Trajetória de Teixeira no futebol passa por triunfos, fiascos e suspeita de conduta criminosa
Do UOL, em São Paulo
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EFE/Antonio Lacerda
Ricardo Teixeira deixa a presidência da CBF após 23 anos
A trajetória de Ricardo Teixeira como homem público do futebol começa na década de 1980. O cartola esteve à frente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de 1989 até esta segunda-feira, quando renunciou ao cargo que ocupou por 23 anos.
Durante este tempo, colecionou escândalos, trinfos e derrotas. Se, por um lado, levou a seleção brasileira a conquistar dois títulos mundiais (1994 e 2002), por outro foi acusado de enriquecer ilicitamente graças ao cargo e de cometer crimes como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação de impostos.
Se, por um lado, é tido como o fiel reflexo do modo antigo de comandar o futebol, com conchavos políticos, contratos publicitários obscuros e campeonatos desorganizados, por outro foi um dos responsáveis de trazer de volta a Copa do Mundo para o Brasil após 64 anos. O custo deste último feito para os cofres públicos já ultrapassa os R$ 30 bilhões, e não para de subir.
RICARDO TEIXEIRA EM SEIS ATOS
O início Ricardo Teixeira foi eleito presidente da CBF pela primeira vez em 1989, com o apoio João Havelange.
No mesmo ano, criou a Copa do Brasil, torneio que conta a presença de clubes de todos os estados do Brasil. Com isso, começou a criar sua base de apoio político junto a dirigentes das federações estaduais. | |
Fiasco em 1990 Em sua primeira Copa do Mundo comandando a CBF, Ricardo Teixeira entrou em conflito com os jogadores graças a uma questão de patrocínio. O cartola fechou um contrato milionário com a Pepsi para ostentar a marca da fábrica de bebidas nas camisas de treino da seleção. Os jogadores reivindicaram participação no negócio, mas Teixeira negou. Em represália, os jogadores passaram a encobrir a propaganda estampada na camisa. A seleção foi eliminada nas oitavas de final da competição. | |
Os triunfos Após ser derrotada nas oitavas de final contra a Argentina na Copa de 1990, a seleção brasileira foi campeã mundial após 24 anos, em 1994, nos Estados Unidos. O cartola teve o mérito de manter o técnico Carlos Alberto Parreira no comando do time mesmo com as críticas da imprensa e com os maus resultados nas eliminatórias. Ricardo Teixeira ainda veria o Brasil ser pentacampeão em 2002, na Copa do Japão e da Coreia do Sul. | |
O voo da Muamba Na volta dos Estados Unidos após a conquista em 1994, Ricardo Teixeira foi acusado de pressionar um funcionário do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, a liberar, sem vistoria, cerca de 13 toneladas de bagagens da seleção brasileira. A carga fora reforçada com eletrodomésticos trazidos por jogadores, cartolas e convidados. Depois que a administração fiscal determinou a liberação apenas das bagagens de mão, Teixeira teria condicionado o desfile dos jogadores à liberação das mercadorias, o que ocorreu sem qualquer controle da administração. Em 2009, o cartola foi condenado pela Justiça em primeira instância e teve seus direitos políticos cassados por três anos. O processo ainda corre em segunda instância. | |
A Nike e as CPIs Em 1996, o jornal Folha de S.Paulo denunciou que a CBF perdera parte de seu controle sobre a seleção brasileira ao assinar contrato com a Nike. A multinacional de artigos esportivos impedia a seleção de marcar os jogos e de escolher os adversários. Obrigava o uso da marca Nike até pelos gandulas. Em 2000 e 2001, Ricardo Teixeira foi o principal alvo da CPI do Futebol, instalada no Senado, e da CPI CBF-Nike, instalada na Câmara dos Deputados para analisar o contrato com a empresa norte-americana. O cartola foi acusado de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, apropriação indébita e evasão de divisas. No final, os parlamentares o absolveram de todas as acusações. | |
A Copa no Brasil Após 64 anos, o Brasil voltará a sediar a Copa do Mundo, em 2014. Este talvez seja o maior feito da carreira de Ricardo Teixeira. O cartola, junto com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, são tidos como os maiores responsáveis no país pela escolha da Fifa. Após o anúncio, em outubro de 2007, Teixeira afirmou que esta seria a "Copa da iniciativa privada", com a menor quantidade possível de injeção de recursos públicos na preparação do país. Sua profecia não se concretizou. Até agora, só em dinheiro federal, mais de R$ 30 bilhões já foram empenhados. |