comentar o caso, mas não obteve resposta até a conclusão desta reportagem. Já o governo de São Paulo, em nota, afirma: "Todos os contratos firmados para a realização da Copa do Mundo da Fifa em São Paulo estão rigorosamente dentro da Lei. O Comitê Paulista (de organização da Copa) está à disposição dos órgãos pertinentes para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários".