12/07/2010 - 13h00

Espanha esquece disputas regionais e comemora com seleção mesclada

Flavia Perin e Gustavo Franceschini
Em São Paulo
  • Puyol e Xavi carregam uma bandeira da Catalunha; regionalismo perdeu força com a seleção campeã

    Puyol e Xavi carregam uma bandeira da Catalunha; regionalismo perdeu força com a seleção campeã

A Espanha campeã mundial esqueceu, ao menos por um dia, seus problemas políticos internos. Historicamente marcado por conflitos separatistas e grande diversidade cultural, o país esqueceu as suas disputas para celebrar uma seleção com representantes de várias regiões e marcada pelo talento.

O processo é crescente na Espanha, e não se restringe ao futebol. Regiões como a Catalunha e o País Basco, por exemplo, têm características culturais distintas de Madri e outras províncias. Também por isso, brigam pelo direito de serem nações independentes.

O orgulho nacionalista vem sendo, nos últimos tempos, substituído por um projeto de Espanha unificada. As manifestações de orgulho regional, no entanto, ainda se destacam.

No último sábado, por exemplo, cerca de 1,1 milhão de pessoas foram às ruas de Barcelona pela causa catalã. Os manifestantes defendiam o estatuto de autonomia ampliada da região, aprovado em 2006, que garantia, entre outras coisas, o uso do termo “nação” como referência à Catalunha.

Um dia depois, porém, todos se uniram à Fúria. Os 23 jogadores comandados por Vicente Del Bosque se dividem entre Catalunha (7), Madri (3), Andaluzia (3), Navarra (2), Castela (2), Ilhas Canárias (2), Astúrias (1), Albacete (1), País Basco (1) e Valência (1), o que aumenta a comoção pelo título deste domingo.

“Eu ainda tenho muito contato com a Catalunha porque a minha família está lá. Nós estamos todos torcendo para a Espanha. As coisas políticas ficam de fora. O catalão é muito fanático, vai às ruas. E acho que o título também vai ser benéfico para todo o resto”, disse Carina Pajés, filha de catalães, que vive no Brasil e é dona de casa.

“A Espanha está totalmente parada hoje. E eu não posso falar que é só nas Astúrias. É uma coisa inédita, em que quase ninguém está acreditando. Não é porque sou espanhol, mas é o melhor futebol do mundo”, disse Ramon Alonso, de 68 anos, que é asturiano e vive no Brasil há 48 anos.

Diretor de Cultura da Sociedade Hispano-Brasileira em São Paulo, Fernando Vidal acredita que a vitória da seleção espanhola ajuda a unir o país. “No passado, tentaram assassinar, eliminar as culturas regionais para unificar a Espanha. Um erro.”

“A Copa faz com que lembremos da nossa infância, das nossas raízes, de aspectos culturais”, afirmou Vidal, que é filho de galegos e dá aulas do idioma galego e de gaita de fole – instrumento popular na Galícia e nas Astúrias.

A repercussão do título na imprensa local comprova a teoria. Assim como os madrilenhos Marca e AS, os catalães Mundo Deportivo e Sport exaltaram a Espanha como um todo, sem destaque exagerado aos jogadores do Barcelona.

O El Correo, do País Basco, também ignorou as questões políticas ao tratar do título. Os jornalistas da região, que tem Xabi Alonso como representante, ressaltaram as qualidades técnicas da seleção. Ao contrário do resto do país, porém, os bascos ainda evitam tratar a Fúria como “sua”.

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