Joern Pollex / Getty Images

Após infância difícil com irmão, Cacau faz seu gol contra a Austrália na Copa do Mundo

10/07/2010 - 13h59

Após fome e frustrações, irmão mira sucesso de Cacau: "Dizem que sou melhor"

Luiza Oliveira
Em São Paulo

Os irmãos Vlademir e Claudemir brincaram de bola juntos desde crianças e superaram a infância pobre para seguirem o caminho do futebol. O caçula conseguiu sucesso mais cedo ao se transferir para a Alemanha e chegar à Copa do Mundo com a seleção nacional. Já o mais velho passou por vários percalços na trajetória, mas aos 30 anos quer aproveitar o sucesso de Cacau para tentar engrenar pela última vez.

Depois de passar por clubes de menor expressão no Brasil e até no futebol alemão e turco, Vlademir quer ‘queimar a meia’ antes de pendurar a chuteira. Por isso, se espelha no irmão que chegou à semifinal da Copa e ainda marcou um gol pelos germânicos, uma vitória para o humilde garoto negro de Santo André em um país marcado pela maior história de racismo da humanidade.

  • Arquivo pessoal

    Vlademir chegou ao Nuremberg depois da saída do irmão, em 2003, mas teve poucas chances

  • Ina Fassbender/Reuters

    Cacau comemora gol no Alemão contra o Bochum pelo Stuttgart, onde atua desde o ano de 2003

  • Depois de dez anos no país, Cacau se naturalizou alemão em 2009, ano de sua estreia na seleção

“Tenho muito orgulho. Ele aproveitou as oportunidades e chegou ao ápice. Acho que esse sucesso na Copa pode me ajudar, apesar de saber que o potencial é o que realmente importa. Mas tenho talento, todo mundo fala, muita gente diz que sou melhor que ele. É minha última chance”, disse o meia-atacante que considera seu estilo ‘mais técnico’ que o do irmão, que prima pela explosão.

Diferentemente de Cacau, Vlademir conheceu o lado pouco glamouroso do futebol com falsas promessas e enganações. Em 2008, chegou a fechar com um clube chinês confiando em um empresário sérvio, mas assim que chegou foi dispensado porque já haviam contratado outro estrangeiro da mesma nacionalidade do treinador.

Na cidade de Trabzon, na Turquia, conviveu com o atraso de salários. Na volta para o Brasil, encontrou mais dificuldades ao atuar no Juventus. Ficou treinando sem contrato assinado até o início do campeonato, segundo ele, uma prática comum para o clube da Mooca gastar menos.

Para piorar, próximo ao início da Copa Paulista de 2009, sofreu uma lesão muscular que o tiraria dos primeiros jogos da equipe. Diante disso, a diretoria desistiu de tê-lo no elenco por não poder atuar nos primeiro jogos.

Diante das frustrações, o jogador acredita que ao menos aprendeu com a experiência. “É estranho. As coisas não aconteceram da melhor maneira. É decepcionante, a gente sonha em chegar ao topo e permanecer, mas nem sempre é possível. O que consola é que ninguém fica no topo sempre, nem o Ronaldo, que teve problemas com lesões. A gente tem que pensar que é fase e não dura para sempre”, disse.

A melhor chance que Vlademir teve na carreira foi no futebol alemão quando atuou no Nuremberg. Ele chegou pouco depois de o irmão se transferir para o Stuttgart, o que gerou uma grande pressão por ser seu substituto. De lá tem boas lembranças ao atuar contra o badalado Bastian Schweinsteiger, do Bayern de Munique, na Copa da Alemanha e ao lado de Stefan Kiessling, também da seleção alemã, e de Robert Vittek, que fez um bom Mundial pela Eslováquia.

Mas um desentendimento com o técnico Wolfgang Wolf prejudicou seus planos, tendo que amargar a reserva diante das oportunidades escassas e do pouco tempo para adaptação com o idioma e a cultura local. “Acho que ele deveria olhar com mais carinho, não confiou em mim. Nos amistosos eu fazia dois, três gols e em jogo importante não me colocava. Os jornalistas ligavam para o meu empresário perguntando porque eu não estava jogando”

O sonho ainda é a Europa, mas em centros pouco badalados como Dinamarca e Hungria. Um amigo empresário está estudando propostas até no futebol de Malta para Vlademir se despedir dos gramados. Por isso, desde que se recuperou da lesão em setembro do ano passado, treina sozinho em Mogi das Cruzes para não perder a forma. Depois quer seguir trabalhando no futebol, mas como agente de atletas, o que considera já ter adquirido experiência e contatos suficientes.

As ambições provam que o pior já passou. Vlademir e Cacau tiveram uma infância difícil com o pouco dinheiro da família de pais separados. Chegaram a passar fome e tiveram que escolher entre pagar a passagem do transporte público para os treinos e a comida. “Não tinha comida. Ou a gente pulava a catraca do trem ou ficava se comer”. Mas sempre tiveram o incentivo da mãe Ana, que acreditava que o esporte poderia render um futuro melhor.

A situação só começou a melhorar aos 15 anos quando defendeu o Nacional e ganhava uma ajuda de custo para a família. Mas só quando Cacau foi para o exterior é que a família ganhou uma boa condição de vida, segurança suficiente para Vlademir pensar agora apenas na satisfação em jogar futebol. “Quero mostrar meu potencial. O financeiro é secundário.”

Compartilhe:

    Siga UOL Copa do Mundo

    Placar UOL no iPhone

    Hospedagem: UOL Host