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Copa 2018

Estádio de jogo do Brasil foi palco de tragédia escondida pelo comunismo

Detalhe do memorial em homenagem aos mortos na tragédia do estádio Luzhniki - Reprodução/Spartakworld.ru
Detalhe do memorial em homenagem aos mortos na tragédia do estádio Luzhniki Imagem: Reprodução/Spartakworld.ru

Danilo Lavieri e Dassler Marques

Do UOL, em Moscou (Rússia)

22/03/2018 04h00

Sede da final da Copa do Mundo de 2018, o estádio que receberá o jogo entre Brasil e Rússia, às 13h (de Brasília) desta sexta-feira, foi palco da maior tragédia esportiva da história. Pelo menos é o que diz a versão mais difundida da tragédia, segundo a qual mais de 350 pessoas morreram no estádio que na época era chamado de Central Lênin e que, hoje em dia, é conhecido como Luzhniki. 

O triste episódio se passou no dia 20 de outubro de 1982, no jogo entre Spartak e Haarlem, da Holanda, pela Copa da Uefa. Na época, o regime comunista tentou esconder o fato e deu pequenas linhas nos jornais da época tratando o episódio como um incidente qualquer. A imprensa internacional, no entanto, investigou o tema e descobriu que cerca de 350 pessoas haviam morrido. Ainda assim, a história russa diz que a catástrofe vitimou apenas 66 pessoas. Esse é, inclusive, o número apresentado pelo guia oficial do estádio.

Também na tentativa de acobertar o caso, os comunistas retiraram os corpos das vítimas o mais rápido possível do local. Foi permitido que cada família se despedisse de seus entes queridos por no máximo uma hora antes do enterro e todos os jogos no estádio até o fim do ano foram cancelados para evitar que tributos fossem prestados e a tragédia viesse à tona. 

O UOL Esporte conversou com jornalistas e torcedores russos e ouviu que, hoje, o caso passou a ser mais comentado, com direito até a algumas homenagens prestadas quando a tragédia comemora aniversário. O tema ainda é tabu para parte da população e os mais novos têm pouco conhecimento da história. Fisicamente, a única lembrança do ocorrido é um monumento, na área do estádio, que recebe flores nas datas comemorativas e onde alguns eventos especiais são celebrados.

Tragédia teve a ver com o frio

Por causa do frio extremo, apenas 25% das arquibancadas estavam sendo usadas. Assim, os policiais fecharam todos os outros acessos e até misturaram torcedores das duas equipes no mesmo setor.

Além de afugentar os torcedores, a temperatura abaixo de zero havia transformado todo o piso em pedras de gelo extremamente escorregadias. Qualquer deslize nas escadas seria fatal. E foi justamente o que aconteceu.

Com o jogo caminhando para o seu fim, com o placar apontando 1 a 0 para os russos, parte dos torcedores começou a se retirar. Nos acréscimos, Sergei Shvetsov marcou o segundo para o Spartak e promoveu uma correria nas arquibancadas.

Único jogador ocidental a defender o Spartak na época do comunismo, Jim Riordan, que faleceu em 2012, relatou ao jornal britânico The Guardian que Shvetsov falou mais de uma vez que preferia não ter marcado aquele gol. Em sua autobiografia, ele conta detalhes.

Cristiano Ronaldo comemora a conquista da Liga dos Campeões de 2008, pelo Manchester United, no estádio Luzhniki, em Moscou - Alex Livesey/Getty Images - Alex Livesey/Getty Images
Cristiano Ronaldo comemora a conquista da Liga dos Campeões de 2008 no estádio Luzhniki
Imagem: Alex Livesey/Getty Images

Na hora da comemoração, os que já estavam fora das arquibancadas ouviram o “rugido” dos que optaram por ficar até o apito final e tentaram voltar para suas cadeiras para fazer parte da festa. Por um motivo desconhecido até hoje, os policiais da época não permitiram o retorno. Pior: optaram por fechar o acesso, o que espremeu as centenas de pessoas no mesmo lugar em um túnel escuro.

Vários deslizaram no piso e caíram. Os que vinham atrás não conseguiram parar e foram pisoteados de forma cruel. Com a aglomeração, alguns ainda caíram pelos vãos das passarelas de uma altura que era fatal.

Há relatos em diversos jornais de que torcedores que ficaram nas arquibancadas começaram a ouvir os gritos de desespero e até mesmo o barulho da queda dos corpos. Os que conseguiam se salvar se seguravam nas grades e evitavam estender a mão aos outros para não se tornar mais uma vítima. 

Com uma “nova cara” para a Copa do Mundo, o estádio mudou até de nome em relação àquela época. A reforma custou quase R$ 2 bilhões e rendeu o título de arena do ano. A troca de nome, inclusive, deixa Lenin de lado e faz parte da “limpa” que a Rússia tem feito com tudo relacionado à figura comunista.

O estádio também já recebeu Olimpíada e final de Liga dos Campeões na temporada 2007/08. Cristiano Ronaldo, aliás, colocou a primeira grande estrela de seu vasto currículo ali, quando ganhou a maior competição de clubes do planeta com sua carreira estrelada com o título pelo Manchester United naquela temporada, neste mesmo estádio.

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