Envoltos em uma enorme bandeira com a imagem da Virgem de Guadalupe, um grupo de mexicanos rezava fervorosamente por um milagre, enquanto em outro canto das arquibancadas, cinco argentinos seguidores da Igreja Maradoniana invocavam a “Mão de Deus” para conseguir o triunfo.
Cenas como essas ocorreram na noite de domingo no estádio Soccer City, em Johanesburgo, onde a Argentina derrotou o México por 3 a 1 e avançou às quartas de final da Copa do Mundo, onde enfrentará a Alemanha, no próximo sábado.
O futebol é uma religião, com milhões de seguidores em todo o mundo. E como toda religião nascida da fé, tem muitas denominações. É o que ocorre na Argentina, com os fiéis seguidores do “Deus Diego” e sua Igreja Maradoniana.
“Antes de irmos para o estádio, rezamos para que o Deus Diego nos agracie com mais um milagre no Mundial. Vestimos uma camisa, pegamos uma cuia com mate e cruzamos os dedos”, disse Alfredo Alessio, jovem torcedor com a bandeira do país pintada em sua face. Ele e sua noiva, Mariam, com mais três amigos, assistiram ao jogo ao lado da área de imprensa, e ficaram o tempo todo agarrados a um retrato pintado de Maradona com uma auréola dourada sobre sua cabeça.
“Somos da Ingreja Maradoniana de Olavarría (província de Buenos Aires). Nossa religião é o futebol e nosso único deus é Diego”, gritou Marcelo, com a cara também pintada nas cores azul e branca.
E para não deixar dúvidas, entra risos e zombarias, recitam o salmo que identifica os “maradonianos”. A religião foi criada em 1998 por três amigos fanáticos por Maradona, e sua propagação deu-se pela Internet.
“Obviamente que isso é uma piada, mas nos diverte. E futebol é paixão e diversão”, explica Alfredo.
Diego nosso que estás no campo.
Santificada seja a Vossa canhota.
Venha a nós a Vossa magia.
Recordai-nos de Vossos gols tanto na Terra como no Céu.
Dai-nos hoje a magia de cada dia.
Perdoai os ingleses como nós perdoamos a máfia napolitana.
Não nos deixeis cair em impedimento, mas livrai-nos de Havelange e Pelé.
Diego.
Já do lado de fora do estádio, após o jogo, outro pequeno grupo de mexicanos passava envolto em uma bandeira tricolor com a imagem da Virgem de Guadalupe, Patrona da Cidade do México. Tristes pela derrota, eles garantiram ter gostado da partida e reconheceram o esforço dos jogadores.
“Mais uma vez, jogamos como nunca e perdemos como sempre, mas a Argentina tem uma grande equipe”, disse Anael Irizondo, que viajou de Águas Calientes (no Peru, onde vive) até a África do Sul, utilizando uma poupança que juntou por dois anos.
“Não há nada para fazer. Rezamos e torcemos o jogo inteiro, mas a bola não quis entrar no gol da Argentina”, lamentou Carlos, amigo de Anael.
No México, o futebol está muito ligado à religião. Está viva na memória dos torcedores a imagem do artilheiro Alberto García Aspe mostrando uma camiseta da Virgem de Guadalupe após marcar um gol, e também de Hugo Sánchez sempre se benzendo ao estufar as redes. Antes de viajarem para a Copa, os jogadores receberam uma missa especial organizada pelo arcebispo da Cidade do México, cardeal Norberto Rivera.
Desde o começo dos tempos, o futebol funciona como uma religião. Apesar de, segundo as palavras do antropólogo francês Christian Bromberger, “não contribuir para nenhuma salvação”, para milhões de pessoas o esporte alegra a alma e compensa as decepções.
“Tudo bem que comparem estádios com santuários, e que exista muita afinidade entre a paixão pelo futebol e a religião. Há, de fato, um espaço consagrado (o campo), sacerdotes (os jogadores) e paroquianos com seus gestos codificados similares a uma série de atitudes religiosas‘, escreveu Bromberger em estudos anteriores.
“Creio, porém, que exista uma diferença da religião, pelo fato de que o futebol não passa nenhuma mensagem sobre salvação”, salientou o estudioso.
Brincadeiras à parte, não há como não deixar de notar a semelhança entre a paixão pelo esporte e a fé religiosa. Por mais que a Fifa proíba qualquer menção em campo, como mostrar camisas com mensagens espirituosas, a fé dos torcedores é o que movimenta o futebol no mundo inteiro e não são poucos os jogadores que atribuem seus feitos à ajuda que vem lá de cima.
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