Saudosos de 1950, uruguaios vivem euforia por chance de fazer história na Copa

Na fronteira com o Brasil, a cotação do peso uruguaio frente ao real é de dez para um, o que provoca uma avalanche de brasileiros à procura dos free shops de Rivera, vizinha a Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul. A disparidade, porém, é compensada pelo número cada vez maior de camisetas e bandeiras celestes dividindo espaço com o verde-amarelo. Sem disputar a fase de oitavas de final desde a Copa do Mundo de 1990, os uruguaios estão eufóricos com a possibilidade de voltarem a fazer história.

“Há neste momento uma alegria e uma certa euforia, precisamente por isso. Nós, os mais velhos, nos demos conta de que há uma quantidade de gente que nunca teve a satisfação de dizer bueno, o Uruguai se classificou em um Mundial”, diz o experiente radialista Victoriano Cabrera, 80 anos.

No dia 16 de julho de 1950, enquanto Brasil e Uruguai se enfrentavam na final da Copa do Mundo no Maracanã, Cabrera narrava uma partida pelo campeonato municipal de Rivera. Mas a cabeça estava longe, escutando por um rádio o que se passava no Rio de Janeiro.

Com o primeiro gol uruguaio, marcado por Schiaffino, a partida em Rivera foi interrompida. “Não foi nem o juiz que suspendeu. Os jogadores saíram e o jogo terminou. Agora nos damos conta que era um disparate marcar uma partida quando se estava jogando essa final”, lembra Cabrera, que após o "Maracanazzo" liderou uma carreata pelas ruas de Rivera até a divisa com Livramento. Sem nenhum incidente com os brasileiros, orgulha-se.

O sentimento com atual selecionado uruguaio nem de longe lembra a empolgação de 1950, mas os torcedores uruguaios confiam que o time treinado por Oscar Tabárez possa chegar à melhor colocação em décadas.

“Há uma euforia muito grande pelo momento do Uruguai. Esta é a melhor seleção que poderíamos ter”, afirma o jornalista Andrés Cuello, locutor das rádios Internacional, de Rivera, e Oriental, de Montevidéu.

Chance de fazer história

Antes de 1990, o Uruguai foi quarto colocado no Mundial de 1970. Mas a Celeste Olímpica, como ficou conhecida após as medalhas de ouro nos Jogos de 1924 e 1928, que conquistou as Copas de 1930 e 1950, hoje não passa de uma memória no país, da qual muitos apenas ouviram falar.

“A maioria das gerações não viu 1950. Os uruguaios recordam com carinho, mas ninguém viu, ninguém escutou aquela partida. Aquela geração já não está mais aqui, inclusive vários jogadores morreram sem glória, sem dinheiro”, lamenta Cuello.

O otimismo, agora, está nos pés de um considerável grupo de jogadores que militam em bons clubes da Europa – apenas Egidio Rios atua no futebol local. Muslera (Lazio), Diego Lugano (Fenerbaçhe), Diego Forlán (Atlético de Madrid) e Luis Suárez (Ajax) embalam as esperanças uruguaias na Copa, reforçadas pelo bom trabalho do treinador Tabárez, visto como grande responsável pelo bom momento da Celeste.
O Uruguai enfrenta a Coreia do Sul às 11h deste sábado pelas oitavas de final da Copa do Mundo. O sentimento geral é de que finalmente o Uruguai tem um time competitivo e pode ir mais longe nesta Copa.

“Há uma esperança, mas ninguém diz que sairemos campeões. A esperança é de que façamos uma boa participação. O Uruguai tem um excelente time e um excelente treinador. Mesmo com grandes jogadores, o time trabalhou com muita humildade, o que fez com que chegasse a este momento. Estou seguro que vamos conseguir algo mais”, afirma Cabrera, pertencente ao cada vez mais diminuto grupo de uruguaios que pôde comemorar um título mundial.

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