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Copa 2018

De maior da história a criticado. Por que Neymar não é unanimidade em Paris

Neymar se apresentou ao time de Tite. Seleção brasileira fará amistosos contra o Japão e Inglaterra - Pedro Martins / MoWA Press
Neymar se apresentou ao time de Tite. Seleção brasileira fará amistosos contra o Japão e Inglaterra Imagem: Pedro Martins / MoWA Press

João Henrique Marques e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em Paris (França)

08/11/2017 04h00

A tarde de 5 de agosto de 2017 se mostrava histórica para Neymar. Maior contratação da história do PSG e jogador mais caro do futebol mundial, o brasileiro chegava a Paris e alcançava o protagonismo que queria. Uma cidade aos seus pés e fãs eufóricos com o camisa 10. Três meses depois, o cenário é diferente. A bajulação inicial passou a dividir espaço com críticas e a unanimidade já não existe. Nas arquibancadas, nas ruas e na imprensa, o questionamento está acima do normal e já incomoda seu estafe.

Anfitrião e principal estrela da seleção em Paris, Neymar nem sequer foi tietado quando se apresentou no hotel que serve de concentração para o grupo, na última segunda. A recepção fria era só mais um episódio surpreendente na relação entre jogador e cidade, que parecia quente nos primeiros dias.

O primeiro questionamento surgiu logo na chegada. A homenagem planejada pelo PSG na Torre Eiffel, com iluminação nas cores do clube, foto e o nome do jogador foi criticada por dois deputados. Era uma amostra a Neymar da dificuldade de agradar a todos os parisienses.

A queixa foi levada ao governo pelos parlamentares dispostos a impedir homenagens sem a aprovação geral. "É qualquer coisa", disse o senador Yves Pozzo Di Borgo, conselheiro de Paris e administrador da Torre Eiffel, que teve a companhia do político Yves Jégo nas críticas.

No balanço de agosto das contas públicas, consta um pagamento de 50 mil euros do PSG pela homenagem. “A iniciativa poderia ser debatida. Neymar é um jogador importante, claro. Mas a partir disso virar meio de propaganda na torre é demais”, completou Di Borgo.

“Isso não custou nada ao contribuinte, a instalação foi totalmente financiada pelo clube de Paris. A Torre Eiffel regularmente comemora eventos esportivos. No mesmo espírito, foi iluminada para a Eurocopa e a Copa do Mundo de Rúgbi”, publicou o governo em defesa da ação.

Relação com torcida e mídia

Neymar Fifa - Eddie Keogh/Reuters - Eddie Keogh/Reuters
Neymar concede entrevista na premiação de melhor do mundo da Fifa
Imagem: Eddie Keogh/Reuters

Nas ruas em Paris, foi fácil perceber a euforia com a chegada de Neymar. As mais de 10 mil camisas colocadas à venda na loja oficial no primeiro dia foram esgotadas. Por dias, os principais pontos de venda permaneceram com grandes filas.

A recepção da torcida no Parque dos Príncipes foi com adaptação da música “Aquarela do Brasil”, ao som de “Neymar, Neymar”. A versão foi a mesma utilizada para destacar o meia Raí, um dos principais ídolos da história do clube, nos anos 1990.

No estádio do PSG, Neymar jamais foi vaiado, mas passou pelo constrangimento de ouvir parte dos torcedores gritando “Cavani, Cavani” ao ver o brasileiro ser o escolhido para cobrar o pênalti em duelo contra o Bordeaux, no dia 30 de setembro – o PSG venceu o jogo por 6 a 2.

A disputa pelas cobranças de pênaltis, inclusive, desencadeou uma série de reações. Na briga com Cavani, a pesquisa do jornal esportivo francês "L’Equipe" trouxe o uruguaio como o preferido da torcida pelo posto com 65%. Neymar ficou com os 35% restantes. O atrito com o uruguaio ainda proporcionou pesadas críticas da imprensa local. O jornal “Le Parisien” exibiu reportagem de capa intitulada “a face oculta de Neymar”. Os ataques em rádios e reportagens do dia a dia do PSG aumentam.

“O público francês descobriu quando e como encontrar a face escondida no rosto infantil de Neymar. Aquela na qual o sorriso desaparece para dar lugar a uma certa raiva, que em alguns momentos pode se expressar de forma desajeitada, como o capricho realizado por querer cobrar um pênalti. Longe de ser o primeiro de sua carreira” cita passagem do texto.

L'Equipe - Reprodução/L'Equipe - Reprodução/L'Equipe
Imagem: Reprodução/L'Equipe
Nesta quarta (8), mais polêmica. O L'Equipe estampa em sua capa os problemas entre Neymar e o técnico do PSG, Unai Emery. "Neymar, a estrela, apoia cada vez menos Unai Emery, o treinador. E manifesta isso cada vez mais", diz a publicação, dando o tom das polêmicas recentes no time da cidade.

O relacionamento ruim com Cavani transformou Neymar independentemente do desempenho em campo. Foi o caso com Christophe Dugarry, ex-jogador da seleção francesa e do PSG e atualmente comentarista da rádio francesa RMC. “Neymar é insuportável. Já é a estrela do PSG, que venceu o Campeonato Espanhol, a Liga dos Campeões e tudo mais... Mas ele é um grande jogador que vai se tornar o técnico do PSG, não por seu valor de 222 milhões de euros, e sim porque o técnico Unai Emery não intervém. Caso ele não faça uma intervenção, Neymar vai trocar o treinamento e escolher o time”, disse Dugarry.

Neymar Cavani - Benoit Tessier/Reuters - Benoit Tessier/Reuters
Neymar já se desentendeu com Cavani no PSG
Imagem: Benoit Tessier/Reuters

No elenco, o camisa 10 segue com o apoio dos principais líderes, mas novamente não há um cenário de unanimidade. Além de Cavani, alguns nomes de menor expressão também passaram a se incomodar com o jogador pelo fato dele alimentar a disputa interna.

Parceiro de Neymar e um dos principais conselheiros quando o assunto é adaptação à nova cidade, o zagueiro Marquinhos comentou o cenário atual. “Ele acaba sendo um alvo, não tem como. Neymar não vai ser unânime. Tem aqui os que gostam, os que não gostam, aqueles que criticam. O importante é ele ter personalidade e buscar ser importante para o time e para a seleção”, frisou o zagueiro titular do PSG e do time canarinho.

Um foco de insatisfação também atingiu parte da diretoria do time da capital francesa. Alguns responsáveis pelo futebol não gostaram da multa de 40 mil euros (cerca de R$ 160 mil) - valor também inclui punição por sinalizadores utilizados pela torcida - imposta pela Uefa ao clube por conta de atrasos na entrada em campo e volta do intervalo em duelo contra o Bayern de Munique. Todos internamente sabem que o camisa 10 acaba sendo o responsável pela demora da equipe. O fato ocorria com frequência no Campeonato Francês e acabou virando multa e foco de desgaste na Liga dos Campeões.

Ainda assim, ele tem o apoio da alta cúpula, especialmente do dono do clube. Como revelou a coluna De Primeira, do UOL, nesta quarta, por exemplo, o PSG dispensou um patrocinador para arrumar espaço para um camarote do seu camisa 10 no Parque dos Príncipes.

Com a bola rolando, Neymar tenta manter o bom futebol e espantar possíveis questionamentos fora das quatro linhas. Com os títulos da Liga dos Campeões e do Campeonato Francês na mira para se tornar o melhor jogador do mundo, o atacante tem 11 gols marcados em 12 jogos pelo PSG - 11 vitórias e um empate. Tal desempenho ainda intimida críticas mais duras.

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