11/07/2010 - 20h01

Identidade barcelonista da seleção faz Catalunha 'reivindicar' parte do título

Alexandre Sinato, Bruno Freitas e Mauricio Stycer
Em Johanesburgo (África do Sul)

O inédito título da Copa do Mundo da seleção espanhola conquistado neste domingo com a vitória por 1 a 0 sobre a Holanda na prorrogação teve como uma marca inegável a contribuição do Barcelona, que colaborou com homens-chave do time e com a filosofia de jogo no histórico êxito sul-africano da equipe dirigida pelo técnico Vicente del Bosque.

O ESQUADRÃO CATALÃO DA FÚRIA

  • AP

    Meia Xavi Hernandéz dá volta olímpica no estádio Soccer City carregando uma bandeira da Catalunha

  • AFP

    Com forte identificação com a Catalunha, zagueiro Puyol defende o Barcelona há mais de uma década

Mais bem-sucedida e badalada equipe do futebol europeu dos últimos anos, o Barcelona emprestou à seleção de Del Bosque uma boa parte de seu DNA de ofensividade, jogo coletivo e devoção à técnica na criação do meio-campo. Tudo isso sempre garantido pela presença de um pelotão de blaugranas em campo.

Durante o Mundial, a seleção espanhola contou sempre com pelo menos cinco jogadores do Barcelona no gramado - este número chegou a sete em algumas oportunidades. A linha de defesa titular é a mesma da equipe catalã, com Puyol e Piqué. O meio-campo contou com o decantado entrosamento de Busquets, Xavi e Iniesta. Por fim, na frente, a Fúria celebrou os gols do artilheiro da Copa David Villa, contratado pelo Barça pouco antes do Mundial, e com a juventude de Pedro.

Na final no Soccer City, o herói também foi barcelonista: brilhou a estrela de Iniesta, autor do gol do título na prorrogação diante dos holandeses.

Em contrapartida, o Real Madrid, time de imagem intimamente ligada à coroa espanhola, colaborou na conquista com menos nomes: dois reservas, além dos titulares Casillas, Sergio Ramos e Xabi Alonso.

A contribuição catalã no título vai além do 'fator Barcelona'. Do grupo de 23 jogadores campeões na África do Sul, sete atletas nasceram na Catalunha: Busquets, Piqué, Valdés, Fàbregas, Capdevila, Xavi e Puyol. Estes dois últimos exibiram a bandeira da região na comemoração do título.

Na manhã do dia da final, os jornais esportivos da Catalunha enfim deixaram de lado a cobertura política do Barça para se render ao sucesso da Fúria na África do Sul. No entanto, trataram a decisão contra a Holanda de uma forma bem particular, creditando ao time atual campeão nacional boa parte dos méritos pelo êxito da seleção.

Para o diário El Mundo Deportivo, a Espanha chegou longe na Copa usando "a filosofia de jogo do Barcelona", ilustrando sua capa do dia com foto dos barcelonistas Xavi, Puyol e Villa. Com o título no fim do domingo, o mesmo jornal usou a manchete "Iniestazo" em sua versão digital, valorizando o jogador local.

O diário Sport seguiu a mesma linha, ilustrando sua primeira página com o mesmo trio de jogadores. "Querem esta Copa", estampou o jornal, em menção insinuada de que os atletas em questão já ganharam outras tantas pelo Barça. Ao fim da partida, o mesmo veículo publicou em sua versão online: "é um triunfo de todos os jogadores, mas em grande parte dos oito jogadores do Barcelona", em conta que leva em consideração o goleiro reserva Valdés.

Política misturada com esporte
A relação historicamente difícil da região autônoma da Catalunha com a unidade espanhola se fez sentida durante a Copa do Mundo, com o sentimento separatista despertado, além do conhecido uso do time do Barcelona como instrumento de debate regional.

A relação conturbada entre catalães e o resto do Espanha se tornou mais aguda dede junho passado, quando o Tribunal Constitucional do país declarou como inconstitucionais 14 artigos do Estatuto de Autonomia da Catalunha, documento de 2006 que regulamenta competências do governo local, que posteriormente havia sido referendado em consulta popular.

Coincidentemente na véspera da decisão da Copa, mais de um milhão de pessoas foram às ruas de Barcelona em passeata para protestar contra esta decisão do tribunal, em manifestação que acabou tendo caráter separatista.

Mesmo com este cenário, a imprensa local divulgou nos últimos dias que a torcida catalã aderiu de vez à empolgação pela campanha da Fúria na Copa. Na edição de domingo do El País, o jornal mais importante da Espanha, foi divulgada uma relação de onde a decisão poderia ser vista. A Catalunha era a região espanhola com maior número de telões, com nove, superando inclusive a capital Madri. Outro recanto separatista, o País Basco também figurava na lista.

Precisos ou não, os relatos de integração de regiões da Espanha chegaram à África do Sul e serviram como uma forma de motivação para a equipe na reta final da Copa do Mundo.

"Estes acontecimentos são bons para que a Espanha relativize tudo e para que haja uma melhor relação entre comunidades e culturas. É um orgulho que este Mundial faça um bem contra o radicalismo", declarou o técnico Vicente del Bosque na véspera da final.

A declaração do treinador foi motivada por uma manchete do jornal As, de Madri, após a vitória sobre a Alemanha na semifinal. O título "Visca España!" utilizou a palavra catalã "visca" (viva) para destacar a presença massiva de jogadores da Catalunha na equipe, mas manteve o "España" ao invés de "Espanya" para demonstrar a união do país.

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