Antonio Lacerda/EFE

O técnico não ganhou o título mundial, mas estabeleceu a filosofia do "dunguismo"

06/07/2010 - 06h00

Os exageros do "dunguismo" em 10 exemplos

Alexandre Sinato e Bruno Freitas
Em Durban (África do Sul)

Em quase quatro anos de trabalho à frente do Brasil, a filosofia dunguista foi erguida em torno de determinados parâmetros negativos estipulados sobre a campanha na Alemanha de 2006. A interpretação de dispersão de foco daquela Copa foi relacionada à abertura excessiva do ambiente de seleção, dentro do diagnóstico da comissão técnica, voltado ao projeto do que deveria ser banido para o grupo da África do Sul em 2010.

Em torno deste conceito de base se desenvolveram uma série de comportamentos que visavam enclausurar a seleção dentro de seu próprio ambiente, a favor de uma unidade de pensamento, com estrutura de funcionamento rígida, quase militar.

Abaixo seguem dez exemplos de comportamentos da ‘era dunguista’ da seleção que fracassou na Copa de 2010, exatamente no mesmo estágio do Mundial anterior (quartas de final), mesmo com todo o antagonismo ideológico entre as preparações brasileiras na Alemanha e na África do Sul.

Orientação de funcionários do hotel para não falar com jornalistas

Em todos os hotéis que a seleção passou pela África do Sul, a postura dos funcionários em contato com a imprensa era de silêncio, até com uma certa dose de temor. A orientação era evitar qualquer tipo de comentário a respeito do ambiente dos brasileiros, mesmo em contatos informais.

Treino só de área designada

Como em qualquer treino de uma equipe importante de futebol do mundo, os profissionais da imprensa que trabalham com a imagem (fotógrafos e cinegrafistas) registram a atividade de um lugar designado. Mas na seleção qualquer pequeno passo além da linha divisória era capaz de provocar uma tensão desnecessária. "Cada centímetro pode virar um problema", resumiu um membro da seleção ao longo da Copa.

Saída rápida dos jogadores de entrevistas

No cotidiano de entrevistas coletivas, o acesso da mídia aos jogadores era exatamente o mesmo, repetitivo. Qualquer esboço de contato pós-entrevista era inibido por um esquema de saída apressada dos jogadores da sala de conferência na concentração em Johanesburgo. Nem uma troca de saudações entre dois conhecidos (jogador e jornalista) era vista com bons olhos. Os atletas saíam sempre escoltados por um funcionário da CBF.

Robinho repreendido por dar exclusiva

Ao longo da Copa, o camisa 11 quebrou um código interno ao conceder entrevista à TV Globo durante uma folga geral do grupo. Repreendido, Robinho teria tido que se desculpar formalmente em frente a todo o elenco da seleção.

Presença de familiares inibida

Em nome do foco no título, os jogadores tiveram a iniciativa de contar com os familiares próximos na África do Sul inibida. Robinho quebrou o acordo com a visita da mulher e do filho em Johanesburgo. Familiares de Elano também foram à África. Mais tarde, o auxiliar Jorginho teria feito o mesmo, fato que causou desconforto no elenco.

Política de uso do Twitter

Antes da Copa os jogadores que têm páginas pessoais no site de relacionamento Twitter foram aconselhados a evitar o dia-a-dia da seleção nas atualizações do microblog. A partir daí, Kaká e Gilberto Silva passaram basicamente a responder comentários de fãs. Já Julio Cesar anunciou antes mesmo do Mundial que daria um tempo no site.

Manutenção da torcida à distância

Antes da Copa, seleções como Alemanha, Argentina e Portugal fizeram treinos abertos ao público. Por determinação da Fifa, o Brasil fez apenas um, no bairro pobre de Soweto, só para moradores locais. Antes, em Curitiba, abriu duas de suas práticas por alguns minutos após protestos da torcida. Três interações em mais 40 dias. No país da Copa, o contato com o torcedor foi praticamente nulo. No último dia na África, um menino de sete anos foi impedido pela segurança de entregar um desenho a Kaká (a homenagem acabaria entrando no hotel pelas mãos de uma hóspede).

Centralização da diplomacia em Dunga

Nos dias da seleção antes da Copa já em território sul-africano, a seleção foi homenageada de diversas formas, em solenidades, ou mesmo em ocasiões mais informais. Em todas elas o representante da equipe foi o técnico Dunga, nunca os jogadores: sessão pública em escola, encontro com familiares de Mandela, fotos com crianças do Soweto.

Repetição dos treinos fechados

Nunca antes na história uma seleção brasileira usou tanto a iniciativa de fechar treinamentos antes de jogos da Copa, mesmo para o jogo contra a Coreia do Norte. O expediente causou desconforto com parte da imprensa e, pior, chegou a provocar "puxão de orelha" informal da Fifa, contra o exagero. Por norma da entidade, as equipes podem fechar um treino apenas antes de cada partida do Mundial. E, nestas sessões, a imprensa deve ter acesso a 15 minutos de prática.

Preparação física se cala

O preparador Paulo Paixão falou com a imprensa no primeiro dia de preparação da seleção, ainda em Curitiba. Depois disso, apesar das solicitações existentes para que o profissional fosse ouvido a respeito das condições de Kaká e de outros jogadores, nunca mais a "área" se pronunciou na Copa. Em contrapartida, quase todos os membros da comissão técnica foram à tribuna de conferência, do preparador de goleiros Wendel Ramalho ao observador Taffarel.

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